A fama de Auguste Saint-Hilaire não teve a projeção da
de seu irmão Geoffroy, o continuador de Lamarck; o seu nome
não figura, como o do outro, em todas as enciclopédias. Para
nós, entretanto, a memória que importa, a que nos deve ser
sobremodo cara é a do irmão menos ilustre. Nenhum estrangeiro
deixou entre nós lembrança mais simpática.
Roquete Pinto narra o encantado interesse com que na
fazenda dos seus avós devorava, adolescente, as páginas das
Viagens. “Os livros de Auguste Saint-Hilaire", diz ele, “leem-se
aos quinze anos como se fossem romances de aventuras, tão
pitorescos são os aspectos e a linguagem que neles se
encontram." E assinala o grande carinho, a bondade, a tão justa
medida no louvor e na crítica das nossas coisas.
Essa obra formidável do sábio francês representa seis
anos de viagens pelo nosso interior através de regiões muitas
vezes inóspitas. Pelo desconforto dos nossos dias, apesar das
estradas de ferro e do automóvel, podemos avaliar as
dificuldades e fadigas de uma jornada a Goiás em 1816. Em
dezembro de 1816 Saint-Hilaire partiu para Minas, que
atravessou de sul a norte, furando depois até Boa Vista, então
capital de Goiás.
Três vezes voltou Saint-Hilaire ao interior do Brasil: em
1818 ao Espírito Santo, onde percorreu as regiões mal-afamadas
do rio Doce; em 1819 através de São Paulo, Paraná
e Santa Catarina, até a Cisplatina; finalmente em 1822 a São
Paulo por uma larga digressão ao sul de Minas. Ao todo 2.500
léguas!
Por tudo isso, por tantos trabalhos, por tanta abnegação,
tão lúcido afeto e simpatia, e para diferenciá-lo do irmão, mais
mundialmente glorioso, podemos chamar Auguste Saint-Hilaire
o “nosso" Saint-Hilaire.
Escrevia sem sombra de ênfase nem pedantismo. A
propósito de suas Lições de morfologia vegetal, escreveu
Payer, citado pelo sr. Tobias Monteiro: “Um dos característicos
da obra de Saint-Hilaire é ser exposta com tanta clareza e
simplicidade que a profundeza do julgamento parece apenas
bom senso".
Precisamos ler muitos homens como Auguste SaintHilaire.
(Adaptado de: BANDEIRA, Manuel. O “nosso" Saint-Hilaire. Crônicas da província do Brasil. 2.ed. São Paulo: Cosac Naify,
2006, p.199-202)
... onde percorreu as regiões mal-afamadas do rio Doce...
A forma verbal resultante da transposição da frase acima
para a voz PASSIVA é: