SóProvas


ID
1731667
Banca
COPEVE-UFAL
Órgão
IF-AL
Ano
2011
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                      Um apólogo

      Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

      – Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?

      – Deixe-me, senhora.

      – Que a deixe? Que a deixe, por quê? Por que lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

      – Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

      – Mas você é orgulhosa.

      – Decerto que sou.

      – Mas por quê?

      – É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

      – Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

      – Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

      – Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...

      – Também os batedores vão adiante do imperador.

      – Você é imperador?

      – Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

      [...]

      – Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

      Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

      – Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

      Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:– Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

                                                                                                              (Machado de Assis)

Assinale a alínea que apresenta pontuação correta.

Alternativas
Comentários
  • essa questão deveria ser anulada, na letra c temos uma oração adjetiva restritiva, portanto não possui vírgula.

  • Concordo com Jonas, entendo que a correta deveria ser a letra d.

  • Letra (B).

    ----------

     

    A banca seguiu a pontuação de Machado de Assis, segue o trecho:

     

    Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestirse, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando​ [...]

     

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    At.te, CW.

    Fonte:

    Machado de Assis. Várias Histórias. Pág. 65. Disponível em: http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/contos/macn005.pdf 

  • Eu pensei que fosse a letra a porque lembrei da regra de que não se usa vírgula antes do 'e'. Depois que errei fui pesquisar e ví que não é regra geral, mas possui a seguinte excessão: 

    Tem só um caso em que vai vírgula, que é quando a frase depois do “e” fala de uma pessoa, coisa, ou objeto (sujeito) diferente da que vem antes dele. Assim:

    O sol já ia fraco, e a tarde era amena. (Graça Aranha)

    Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala da tarde. Os sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula. Outro exemplo:

    A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino (F. Namora)

    Mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos.

    E ESSA EXCESSÃO SE APLICA A ESSE CASO:

     b) “Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se.

    ... MAS NÃO SE APLICA A ESSE: E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro...

     CONTINUO SEM ENTENDER ONDE ESTÁ O ERRO.

     

  • Daniely Karine Souza Santos, eu acredito que nesse caso seriam termos coordenados.


    "... e enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando..."


    Eu entendo que são várias ações que a costureira executou.


  • Gabarito letra B ✔

    b) Quem veio? A noite do baile. Quem se vestiu? A baronesa. Percebe que temos sujeitos diferentes? A vírgula antes da conjunção "E" é obrigatória quando temos sujeitos diferentes. Por isso o gabarito.