SóProvas


ID
1754656
Banca
FCC
Órgão
DPE-SP
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     Em defesa da dúvida

      Numa época em que tantos parecem ter tanta certeza sobre tudo, vale a pena pensar no prestígio que a dúvida já teve. Nos diálogos de Platão, seu amigo Sócrates pulveriza a certeza absoluta de seus contendores abalando-a por meio de sucessivas perguntas, que os acabam convencendo da fragilidade de suas convicções. Séculos mais tarde, o filósofo Descartes ponderou que o maior estímulo para se instituir um método de conhecimento é considerar a presença desafiadora da dúvida, como um primeiro passo.

      Lendo os jornais e revistas de hoje, assistindo na TV a entrevistas de personalidades, o que não falta são especialistas infalíveis em todos os assuntos, na política, na ciência, na economia, nas artes. Todos têm receitas imediatas e seguras para a solução de todos os problemas. A hesitação, a dúvida, o tempo para reflexão são interpretados como incompetência, passividade, absenteísmo. É como se a velocidade tecnológica, que dá o ritmo aos nossos novos hábitos, também ditasse a urgência de constituirmos nossas certezas.

      A dúvida corresponde ao nosso direito de suspender a verdade ilusória das aparências e buscar a verdade funda daquilo que não aparece. Julgar um fato pelo que dele diz um jornal, avaliar um problema pelo ângulo estrito dos que nele estão envolvidos é submeter-se à força de valores já estabelecidos, que deixamos de investigar. A dúvida supõe a necessidade que tem a consciência de se afastar dos julgamentos já produzidos, permitindo-se, assim, o tempo necessário para o exame mais detido da matéria a ser analisada. A dúvida pode ser o primeiro passo para o caminho das afirmações que acabam sendo as mais seguras, porque mais refletidas e devidamente questionadas.

                                                                                      (Cássio da Silveira, inédito)

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Alternativas
Comentários
  • a) Uma vez distanciados no tempo, Sócrates e Descartes são parceiros quanto a compartilharem ao (do) mesmo prestígio que costumam atribuir ao valor da dúvida.

    b) Mesmo separados por séculos, os filósofos Sócrates e Descartes parecem acordes quanto ao valor que atribuem ao papel da dúvida na constituição do pensamento. CERTO, ACORDES PODE SER USADO NO MESMO SENTIDO AO FALAR QUE AS PESSOAS SÃO CONCORDES. 

     c) Muito embora fossem distintos filósofos, é de se constatar que tanto Descartes quanto Sócrates alimentavam sobre as dúvidas a mesma convicção que lhes (os) mantinha.

     d) Descartes e Sócrates, filósofos consagrados, em que pese o valor que se atribuíam às suas dúvidas, tinham estreita relação de pensamento quanto aquilo (àquilo) que lhes era comum.

     e) A par de serem distantes no tempo, ainda que compartilhando suas condições de filósofos, Descartes e Sócrates se identificavam por conta da dúvida (de) que se nutriam.

  • Letra B. O colega abaixo fez correções impecáveis.

    Apenas para clarificar um pouco mais, "acordes" = "concordantes", ou seja, é o mesmo que dizer que "os filósofos Sócrates e Descartes concordavam com as suas ideias ..."