- ID
- 1835044
- Banca
- IDECAN
- Órgão
- SEARH - RN
- Ano
- 2016
- Provas
-
- IDECAN - 2016 - SEARH - RN - Professor - Pedagogia - Anos Iniciais
- IDECAN - 2016 - SEARH - RN - Professor de Arte
- IDECAN - 2016 - SEARH - RN - Professor de Ciências Biológicas
- IDECAN - 2016 - SEARH - RN - Professor de Educação Física
- IDECAN - 2016 - SEARH - RN - Professor de Física
- IDECAN - 2016 - SEARH - RN - Professor de História
- IDECAN - 2016 - SEARH - RN - Professor de Matemática
- IDECAN - 2016 - SEARH - RN - Professor de Química
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Arte e natureza
A natureza é uma grande musa. É por ela, e por meio dela, que sentimos a força criadora do entusiasmo – energia
maior da inspiração que nos permite registrar, com prazer, a experiência da beleza refletida na harmonia das formas e
no delicado equilíbrio das cores naturais. Para os antigos gregos, o entusiasmo (em + theos) nascia do encontro com o
daimon, um gênio bondoso que seria o nosso guia pela vida inteira. Essa experiência nos permite também ter uma
simpatia especial com o natural. E desperta a nossa criança interior, que estaria ansiosa para continuar brincando.
Esse é o momento em que o fotógrafo de natureza pega sua câmera, pois escuta a voz interior da inspiração falar:
“Vá, exercite suas asas, faça o registro, descubra sua luz e espalhe sua voz pelos quatro cantos do mundo!" O desejo
começará a fazer as pazes com o coração para que todos possam aprender, apreciar e amar a natureza. Conjugar o
natural com o artístico, fazer da imagem um ornamento, um texto atraente – eis as primeiras condições de uma estética
do natural.
O belo natural é a matriz primeira do belo artístico. Essa é a expressão mimética mais convincente da beleza ideal
como tanto defendia Kant. É por isso que a arte ecológica tanto nos seduz, porque estimula o olhar na ampliação desse
grande mistério que é ser. O artista é o que intui melhor esse sentimento e busca compulsivamente exprimi‐lo por meio
do seu trabalho. O artista ecológico vive dessa temperatura e é por meio da natureza que ele fala, ou melhor, é por ela
que ele aprende a falar com sua própria voz. E o momento da criação surge quando, levados por aquela força
inspiradora, a intuição e a experiência racional se abraçam numa feliz alquimia. Fiat lux! É o instante em que esse
encontro torna‐se obra, registro e documentação.
Se o artista foi tocado pela musa, desse momento em diante será sempre favorecido por esse impulso. Essa força
não é apenas a expressão passageira de uma vontade, mas uma busca pela vida toda na direção de algo ansioso por se
tornar imagem. Esse algo é a obra de arte cuja função não vai ser apenas a de agradar, mas a de transmitir a mensagem
daquela conivência.
Quando o homem está inspirado, nada o detém. Se o sofrimento e toda sorte de obstáculos o atingem, ele cria na
dor; e esse sacrifício (sacro‐ofício), ao término da obra, se tornaria um exemplo de persistência e de nobreza de espírito.
Se está feliz, ele expressa sua felicidade no trabalho. Nesse instante, por exemplo, o fotógrafo da natureza, no sozinho
da sua alma, poderá dizer: “Translúcida inspiração, eu a vejo em brilho com seu sorriso pintado em azul. Deixe‐me por
um momento desenhar seu vulto na alquimia luminosa da minha lente!"
Podemos concluir que o brilho de uma obra de arte nunca se apaga, isto é, ela nunca termina de dizer. No sentido
de que, enquanto houver espectador para avaliar, apreciar, cuidar, guardar e restaurar, haverá obra e, assim, ela estará
sempre acima do tempo. Desse tempo que destrói, desfigura e mata. O quadro “Guernica", do pintor espanhol Pablo
Picasso, por exemplo, devolve ao avaliador uma mensagem tão poderosa que aquela obra provocará surpresa e
admiração enquanto existir um olhar que a contemple e avalie.
E é esse olhar que faz da obra do tempo histórico uma surpreendente permanência, a despeito da perda do
efêmero e do fugidio. No final, o artista, o espectador, a obra e o tempo se congratulam. É essa junção de forças que
mantém vivo todo trabalho artístico. Ainda bem que a natureza sabe escolher com paciência seus artesãos. Isto é,
aqueles que vão dizê‐la com suas próprias vozes, como o fotógrafo, o escultor, o desenhista, o músico e o pintor.
O “a" sublinhado que deverá levar o acento indicativo de crase está na seguinte alternativa: