- ID
- 1841311
- Banca
- COMPERVE
- Órgão
- Prefeitura do Assú - RN
- Ano
- 2014
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
ANALFABETISMO FUNCIONAL
Alarmante! A dificuldade para interpretar textos e contextos, articular ideias e escrever está
presente em seletos ambientes do mundo corporativo e da academia.
por Thomaz Wood Jr.
A condição de analfabeto funcional aplica-se a indivíduos que, mesmo capazes de identificar
letras e números, não conseguem interpretar textos e realizar operações matemáticas mais
elaboradas. Tal condição limita severamente o desenvolvimento pessoal e pro fissional. O
quadro brasileiro é preocupante, embora alguns indicadores mostrem uma evolução positiva
nos últimos anos.
Uma variação do analfabetismo funcional parece estar presente no topo da pirâmide
corporativa e na academia. Em uma longa série de entrevistas realizadas por este escriba,
nos últimos cinco anos, com diretores de grandes empresas locais, uma queixa revelou-se
rotineira: falta a muitos profissionais da média gerência a capacidade de interpretar de forma
sistemática situações de trabalho, relacionar devidamente causas e efeitos, encontrar
soluções e comunicá-las de forma estruturada. Não se trata apenas de usar corretamente o
vernáculo, mas de saber tratar informações e dados de maneira lógica e expressar ideias e
proposições de forma inteligível, com começo, meio e fim.
Na academia, o cenário não é menos preocupante. Colegas professores, com atuação em
administração de empresas, frequentemente reclamam de pupilos incapazes de criar
parágrafos coerentes e expressar suas ideias com clareza. A dificuldade afeta alunos de
MBAs, mestrandos e mesmo doutorandos. Editores de periódicos científicos da mesma área
frequentemente deploram a enorme quantidade de manuscritos vazios, herméticos e
incoerentes recebidos para publicação. E frequentemente seus autores são pós-doutores!
O problema não é exclusivamente tropical. Michael Skapinker registrou recentemente em sua
coluna no jornal inglês Financial Times a história de um professor de uma renomada
universidade norte-americana. O tal mestre acreditava que escrever com clareza constitui
habilidade relevante para seus alunos, futuros administradores e advogados. Passava -lhes,
semanalmente, a tarefa de escrever um texto curto, o qual corrigia, avaliando a capacidade
analítica dos autores. Pois a atividade causou tal revolta que o diretor da instituição solicitou
ao professor torná-la facultativa. Os alunos parecem acreditar que, em um mundo no qual a
comunicação se dá por mensagens eletrônicas e tuítes, escrever com clareza não é mais
importante.
O mesmo Skapinker lembra uma emblemática matéria de capa da revista norte-americana
Newsweek, intitulada “Why Johnny can't write". Merrill Sheils, autora do texto,
revelou à época um quadro preocupante do declínio da linguagem escrita nos Estados
Unidos. Para Sheils, o sistema educacional, da escola fundamental à faculdade, desovava na
sociedade uma geração de semianalfabetos. Com o tempo, explicou a autora, as habilidades
de leitura pioraram, as habilidades verbais se deterioraram e os norte-americanos tornaram-se
capazes de usar apenas as mais simples estruturas e o mais rudimentar vocabulário ao
escrever, próprios da tevê.
Entre as diversas faixas etárias, os adolescentes eram os que mais sofriam para produzir um
texto minimamente coerente e organizado. E o mundo corporativo também acusou o golpe,
pois parte de sua comunicação formal exige precisão e clareza, características cada vez
mais difíceis de encontrar. Educadores mencionados no artigo observaram: um estudante
que não consegue ler e compreender textos jamais será capaz de escrever bem. Importante:
a matéria da Newsweek é de 1975!
Quase 40 anos depois, os iletrados trópicos parecem sofrer do mesmo flagelo. Por aqui,
vivemos uma situação curiosa: de um lado, cresce a demanda por análises e raciocínios
sofisticados e complexos. E, de outro, faltam competências básicas relacionadas ao
pensamento analítico e à articulação de ideias. O resultado é ora constrangedor, ora cômico.
Nas empresas, muitos profissionais parecem tentar tapar o sol com uma peneira de
powerpoints, abarrotados de informação e vazios de sentido.
Na academia, multiplicam-se textos caudalosos, impenetráveis e ocos. Se aprender a
escrever é aprender a pensar, e escrever for mesmo uma atividade em declínio, então talvez
estejamos rumando céleres à condição de invertebrados intelectuais.
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br>. Acesso em 25 ago. 2014.
GLOSSÁRIO
MBAs: Master in Business Administration (Mestrado em Administração de Negócios). É um grau
acadêmico de pós-graduação destinado a administradores e executores na área de gestão de
empresas.
Considere o trecho:
Por aqui, vivemos uma situação curiosa: de um lado, cresce (1º) a demanda por análises
e raciocínios sofisticados e complexos. E, de outro, faltam (2º) competências básicas
relacionadas ao pensamento analítico e à articulação de ideias.
As afirmativas a seguir referem-se aos verbos destacados no trecho.
I Ambos apresentam sujeito explicitado no período.
II Ambos apresentam objeto explicitado no período.
III Em conformidade com a norma padrão, o primeiro verbo, no contexto em que ocorre,
pode ser flexionado na terceira pessoa do plural.
IV Em conformidade com a norma padrão, o segundo verbo, no contexto em que ocorre,
deve permanecer flexionado na terceira pessoa do plural.
Das afirmações, estão corretas