SóProvas


ID
1851814
Banca
COMPERVE
Órgão
Câmara Municipal de Mossoró-RN
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Voo solo  

O inferno são os outros! A conhecida frase de Jean-Paul Sartre agora dá sentido a um fenômeno de massa. Se o inferno são os outros, então nossos contemporâneos parecem estar se movimentando para fugir das catacumbas sulfurosas. Segundo Eric Klinenberg, professor de Sociologia da Universidade de Nova York e autor do livro Going Solo: The extraordinary rise and surprising appeal of living alone (editora Penguin), cada vez mais pessoas optam por viver sozinhas.
O autor carrega nas tintas, embalado por um mercado editorial viciado em títulos de impacto, argumentos surpreendentes e fatos irrefutáveis, mas o livro tem méritos. Segundo Klinenberg, estamos presenciando uma inflexão histórica. Cultivamos, durante milênios, uma repulsa existencial e filosófica à solidão. “O homem que vive isolado, que é incapaz de partilhar os benefícios da associação política ou não precisa partilhar porque já é autossuficiente, não faz parte da pólis, e deve, portanto, ser ou uma besta ou um deus”, escreveu Aristóteles (apud Klinenberg).
As sociedades humanas se estruturaram em torno do desejo fundamental de os indivíduos viverem na companhia uns dos outros. O isolamento é frequentemente associado à punição. Uma criança mal comportada é separada de seus pares e colocada sozinha. Um prisioneiro malcomportado é trancafiado na solitária.
 Entretanto, segundo Klinenberg, tudo isso está mudando. Nas últimas décadas, houve um aumento expressivo do número de homens e mulheres que passaram a viver voluntariamente sozinhos. O fenômeno é consequência do desenvolvimento econômico, que permite maior autonomia; da superação da lógica econômica do casamento, que dá maior liberdade às pessoas para buscar arranjos alternativos; da urbanização, que adensa as comunidades humanas; e da evolução das tecnologias de informação e de comunicação, que facilitam a interação entre as pessoas. Resultado: estamos casando mais tarde, prolongando o período entre o divórcio e o novo casamento, ou evitando um novo casamento, e escapando o quanto possível da possibilidade de viver com outra pessoa. É o novo solteirismo!
Nas grandes cidades norte-americanas, 40% das moradias têm um único ocupante. Em Washington e Manhattan, casos extremos, são 50%. E o fenômeno não se restringe aos Estados Unidos. Paris apresenta números superiores a 50% e, em Estocolmo, a taxa chega a 60%. China, Índia e Brasil, países em desenvolvimento, caminham no mesmo sentido.
 Viver sozinho deixou de ser fonte de medo e causa de isolamento social. As vantagens são notáveis: controle sobre a própria vida, liberdade de ação e melhores condições para perseguir atividades voltadas para a autorrealização.No imaginário social, vai surgindo um novo modelo ideal: o neossolteiro, um ou uma profissional de sucesso, socialmente atuante e mestre de sua existência.
O fenômeno do novo solteirismo relaciona-se a outro fenômeno, maior, de enfraquecimento dos vínculos e das relações, que se manifesta na vida social e na vida profissional. Richard Sennet registrou a tendência no livro A Corrosão do Caráter (editora Record), no fim da década de 1990. De fato, o comprometimento dos indivíduos com instituições e organizações vem se fragilizando há algumas décadas. Hoje, transitamos por inúmeros grupos, empresas e comunidades, porém estabelecemos relacionamentos apenas tênues e temporários. 
Nas empresas, depois de seguidas ondas de reestruturações, enxugamentos e terceirizações, os empregos “para toda a vida” estão quase extintos. Paradoxalmente, empresários e executivos continuam esperando alto grau de envolvimento e comprometimento de seus funcionários, e frustram-se quando não os conseguem. Com a ajuda de asseclas de recursos humanos, tentam tapar o sol com a peneira, programando palestras motivacionais, abraçando árvores e promovendo interlúdios culturais. Pouco adianta.
 As novas gerações representam para as empresas um considerável desafio: os mais jovens são individualistas, inquietos e despudoradamente ambiciosos. Saltam de galho em galho corporativo sem olhar para trás. Habitam redes fluidas, sejam elas comunidades reais ou virtuais. São impacientes com o presente e ansiosos pelo futuro.
Neste admirável mundo novo, perde espaço o que é estável e profundo, ganha espaço o que é efêmero e superficial. Afirmam os profetas do mundo plano que terão vantagens os mais dinâmicos, os mais extrovertidos, aqueles com mais iniciativa e sem medo de errar, aqueles capazes de usar diligentemente seu capital social em prol da própria marca. E os incomodados que se mudem… de planeta?  

Fonte: cartacapital, 11 de abril de 2012.  

O uso da palavra “entretanto”, no primeiro período do quarto parágrafo, expressa uma relação

Alternativas
Comentários
  • Por que não seria do paragrafo posterior ?

  • caroline Guerreiro, eu já errei essa questão duas vezes e desta vez, resolvi ler com mais atenção.

    Tentando encarar o fato que, o Gab. oficial é a opção D.

    Passagens do texto: Linha 2 à 3 - "Segundo Eric Klinenberg, [...] cada vez mais pessoas optam por viver sozinhas".

    Linha 5 à 7 - "Segundo Klinenberg, estamos presenciando uma inflexão histórica. Cultivamos, durante milênios, uma repulsa existencial e filosófica à solidão. “O homem que vive isolado, que é incapaz de partilhar os benefícios da associação política ou não precisa partilhar porque já é autossuficiente, não faz parte da pólis, e deve, portanto, ser ou uma besta ou um deus”, escreveu Aristóteles (apud Klinenberg)".

    # Logo após o "Entretanto", no primeiro período do quarto parágrafo, teremos um sentido de ADVERSIDADE e a frase seguinte nos ajuda a entender que essa adversidade refere-se a informações anteriores, veja:

    "Entretanto, segundo Klinenberg, tudo isso está mudando está mudando." ---> O que esta mudado? Toda a ideia de Klinenberg a respeito das "pessoas viverem sozinhas".

     

    Espero ter ajudado.

     

  • Porque em regra "entretanto" funciona como elemento coesivo sequencial, ou seja, faz referência e remete a informações já ditas no texto..

    Gabarito D.

  • ...tudo isso ... (pronome anafórico remete a algo já dito)

  • -
    GAB:D

    errei essa questão por falta de atenção..mas vejamos o que é perguntado:

    O uso da palavra “entretanto”, no primeiro período do quarto parágrafo, expressa uma relação 


    d)adversativa (se posto em análise) com as informações do parágrafo anterior.  <--- deveríamos ler dessa forma as assertivas!
    por isso não é a letra B o gabarito, pois o parágrafo posterior está apenas dando desenvolvimento ao texto e não colocando adversidade.

    Mais uma vez a COMPERVE arrasando no enunciado das perguntas ¬¬

    espero ter esclarecido

  •  d)  adversativa com as informações do parágrafo anterior.  

  • Porque em regra "entretanto" funciona como elemento coesivo sequencial, ou seja, faz referência e remete a informações já ditas no texto..

    Gabarito D.

    Adversativa com as informações do parágrafo anterior.

  • GABARITO: LETRA D

    Adversativasligam duas orações ou palavras, expressando ideia de contraste ou compensação. São elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante. Por exemplo:

    Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.

    FONTE: WWW.SÓPORTUGUÊS.COM.BR

  • A questão quer saber qual a relação estabelecida por "entretanto" na frase: "Entretanto, segundo Klinenberg, tudo isso está mudando.". "Entretanto" é conjunção coordenativa adversativa. Vejamos:

    Conjunções coordenativas adversativas: têm valor semântico de oposição, contraste, adversidade, ressalva ... 

    São elas: mas, porém, entretanto, todavia, contudo, no entanto, não obstante, inobstante, senão (= mas sim)... 

    Ex.: Não estudou muito, entretanto passou nas provas. 

    A conclusiva com as informações do período posterior.

    Errado. É adversativa.

    Conjunções coordenativas conclusivas: têm valor semântico de conclusão, fechamento, finalização ... 

    São elas: logo, portanto, por isso, por conseguinte, pois (posposto ao verbo), então, assim, destarte, dessarte... 

    Ex.: Estudamos muito, portanto passaremos no concurso. 

    B adversativa com as informações do período posterior.

    Errado. É adversativa com as informações do parágrafo ANTERIOR.

    C conclusiva com as informações do parágrafo anterior.

    Errado. É adversativa.

    D adversativa com as informações do parágrafo anterior.

    Certo.

    Gabarito: Letra D