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ID
1866055
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
TRT - 8ª Região (PA e AP)
Ano
2016
Provas
Disciplina
Serviço Social
Assuntos

A propósito do serviço social e das correntes neoconservadoras, assinale a opção correta.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: B

    A proposta neoconservadora forja-se na década de 90, nessa ordem, o Brasil vive um momento de retrocessos nas históricas conquistas de trabalhadores e trabalhadoras, como direitos trabalhistas, direitos sociais e políticas públicas. Dessa forma, o neoconservadorismo não é exclusivo do serviço social, nem tão pouco a categoria rompeu com o conservadorismo, ainda enraizado no bojo profissional contemporâneo.  

    Maria Lúcia S. Barroco - Revista Seso Sociedade 124 

  • Letra D: Não há rompimento absoluto do conservadorismo, visto que, as próprias correntes de orientação profisssional estão respaldadas no Código de ética, essa pluralidade, a exemplo da corrente fenomenologica,  admite leitura conservadora com retrocessos, como assinala Neto (2009).

  • Não entendi o erro da D, pois diz que "O atual projeto eticopolítico hegemônico da categoria profissional de assistentes sociais rompeu com o conservadorismo.", ou seja, o projeto ético-político hegemônico, não excluindo-se as posições neoconservadoras, presentes no interior da categoria.

  •  Em seus ensinamentos sobre “Expressões Do Conservadorismo Na Formação Profissional”, Boschetti (2015) assinala que o conservadorismo nunca deixou de permear a formação e o trabalho profissional. Por vezes explícita, por vezes implicitamente, sempre esteve presente, e também não é uma exclusividade do Serviço Social. Defende-se, portanto, que o conservadorismo não é um traço exatamente novo e atual que distanciaria uma “base” conservadora de assistentes sociais de uma suposta “vanguarda” progressista. O que orienta essas reflexões é uma perspectiva que defende que o conservadorismo é, e sempre será, alimento imprescindível da reprodução do capital, e por isso nunca sai de cena. Ou seja, é um alimento central para conservar a sociedade capitalista e sempre estará a seu dispor. Foi na história de resistência e luta contra esse conservadorismo, que sempre quis subordinar e colocar a profissão a serviço da reprodução do capital, que o Projeto Ético-Político — em suas dimensões teórica, política, ética, legal e profissional — se constituiu como processo dinâmico e vivo, como expressão de luta contra o conservadorismo. Nesse processo, sempre viveu a dialética da convivência entre o pensamento conservador e a intenção de ruptura, como explica Netto (2011b). Essas reflexões iniciais intentam explicitar que não tratamos o avanço ou reatualização do conservadorismo como algo externo, ou fora do processo cotidiano da formação e do trabalho profissional. Ou seja, o conservadorismo nunca deixou de constituir o Serviço Social e, no momento presente, vem se reatualizando e se fortalecendo por algumas determinações societárias, sem as quais não seria possível entender esse avanço do conservadorismo, sinalizadas a seguir.

    No campo econômico, a crise do capital reacende valores, políticas e medidas conservadoras, a exemplo da apologia ao livre mercado, a redução do papel do Estado na regulação das relações econômicas, o uso do fundo público para salvar o capital industrial e bancário em momentos de crise, a mercantilização de serviços públicos, como luz, água, gás, telefonia. Todas essas medidas, largamente em curso sob o manto neoliberal desde a década de 1970, alimentam a competitividade, o individualismo e valores liberais conservadores.  [...]  Os traços que indicam uma reatualização do conservadorismo, aqui apresentados, não podem ser compreendidos como elementos endógenos e exclusivos do Serviço Social. Ao contrário, são tendências presentes em todas as áreas, fortemente alimentadas pela contrarreforma do ensino superior, forjada desde a década de 1990 no contexto da mundialização do capital e sujeição dos países às recomendações de organismos internacionais, como Banco Mundial (BM), Organização Mundial do Comércio (OMC) e Fundo Monetário Internacional (FMI).

     

  • GABARITO B - A proposta neoconservadora forjou-se na década de 90 do século passado no contexto de mundialização do capital.

     

     Destaco a parte errada das assertivas

    a) O neoconservadorismo constitui elemento endógeno e exclusivo do serviço social.

    c) [...] rejeita as recomendações de organismos internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

    d)  [...] rompeu com o conservadorismo.

    e) [...] não exerce influência no campo profissional contemporâneo.

     

  • Olá,

    Questão de termo clássico dentro do Serviço Social. E quem nos fala sobre ele é Marilda Villela Iamamoto.

    Em resumo o termo neoconservador refere-se ao processo que teve seu auge nos anos 90 de defesa do "estado mínimo" e de fortalecimento da sociedade civil através das Ongs e da distribuição das responsabilidades do Estado com elas.

    Vamos ver:

    Acanda (2006), em seu competente e provocativo estudo sobre a sociedade civil (...) Nos países comunistas do Leste Europeu, ela foi utilizada por aqueles que rejeitavam o Estado ultracentralizador e totalitário. Já pela nova direita dos países capitalistas desenvolvidos (especialmente Estados Unidos e Inglaterra), foi empregada como parte de uma ofensiva neoconservadora pelo controle e defesa do “Estado mínimo”, despojado de funções redistributivas, o que redundou no chamado “fortalecimento da sociedade civil”. Ela passa a ser apresentada como a “Terra Prometida”, uma invocação mágica capaz de exorcizar todo o mal. Para a esquerda latino-americana, nas décadas de setenta e oitenta, assume outro significado. A expansão das ditaduras militares no continente desarticula e elimina todas as formas de associativismo que expressavam lutas sociais de setores sociais explorados, tais como sindicatos, movimentos indígenas e camponeses. Nesse contexto, a sociedade civil é defendida em sua condição de protagonista na luta contra a dominação: uma nova força capaz de exigir do Estado a redução da repressão e maiores responsabilidades sociais. Já no clima cultural dominante sob a inspiração ultraliberal, a sociedade civil tem sido definida por exclusão e em antítese ao Estado e à política, como um “espaço não político”, livre de coerções, aparecendo idealizada como um reino autônomo da associação e espontaneidade, materializado nas Organizações Não-Governamentais (ONGs). É, também, tida com a guardiã do Estado, controlando-o para evitar intervenções espúrias nas relações interpessoais.

     

    Talvez por esses caminhos seja possível atribuir bases realistas ao projeto profissional, uma vez que a afirmação de princípios, sem sustentação histórica efetiva, tende a redundar no voluntarismo. E no perigo de reeditar, sob novas nomenclaturas, os mitos de um discurso sobre a transformação social sem as devidas mediações histórico-conjunturais, como o já vivido no movimento de reconceituação do Serviço Social latino-americano, o que na atualidade só abriria alas ao revigoramento do neoconservadorismo profissional.

     

    Fonte: Mundialização do capital, questão social e serviço social no Brasil - Marilda Villela Iamamoto

  •  Forjou = enganar, falsificar.

  • ressalta-se que não houve um rompimento, mas sim uma intenção de ruptura, até os dias atuais, ainda é possível observar correntes conservadoras na profissão.

  • Do ponto de vista das referências teórico‐metodológicas a questão primeira que se coloca para a profissão já no início da década (90) é o confronto com a denominada "crise" dos modelos analíticos, explicativos nas ciências sociais, que buscam captar o que está acontecendo no fim de século e as grandes transformações que alcançam múltiplos aspectos da vida social. No mundo do conhecimento começam as interferências, não sem conflitos, do denominado pensamento pós moderno, "notadamente em sua versão neoconservadora" (NETTO, 1996, p. 114) que questiona e nivela os paradigmas marxista e positivista. Estes questionamentos se voltam contra os diferentes "modelos" explicativos por suas macroabordagens apontando que nestas macronarrativas são deixados de lado valores e sentimentos fundamentais dos homens, seu imaginário, suas crenças, afeições, a beleza, os saberes do cotidiano, os elementos étnicos, religiosos, culturais, os fragmentos da vida enfim. A abordagem pós‐moderna dirige sua crítica à razão afirmando‐a como instrumento de repressão e padronização, propõe a superação das utopias, denuncia a administração e o disciplinamento da vida, recusa a abrangência das teorias sociais com suas análises totalizadoras e ontológicas sustentadas pela razão e reitera a importância do fragmento, do intuitivo, do efêmero e do microssocial (em si mesmos) restaurando o pensamento conservador e antimoderno. Seus questionamentos são também dirigidos à ciência que esteve mais a serviço da dominação do que da felicidade dos homens. Assim ao afirmar a rejeição à ciência o pensamento pós‐moderno rejeita as categorias da razão (da Modernidade) que transformaram os modos de pensar da sociedade, mas não emanciparam o homem, não o fizeram mais feliz e não resolveram problemas de sociedades que se complexificam e se desagregam. O posicionamento pós‐moderno busca resgatar valores negados pela modernidade e cria um universo descentrado, fragmentado relativo e fugaz. Para Harvey (1992) as características da pós‐modernidade são produzidas historicamente e se relacionam com a emergência de modos mais flexíveis de acumulação do capital.

  • Continua...

    (...) Especificamente no Serviço Social estas questões também se colocam, apesar da vitalidade do marxismo como paradigma de análise e compreensão da realidade e apesar da manutenção da hegemonia do projeto profissional caracterizado pela ruptura com o conservadorismo que caracterizou a trajetória do Serviço Social no país. (...) Assim, coloca‐se como desafio à profissão ao longo de toda a década de 90, e neste início de milênio a consolidação do projeto ético político, teórico metodológico e operativo que vem construindo particularmente sob a influência da tradição marxista, "mas incorporando valores auridos noutras fontes e vertentes e, pois sem vincos estreitos ou sectários, aquelas matrizes estão diretamente conectadas ao ideal de socialidade posto pelo programa da modernidade ‐ neste sentido, tais matrizes não são 'marxistas' nem dizem respeito apenas aos marxistas, mas remetem a um largo rol de conquistas civilizatórias e, do ponto de vista profissional, concretizam um avanço que é pertinente a todos os profissionais que, na luta contra o conservadorismo, não abrem mão daquilo que o velho Lukács chamava de 'herança cultural'." (NETTO, 1996, p. 117).