SóProvas


ID
1886620
Banca
FCC
Órgão
TRF - 3ª REGIÃO
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.  

      Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião, entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação pra exportar coisa alguma.

      Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha".


(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes, Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29) 

Considere as afirmativas abaixo.


I. O termo "coisa" (1° parágrafo) pode ser substituído por "o" com função de pronome, uma vez que, no período, retoma o segmento que o antecede.

II. As orações "de atacar os outros" (1° parágrafo) e "de defender a tradição" (2° parágrafo) servem de complemento ao sentido do verbo a que se referem.

III. Na frase Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu... (2°parágrafo), o pronome "que" retoma "samba", além de ser elemento subordinante a introduzir uma nova oração.


Está correto o que consta de 

Alternativas
Comentários
  • A respeito da assertiva III: "foi" e "que" podem ser retirados da oração sem prejuízo algum: é uma locução expletiva de realce ou enfática, pois não tem valor sintático ou semântico. Fonte: NEAF

  • Entendi que a I estivesse errada pois seria iniciar frase com pronome oblíquo átono. Alguem poderia esclarecer?

  • eu acertei por exclusão mas fiquei bem na duvida na primeira

  • Virgulino nesse caso o 'o' teria a função de pronome demonstrativo. É só você substituir o 'o' por aquilo = aquilo que anda muito em voga. O 'que' (pronome relativo) remete ao termo antecedente (coisa). Coisa pode ser substituído por 'o' (pronome demonstrativo). Se você analisar a frase "coisa que anda muito em voga", verá que a função sintática de coisa é de sujeito. Assim sendo, coisa substituída pelo pronome demonstrativo "o", por ter função sintática de sujeito não há nenhum problema iniciar frase. 

  • Por que a II está errada? Alguém sabe? 

  • A II está errada pois "de atacar os outros" está ligado à palavra tempo e não a um verbo.

     

    Não tive tempo de me defender ou tempo de atacar os outros.

     

    A I esse "o" não seria um pronome oblíquo mas sim um pronome demonstrativo precedindo o pronome relativo que. 

  •       Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros, coisa (o) que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

    I. O termo "coisa" (1° parágrafo) pode ser substituído por "o" com função de pronome, uma vez que, no período, retoma o segmento que o antecede. (V)

    é possível utilizar a substituição pelo pronome uma vez que retoma a ideia expressa anteriormente (funçao anafórica)

     

     

     

     

  • GABARITO "D"

    I- "O" vai ser pronome demonstrativo.( CORRETO)

    II - Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros,-  tempo(NOME) de atacar os outros. É um adjunto adnominal , pois tempo é um substantivo concreto, assim , SUBS CONC +  TERMO PREPOSICIONADO = ADJUNTO ADNOMINAL .(ERRADO)

    III-"QUE"é uma locução expletiva de realce ou enfática, pois não tem valor sintático ou semântico, pode ser retirada sem prejuízo.(ERRADO)

    Qualquer erro no comentário, favor notificar . Abraço!!

  • Se alguém puder explicar a III com mais clareza eu agradeço. O fato de ser locução prepositiva não ajudou muito.

  • Renato na III o "que"não é elemento subordinante, ele é pronome relativo e não conjunção integrante.

  • "tempo" é substantivo concreto?! Acho que a II está errada sim, mas por ser complemento NOMINAL e não complemento verbal!

  • I. O termo "coisa" (1° parágrafo) pode ser substituído por "o" com função de pronome, uma vez que, no período, retoma o segmento que o antecede.

    II. As orações "de atacar os outros" (1° parágrafo) e "de defender a tradição" (2° parágrafo) servem de complemento ao sentido do verbo a que se referem.

    NÃO = AD ADVERBIAL DE NEGAÇÃO

    TEVE = VTD

    TEMPO = OD

    DE ATACAR OS OUTROS + DE DEFENDER A TRADIÇÃO = ESTÃO COMPLEMENTANDO O SENTIDO DA PALAVRA TEMPO

     

    III. Na frase Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu... (2°parágrafo), o pronome "que" retoma "samba", além de ser elemento subordinante a introduzir uma nova oração.

    O QUE É PARTICULA EXPLETIVA DE REALCE

    PODE SER FEITA SUA RETIRADA SEM PREJUÍZO NA FRASE

  • Gabarito: D

    .

    I. CERTO

    II. ERRADO; "de atacar os outros" é complemento de TEMPO.

    III. ERRADO; esse QUE não exerce função sintática. Trata-se de partícula expletiva/de realce.

    Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da nossa canção.

    Mas com o samba João Gilberto rompeu as estruturas da nossa canção.

     

    Avante, bravos guerreiros/as!!!

     

  • Essa FCC força a barra demais!

     

  • Aquela questão que você marca e fica até com medo de ver o gabarito ... kkkkkkk

  • aff...Essa locução expletiva.....

  • Eis a questão,  saber identificar a bendita partícula expletiva de realce. Aff

  • Esse Arenildo é um preguiçoso .... nem pracomentar se é adjunto adnominal ou complemento na II..... pqp!

     

  • I - o termo coisa sendo substituído por "o" -> Está retomando todo o termo anterior " Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros"

    II - completam o nome e não o verbo

    III - ser + que (foi que) -> EXPLETIVO, não importa o tempo verbal e se está junto ou separado, pode ser retirado da oração.  "João Gilberto rompeu com o samba"

  • Letra D.

    A afirmativa I está correta. Veja a construção do trecho: • Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros, coisa que anda muito em voga. (“coisa” retoma o ato de defender ou de atacar os outros). • Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros, o que anda muito em voga. (“o” foi empregado como pronome demonstrativo – equivalente a aquilo – e possui a mesma função e referência do termo “coisa”).

     

    A afirmativa II está errada, pois “de atacar os outros” complementa o substantivo “tempo”. Apenas a outra oração funciona como complemento verbal (do verbo tratar).

     

    A afirmativa III está errada, pois tanto “foi” quanto “que” são elementos expletivos. Para comprovar, basta retirá-los da sentença e observar que não há qualquer prejuízo sintático ou semântico.

    Questão comentada pelo Prof. Elias Santana

  • Na alternativa II, verbo ter (tive) é VTD; logo, DE ATACAR OS OUTROS não pode ser objeto desse verbo.