SóProvas


ID
1890325
Banca
FUNCAB
Órgão
EMSERH
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            O embondeiro que sonhava pássaros

      Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma memória será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade, seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida. Talvez, por razão disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O vendedor de pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome. Chamavam-lhe o passarinheiro.

      Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos carregando suas enormes gaiolas. Ele mesmo fabricava aquelas jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir de prisão. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas, os pássaros esvoavam suas cores repentinas. À volta do vendedeiro, era uma nuvem de pios, tantos que faziam mexer as janelas:

      - Mãe, olha o homem dos passarinheiros!

      E os meninos inundavam as ruas. As alegrias se intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças. O homem puxava de uma muska e harmonicava sonâmbulas melodias. O mundo inteiro se fabulava.

      Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos - aquele preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar. Contudo, os pássaros tão encantantes que são - insistiam os meninos. Os pais se agravavam: estava dito.

      Mas aquela ordem pouco seria desempenhada.

      [...]

      O homem então se decidia a sair, juntar as suas raivas com os demais colonos. No clube, eles todos se aclamavam: era preciso acabar com as visitas do passarinheiro. Que a medida não podia ser de morte matada, nem coisa que ofendesse a vista das senhoras e seus filhos. 6 remédio, enfim, se haveria de pensar.

      No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre invasão. Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia aves de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às suas cores, seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste verídico mundo. O vendedor se anonimava, em humilde desaparecimento de si:

      - Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas todas de fora.

      Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele tão maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já desbravado os mais extensos matos?

      O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os senhores receavam as suas próprias suspeições - teria aquele negro direito a ingressar num mundo onde eles careciam de acesso? Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o tipo dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam.

      Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos pequenos, a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro foi virando assunto no bairro do cimento. Sua presença foi enchendo durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se comprava, as casas mais se repletavam de doces cantos. Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros desautenticavam os residentes, estrangeirando-lhes? [...] O comerciante devia saber que seus passos descalços não cabiam naquelas ruas. Os brancos se inquietavam com aquela desobediência, acusando o tempo. [...]

      As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se em outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes aparentes. [...]

      Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infinita alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não saem mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas pálpebras.

COUTO, Mia. Cada homem é uma raça: contosl Mia Couto - 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.63 - 71. (Fragmento). 

De acordo com os estudos de regência verbal e com o padrão culto da língua, leia as afirmações sobre os verbos destacados em “Os senhores RECEAVAM as suas próprias suspeições - TERIA aquele negro direito a ingressar num mundo onde eles CARECIAM de acesso?”

I. Como o verbo é transitivo indireto, é obrigatório o uso do acento indicativo da crase em AS, que compõe o complemento da primeira oração.

II. Na segunda oração, o verbo TERIA constitui por si só o predicado de uma oração.

III. O verbo CARECIAM, como é transitivo indireto, está ligado a seu complemento por meio de uma preposição.

Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s):

Alternativas
Comentários
  • Alguém poderia, por gentileza, fundamentar essa questão ?

  • Questão mal formulada

  • I. Como o verbo é transitivo indireto, é obrigatório o uso do acento indicativo da crase em AS, que compõe o complemento da primeira oração. CORRETA
    Sabemos que antes de pronome possessivo feminino o ARTIGO é facultativo, não a PREPOSIÇÃO. Se eu escrevo "Os senhores receavam AS suas próprias suspeições", eu empreguei o artigo, devendo OBRIGATORIAMENTE crasear, pois sempre vai haver preposição, o que se faculta é o uso do artigo. (A + AS = ÀS) (PREPOSIÇÃO + ARTIGO = ÀS). Assim, as duas formas possíveis para a redação do período são: a) Os senhores receavam ÀS suas próprias suspeições (artigo AS mais preposição A); ou b) Os senhores receavam A suas próprias suspeições (só com "a" preposição, sem o artigo cujo uso é facultativo).

    II. Na segunda oração, o verbo TERIA constitui por si só o predicado de uma oração. ERRADA
    " TERIA aquele negro direito a ingressar num mundo onde eles CARECIAM de acesso?". Colocando na ordem direta: "Aquele negro teria  direito a ingressar num mundo onde eles CARECIAM de acesso?" Toda a parte sublinhada é o predicado, não só o verbo.

    III. O verbo CARECIAM, como é transitivo indireto, está ligado a seu complemento por meio de uma preposição. CORRETA
    Quem carece, carede DE algo, assim é obrigatório o uso da preposição.

    GABARITO: ALTERNATIVA D


    Espero ter ajudado, bons estudos!

  • A crase seria facultativa diante do pronome possesivo

  • Não, Lucelio. Quando se tratar de plural, na questão o "as" já está no plural concordando com o termo seguinte, necessita de crase

  • b) "Os senhores receavam A suas próprias suspeições (só coma  preposição, sem o artigo cujo uso é facultativo)" Nesse caso a crase seria proibida pela concordância de número, a questão deveria ser anulada.

  • Questão deveria ser anulada, Pois SUAS é pronome possessivo feminino , tornando assim a crase facultativa.

     

  • Wey Olivers,
    Não há qualquer erro de concordância, muito menos proibição de uso da crase em razão disso.
    A questão não deve ser anulada. A assertiva "I" é clara ao afirmar que "é obrigatório o uso do acento indicativo da crase em AS". Tal afirmativa não contraria a regra do uso facultativo da crase antes de pronome possessivo. Lembrem-se de que a crase é a junção da PREPOSIÇÃO com o ARTIGO. Além disso, o que se faculta é o uso do ARTIGO antes de pronome possessivo, não o uso da PROPOSIÇÃO, sempre obrigatória quando a regência pedir. No caso em tela, a questão fala que é obrigatório o uso no "AS", o que é verdade, pois quando eu uso o artigo minha faculdade em relação à crase acaba e OBRIGATORIAMENTE eu devo empregar o acento grave.

    À disposição para debates, rs.

    Vamos galera, fds é melhor momento pra estudar!!! 

  • GABARITO D
    Com relação ao Item I
    -Realmente esta certo, :/

    Receavam, vem do verbo RECEAR,sigfinica Demonstrar muito medo em relação A. E tem como 
     sinônimo de: temer, assustar.
    Sendo Assim VDI e exigindo Preposição (A)+ (AS) pronome adjetivo possessivo feminino (as suas próprias suspeições).

    Sabemos que diante de ACENTO GRAVE ANTES DE PRONOMES POSSESSIVOS FEMININOS é CRASE FACULTATIVA.
    Ex: O cônsul enviou várias cartas a /à sua filha.

    Ai é que vem a pegadinha da questão:
    Se o pronome adjetivo possessivo feminino aparecer no PLURAL, o emprego do acento grave será, em regra, OBRIGATORIO.
    Exemplo: O cônsul enviou várias cartas às suas filhas.

    Por isso a alternativa I esta correta : se o pronome possessivo vim no singular:é facultativo; porém se vinher no plural:é obrigatorio.

    Fiz anotação dessa Regra que vi na aula do prof:Fabiano sales do Estrategia concursos. Espero ter ajudado! 






     

     

     

  • Lucas Aquino, explicou muito bem!

    Ocorre que o "a" da primeira proposição está acompanhado de "s", e como todos nós sabemos a preposição é invariável, ou seja, se ele usou a expressão: AS suas, eu posso afirmar que se trata de um artigo, pois o S só pode acompanhar ele, com isso, o sinal indicativo passa a ser obrigatório. Já que de fato o verbo em questão exige a preposição "A" e essa deve ser contraída pelo AS.

    Ficaria errada se ele trouxesse a expressão "A suas", e dissesse que o uso da crase é obrigatório. O que seria errado pelo fato de só existir nesse caso a preposição.

    Ex: RECEAVAM A AS SUAS... preposição + artigo. RECEAVAM A SUAS... eu não tenho um artigo, ou seja, o que FACULTATIVO é uso do artigo e não da preposição.

    PEÇO DESCULPA PELA REDUNDÂNCIA. RS

     

     

     

  • Perfeita a explica do Lucas! Sanou todas as minhas dúvidas quanto à questão. 

  • A "I" ESTÁ CORRETA!

    Só seria facultiva, caso o pronome possessivo feminino estivesse no singular!

  • lucas fundamentou acima.

  • Gabarito letra D

     

    I. Como o verbo é transitivo indireto, é obrigatório o uso do acento indicativo da crase em AS, que compõe o complemento da primeira oração. (certinho - a crase só é facultativa se o pronome possessivo feminino estiver no SINGULAR, caso esteja no plural e o verbo ou nome  solicitar a preposição, crase obrigatória)

     

    II. Na segunda oração, o verbo TERIA constitui por si só o predicado de uma oração. (errado - predicado é o que se afirma ou se nega a respeito do sujeito da oração).

     

    III. O verbo CARECIAM, como é transitivo indireto, está ligado a seu complemento por meio de uma preposição. (certinho careciam DE)

     

  • Colegas, por favor, retirem-me uma dúvida. Quanto à obrigatoriedade do uso da crase quando o pronome possessivo adjetivo estiver no plural, qual o embasamento de vocês? Qual o gramático que diz isso?

  • GALERA VEJAM O COMENTÁRIO DO PROFESSOR. 

    QUESTÃO ERRADA.

    NÃO INDUZAM SEUS COLEGAS CONCURSEIROS AO ERRO.

    FORÇA FÉ E FOCO!!!

  • O verbo recear, além de não exigir a preposição a. tem outro erro. mesmo que existisse a preposição a crase seria facultativa. 

     

  • O ACENTO DIACRÍTICO SÓ SERIA FACULTATIVO SE O PRONO POSSESSIVO FEMININO FOSSE SINGULAR

  • Galera, cuidado com os comentários!

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    O sinal de crase só será obrigatório no caso de pronome possessivo "sua" sendo PRONOME SUBSTANTIVO. Nesse caso ele é pronome adjetivo do substantivo "filhas", então continua sendo facultativo.

    Fonte: A Gramática p/ Concursos, Prof. Fernando Pestana (3a ed., p. 873).

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    No mais, o verbo RECEAR NÃO EXIGE PREPOSIÇÃO "A". O verbo é VTD no caso da questão e mesmo que fosse VTI (ocasionalmente pode ser VTI) exigiria a preposição "POR".

    Fonte: comentários do professor na questão.

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    Questão mal formulada e o item I é FALSO.

  • Vejo o pessoal moldando a resposta com o gabarito de maneira incorreta, isso só prejudica que está estudando