SóProvas


ID
2022970
Banca
FUMARC
Órgão
Câmara Municipal de Mariana - MG
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A questão refere-se ao texto a seguir. Leia-o com atenção antes de responder a ela.

Dize-me quem consultas...

Sírio Possenti

    

A falta de perspectiva histórica dificulta a compreensão até da possibilidade de diferentes visões de mundo. Imagine-se então a dificuldade de compreender a ideia mais ou menos óbvia de que mesmo verdades podem mudar. Suponho que temos vontade de rir quando ouvimos que os antigos imaginaram que a Terra repousava sobre uma tartaruga, nós que aprendemos, desde o primário, que a Terra gira ao redor do Sol. “Como podem ter pensado isso, os idiotas?”, pensamos.

  

  Você sabia que esta história dos quatro elementos nos quais hoje só acreditam os astrólogos foi um dia a verdadeira física, a forma científica de explicar fatos do mundo, suas mudanças, por que corpos caem ou sobem? Antes da gravidade, os elementos eram soberanos!

    

Já contei aqui, e vou contar de novo, duas histórias fantásticas. A segunda me fez rir mais do que a primeira, que só me fez sorrir. A primeira: na peça A vida de Galileu, Brecht faz o físico convidar os filósofos a sua casa, para verem as luas de Júpiter com sua luneta. Mas, em vez de correrem logo para o sótão a fim de verem a maravilha, os filósofos propuseram antes uma discussão “filosófica” sobre a necessidade das luas... Quando Galileu lhes pergunta se não creem em seus olhos, um responde que acredita, e muito, tanto que releu Aristóteles e viu que em nenhum momento ele fala de luas de Júpiter!

    

A outra história é a de um botânico do início da modernidade que pediu desculpas a seu mestre por incluir num livro espécies vegetais que o mestre não colocara no seu. Ou seja: mesmo vendo espécies diferentes das que constavam nos livros, esperava-se dos botânicos que se guiassem pelos livros, não pelas coisas do mundo. Era o tempo em que se lia e comentava, em vez de observar os fatos do mundo.

   

 Muita gente se engana, achando que esse período terminou, que isso são coisas dos ignaros séculos XVI e XVII. Quem tem perspectiva histórica sabe, aliás, que não se trata de ignorância pura e simples. Trata-se de ocupar uma ou outra posição científica. Mas é interessante observar que o espírito antegalileano continua vigorando. No que se refere às línguas, não cansarei de insistir que devemos aprender a observar os fatos linguísticos, em vez de dizer simplesmente que alguns estão errados. Um botânico não diz que uma planta está errada: ele mostra que se trata de outra variedade. Os leigos pensam que a natureza é muito repetitiva, mas os especialistas sabem que há milhões de tipos de qualquer coisa, borboletas, flores, formigas, mosquitos. Só os gramáticos pensam que uma língua é uniforme, sem variedades.

   

 Eu dizia que não devemos nos espantar – infelizmente – com o fato de que a mentalidade antiga continua viva. Mas eles às vezes exageram. Veja-se: num texto dirigido tipicamente a vestibulandos no qual critica Fuvest e Convest por erros contidos em seus manuais, um conhecido artista da gramática praticamente citou Brecht, provavelmente sem conhecê-lo. A propósito do uso da forma “adequa”, que as gramáticas condenam, e que aparece no manual da Fuvest, seu argumento foi: “Tive a preocupação de consultar todas as gramáticas e dicionários possíveis. Todos são categóricos. “Adequar” é defectivo, no presente do indicativo, só se conjuga nas formas arrizotônicas (adequamos, adequais). Não existe “adequa”.

   

 Não é um achado? O professor de hoje não parece o filósofo do tempo de Galileu, relendo Aristóteles e recusando-se a olhar pela luneta?


POSSENTI, S. A cor da língua e outras croniquinhas de linguista. São Paulo: Mercado de Letras, 2001.

“Como podem ter pensado isso, os idiotas?”, pensamos.


A propósito do uso da forma “adequa”, que as gramáticas condenam, e que aparece no manual da Fuvest, seu argumento foi: “Tive a preocupação de consultar todas as gramáticas e dicionários possíveis.”


Sobre as aspas nas passagens em análise, é correto o que se afirma em:


I. Enfatizam a reprodução literal da fala de outrem.


II. Realçam palavras em que se deseja por evidência.


III. Realçam palavras ou expressões irônicas.


São proposições adequadas ao trecho: 

Alternativas
Comentários
  • I. Enfatizam a reprodução literal da fala de outrem. correto

     

    II. Realçam palavras em que se deseja por evidência. correto

     

    III. Realçam palavras ou expressões irônicas. não é uma palavra irônica.

  • Achei esta frase irônica

    “Como podem ter pensado isso, os idiotas?”, pensamos.

  • Ironiaquando o significado literal da fala é o contrário do pretendido

    No caso ele não quis dizer  o contrário do que disse ao formular a pergunta: “Como podem ter pensado isso, os idiotas?”. Esta é uma pergunta retórica. Ao chamar as pessoas de idiotas ele quis dizer justamente que as pessoas são idiotas por terem pensado nisto e não o contrário.

     

    Pergunta retórica é uma interrogação que não tem como objetivo obter uma resposta

  • As aspas são sinais de pontuação geralmente empregados nas citações ou transcrições para distingui-las da parte restante do discurso. As aspas, portanto, indicarão o início e o fim do discurso alheio.

    Enfatizar um termo, uma palavra ou uma expressão dentro da estrutura oracional.

    Salientar palavras de outras línguas – estrangeirismos – usadas dentro de um período.

    Isolar o discurso de um personagem em textos narrativos. Geralmente isso ocorre quando se trata de discursos únicos, de pouca extensão.

    Salientar gírias, arcaísmos e formas populares que fogem do nível da fala usada pelo autor do texto.

    Indicar – algumas vezes de forma irônica – o emprego de palavras em sentido diverso do que lhe é habitual.

  • A frase parece irônica.

  • Apesar da frase ser irônica, as aspas não estão com a finalidade de demarcar uma ironia. Prestem bem atenção.