SóProvas


ID
2032123
Banca
FUMARC
Órgão
CBTU
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Quem são nossos ídolos?
Claudio de Moura Castro

Eu estava na França nos idos dos anos 80. Ligando a televisão, ouvi por acaso uma entrevista com um jovem piloto de Fórmula 1. Foi-lhe perguntado em quem se inspirava como piloto iniciante. A resposta foi pronta: Ayrton Senna. O curioso é que nessa época Senna não havia ganho uma só corrida importante. Mas bastou ver o piloto brasileiro se preparando para uma corrida: era o primeiro a chegar no treino, o único a sempre fazer a pista a pé, o que mais trocava ideias com os mecânicos e o último a ir embora. Em outras palavras, sua dedicação, tenacidade, atenção aos detalhes eram tão descomunais que, aliadas a seu talento, teriam de levar ao sucesso.
Por que tal comentário teria hoje alguma importância?
Cada época tem seus ídolos, pois eles são a tradução de anseios, esperanças, sonhos e identidade cultural daquele momento. Mas, ao mesmo tempo, reforçam e ajudam a materializar esses modelos de pensar e agir.
Já faz muito tempo, Heleno de Freitas foi um grande ídolo do futebol. Segundo consta, jactava-se de tomar uma cachacinha antes do jogo, para aumentar a criatividade. Entrava em campo exibindo seu bigodinho e, após o gol, puxava o pente e corrigia o penteado. O ídolo era a genialidade pura do futebol-arte.
Mais tarde, Garrincha era a expressão do povo, com sua alegria e ingenuidade. Era o jogador cujo estilo brotava naturalmente. Era a espontaneidade, como pessoa e como jogo, e era facilmente amado pelos brasileiros, pois materializava as virtudes da criação genial.
Para o jogador "cavador", cabia não mais do que um prêmio de consola- ção. Até que veio Pelé. Genial, sim. Mas disciplinado, dedicado e totalmente comprometido a usar todas as energias para levar a cabo sua tarefa. E de atleta completo e brilhante passou a ser um cidadão exemplar.
É bem adiante que vem Ayrton Senna. Tinha talento, sem dúvida. Mas tinha mais do que isso. Tinha a obsessão da disciplina, do detalhe e da dedicação total e completa. Era o talento a serviço do método e da premeditação, que são muito mais críticos nesse desporto.
Há mais do que uma coincidência nessa evolução. Nossa escolha de ídolos evoluiu porque evoluímos. Nossos ídolos do passado refletiam nossa imaturidade. Era a época de Macunaíma. Era a apologia da genialidade pura. Só talento, pois esforço é careta. Admirávamos quem era talentoso por graça de Deus e desdenhávamos o sucesso originado do esforço. Amadurecemos. Cresceu o peso da razão nos ídolos. A emoção ingênua recuou. Hoje criamos espaço para os ídolos cujo êxito é, em grande medida, resultado da dedicação e da disciplina – como Pelé e Senna.
Mas há o outro lado da equação, vital para nossa juventude. Necessitamos de modelos que mostrem o caminho do sucesso por via do esforço e da dedicação. Tais ídolos trazem um ideário mais disciplinado e produtivo.
Nossa educação ainda valoriza o aluno genial, que não estuda – ou que, paradoxalmente, se sente na obrigação de estudar escondido e jactar-se de não fazê-lo. O cê-dê-efe é diminuído, menosprezado, é um pobre-diabo que só obtém bons resultados porque se mata de estudar. A vitória comemorada é a que deriva da improvisação, do golpe de mestre. E, nos casos mais tristes, até competência na cola é motivo de orgulho.
Parte do sucesso da educação japonesa e dos Tigres Asiáticos provém da crença de que todos podem obter bons resultados por via do esforço e da dedicação. Pelo ideário desses países, pobres e ricos podem ter sucesso, é só dar duro.
O êxito em nossa educação passa por uma evolução semelhante à que aconteceu nos desportos – da emoção para a razão. É preciso que o sucesso escolar passe a ser visto como resultado da disciplina, do paroxismo de dedica- ção, da premeditação e do método na consecução de objetivos.
A valorização da genialidade em estado puro é o atraso, nos desportos e na educação. O modelo para nossos estudantes deverá ser Ayrton Senna, o supremo cê-dê-efe de nosso esporte. Se em seu modelo se inspirarem, vejo bons augúrios para nossa educação.

Disponível em: http://veja.abril.com.br/idade/educacao/060601/ponto_de_vista.html. Acesso em: jul. 2016.

O termo destacado está corretamente substituído entre parênteses, EXCETO em:

Alternativas
Comentários
  • Conformativas: introduzem uma oração em que se exprime a conformidade de um fato com outro. São elas: conforme, como (= conforme), segundo, consoante, etc.

  • GABARITO A

     

    Segundo é uma conjunção conformativa ( conforme, como, consoante ), Uma vez que é uma conjunção causal

    ( porque, pois, visto que, já que )

     

    CONFIA NO VERDADEIRO!

  • a)“Segundo consta, jactava-se (gabava-se) de tomar uma cachacinha antes do jogo, para aumentar a criatividade.” (Uma vez que) 

    Errada, pois a oração segundo consta expressa conformidade (para chegar a esta conclusão é imprescindível a leitura do parágrafo), e a locução conjuntiva entre parênteses, essencialmente, expressa finalidade.

     

     

    b) “Mas bastou ver o piloto brasileiro se preparando para uma corrida: era o primeiro a chegar no treino [...]” (No entanto) 

    Correta. Trata-se de oração adversativa (friso, é indispensável a leitura do parágrafo para a compreensão).

     

    c)“Cada época tem seus ídolos, pois eles são a tradução de anseios, esperanças, sonhos e identidade cultural daquele momento.” (porque) 

    Correta. Traz a oração uma explicação da anterior.

     

    d) “Admirávamos quem era talentoso por graça de Deus e desdenhávamos o sucesso originado do esforço [...].” (bem como)

    Correta. Traz a oração uma ideia de adição.

  • Grato pela explicação! 

  • CONJUNÇÃO CONFORMIDADE : segundo, conforme, como, consoante.

     

     

    GABARITO "A"

  • SEGUNDO: CONJUNÇÃO DE CONFORMIDADE

    UMA VEZ QUE: CONJUNÇÃO CAUSA

  • Segundo = conjunção subordinada conformativa 

    Uma vez que = conjução subordinada causal 

    -

    MNEMÔNICO das COORDENADAS

    3A + CE 

    MNEMÔNICO das SUBORDINADAS

    6C + FTP  

    --------

    COORDENADAS

    A (ditivas)

    A (dversativas)

    A (lternativas)

    +

    C (onclusivas)

    E (xplicativas)

    -

    6C + FTP 

    C(oncessivas)

    C(omparativas)

    C(ausais)

    C(ondicionais)

    C(onsecutivas

    C(onformativas)

    F(inais)

    T(emporais)

    P(roporcionais)

    -

     

    #semântica+exercíciodepreenchimento, isso que faz você feliz! 

     

     

  • O erro da A é gritante, mas na letra D não caberia uma conjunção adversativa?

    Tanto é que a primeira oração possui um sentido positivo, e a segunda tem um sentido negativo.

  • Papacapim Concurseiro

    Não caberia! A conjunção E, na alternativa D, dá idéia de adição  (Admirávamos E TAMBÉM desdenhávamos o sucesso...). Perceba que se trocassemos por outra conjunção, no caso adversativa como você sugeriu, o sentido da afirmativa seria alterado (Admirávamos entretanto/porém/mas desdenhávamos o sucesso... - Fica bem diferente, não é?)

  • EXCETO em: 

  • Para responder esta questão, exige-se conhecimento em morfologia. Entre parênteses em cada assertiva, foi colocada uma conjunção que pode substituir a da frase. O candidato deve indicar em qual assertiva essa conjunção é indicada incorretamente. Vejamos:

    a) Incorreta.

    Segundo consta, jactava-se de tomar uma cachacinha antes do jogo, para aumentar a criatividade.” (Uma vez que)

    A conjunção "segundo" é de conformidade e a locução conjuntiva "uma vez que" é de causa, dessa forma, uma não podendo substituir a outra, pois mudaria o sentido original.

    b) Correta.

    “Mas bastou ver o piloto brasileiro se preparando para uma corrida: era o primeiro a chegar no treino [...]” (No entanto)

    A conjunção "mas" é de adversidade e a locução conjuntiva "no entanto" também, dessa forma, uma pode substituir a outra sem alterar o sentido original.

    c) Correta.

    “Cada época tem seus ídolos, pois eles são a tradução de anseios, esperanças, sonhos e identidade cultural daquele momento.” (porque)

    A conjunção "pois" antes do verbo é de explicação  e a conjunção "porque" também, dessa forma, uma pode substituir a outra sem alterar o sentido original.

    d) Correta.

    “Admirávamos quem era talentoso por graça de Deus e desdenhávamos o sucesso originado do esforço [...].” (bem como)

    A conjunção "e" é de adição e a locução conjuntiva "bem como" também, dessa forma, uma pode substituir a outra sem alterar o sentido original.

    Gabarito do monitor: A