SóProvas


ID
2069884
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Sertãozinho - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia a crônica “Não parta”, de Antonio Prata, para responder à questão.

   

   Ter trinta e poucos anos significa, entre outras coisas, que é praticamente impossível reunir cinco casais num jantar sem que haja pelo menos uma grávida. E estar na presença de uma grávida significa, entre outras coisas, que é praticamente impossível falar de qualquer outro assunto que não daquele rotundo e miraculoso acontecimento, a desenrolar-se do lado de lá do umbigo em expansão.

    

  Enquanto a conversa gira em torno dos nomes cogitados, da emoção do ultrassom, dos diferentes modelos de carrinho, o clima costuma ser agradável e os convivas se aprazem diante da vida que se aproxima. Mas eis então que alguém pergunta: “e aí, vai ser parto normal ou cesárea?”, e toda possível harmonia vai pra cucuia.

   

  Num extremo, estão as mulheres que querem parir de cócoras, ao pé de um abacateiro, sob os cuidados de uma parteira de cem anos, tendo como anestesia apenas um chá de flor de macaúba e cantigas de roda de 1924. Na outra ponta, estão as que têm tremedeiras só de pensar em parto normal, pretendem ir direto pra cesárea, tomar uma injeção e acordar algumas horas depois, tendo no colo um bebê devidamente parido, lavado, escovado, penteado e com aquela pulseirinha vip no braço, já com nome, número de série e código de barras.

    

  Os dois lados acusam o outro de violência: as naturebas dizem que a cesárea é um choque; as artificialebas alegam que dar as costas à medicina é uma irresponsabilidade. Eu, que durante meses ouvi calado as discussões, pesei bastante os argumentos e cheguei, enfim, a uma conclusão: abaixo o nascimento! Viva a gravidez!

    

  Imaginem só a situação: os primeiros grãos de consciência germinam em seu cérebro. Você boia num líquido morninho – nem a gravidade, essa pequena e constante chateação, te aborrece. Você recebe alimento pelo umbigo. Você dorme, acorda, dorme, acorda e jamais tem que cortar as unhas dos pés. Então, de repente, o líquido se vai, as paredes te espremem, a fonte seca, a luz te cega e, daí pra frente, meu amigo, é só decadência: cólicas, fome, sede, pernilongos, decepções, contas a pagar. Eis um resumo de nossa existência: nove meses no paraíso, noventa anos no purgatório.

   

   Freud diz que todo amor que buscamos é um pálido substituto de nosso primeiro, único e grande amor: a mãe. Discordo. A mãe já é um pálido substituto de nosso primeiro, único e grande amor: a placenta. Tudo, daí pra frente – as religiões, os relacionamentos amorosos, a música pop, a semiótica* e a novela das oito – é apenas uma busca inútil e desesperada por um novo cordão umbilical, aquele cabo USB por onde fazíamos, em banda larga, o download da felicidade. Do parto em diante, meu caro leitor, meu caro companheiro de infortúnio, a vida é conexão discada, wi-fi mequetrefe, e em vão nos arrastamos por aí, atrás daquela impossível protoconexão.

    

   No próximo jantar, se estiver do lado de uma grávida, jogarei um talher no chão e, ao abaixar para pegá-lo, cochicharei bem rente à barriga: “te segura, garoto! Quando começar a tremedeira, agarra bem nas paredes, se enrola no cordão, carca os pés na borda e não sai, mesmo que te cutuquem com um fórceps, te estendam uma mão falsamente amiga, te sussurrem belas cantigas de roda, de 1924. Te segura, que o negócio aqui é roubada!”.


(Revista Ser Médico. Edição 57 – Outubro/Novembro/Dezembro de 2011. www.cremesp.org.br. Adaptado)

*semiótica: ciência dos modos de produção, de funcionamento e de recepção dos diferentes sistemas de sinais de comunicação entre indivíduos ou coletividades.

Leia as frases.


•  No início do jantar, os casais geralmente discutem temas como o nome para os bebês.

•  As mulheres consideradas naturebas preferem uma parteira experiente para realizar o parto.

•  O cronista imagina como é confortável estar na barriga da mãe e não ter a obrigação de cortar as unhas.


Assinale a alternativa em que, de acordo com a norma- -padrão da língua portuguesa, os pronomes substituem corretamente as expressões destacadas e estão colocados adequadamente nas frases.

Alternativas
Comentários
  • Os casais geralmente discutem os.   Geralmente (advérbio de modo) - Caso de próclise

    Os casais geralmente os discutem.

    Realizar+o - Ênclise de o,a,os,as ( Verbos terminados em R,S,Z + o,a,os,as substitui resperctivamente por lo,la,los,las.) 

    Realiza-lo

    ... e não ter a.   Não (palavra negativa)- Caso de próclise 

    ... e não a ter.

  • Próclise não é com advérbios curtos? Não entendi...

  • Para realizar o parto...

    "Para" é preposição... Também não seria caso de próclise?

    Alguém sabe o motivo de não ter ficado "para o realizar"?

    Por que a preferência foi a substituição realizar / realizá-lo?

  • "No início do jantar, os casais geralmente discutem temas como o nome para os bebês."
    Discutem é Verbo Transitivo Direto, portanto só aceita os pronomes: o, a, os, as
    Geralmente é advérbio, portanto é fator de atração e obriga o pronome a ficar do seu lado.

    "As mulheres consideradas naturebas preferem uma parteira experiente para realizar o parto."
    Realizar é Verbo Transitivo Direto, portanto só aceita os pronomes: o, a, os, as

    "O cronista imagina como é confortável estar na barriga da mãe e não ter a obrigação de cortar as unhas."
    Cortar é Verbo Transitivo Direto, portanto só aceita os pronomes: o, a, os, as

    Eliminando as opções erradas, GABARITO LETRA B

     

  • I - Discutem é VTD -> Complemento: o(s) e a(s). Ocorre próclise, pois "geralmente" é advérbio.
    II - Realizar é VTD -> Complemento: o(s) e a(s). Ocorre caso facultativo de ênclise (infinitivo antecedido da preposição "para").
    III - Ter é VTD -> Complemento: o(s) e a(s). Ocorre próclise a palavras negativas.

    GABARITO -> [B]

  • ~>  No início do jantar, os casais geralmente discutem temas como o nome para os bebês.    [VTD]

           No início do jantar, os casais geralmente os discutem 

     

    ~> As mulheres consideradas naturebas preferem uma parteira experiente para realizar o parto.    [VTD]

          As mulheres consideradas naturebas preferem uma parteira experiente para realizá-lo.

     

    ~> O cronista imagina como é confortável estar na barriga da mãe e não ter a obrigação de cortar as unhas.  [VTD]

          O cronista imagina como é confortável estar na barriga da mãe e não a ter.

  • ALGÚEM PODE ME EXPLICAR???


    Alguém pode me explicar...Qdo eu uso "Dicutem-no"??

    Eu sei que é o verbo DISCUTIR é VTD, mas não entra aquela regra que verbos terminados em -m, usa-se o "discutem-no"???

  • Jenifer, no caso do item I não cabe enclise porque o advérbio geralmente é uma palavra atrativa, então cabe a próclise.

     

    •  No início do jantar, os casais geralmente discutem temas como o nome para os bebês. (OS DISCUTEM) 

    •  As mulheres consideradas naturebas preferem uma parteira experiente para realizar o parto. (Pavras terminadas em R cabe LÁ, LOS, LAS) REALIZÁ-LO

    •  O cronista imagina como é confortável estar na barriga da mãe e não ter a obrigação de cortar as unhas. (Palavra negativa atrai o pronome para perto de si) OS TER

     

    Gab. B

  • Jenifer Lima, note que "geralmente" é um advérbio que atrai a próclise. Caso não existisse partícula atrativa, caberia o "discutem-nos". Corrijam-me se estiver errado.

  • Valeu, Luiz Eduardo!!! Sanou minha dúvida também!!! Tudo de bom!!!
  • Gente, o "para" na 2° frase não é uma Palavra Atrativa?

  • Sim, é atrativo, mas no caso em especifico é facultativo colocar antes ou depois, porque o verbo esta no infinitivo, porem, é recomendado sempre colocar após o verbo no infinito, recomendado não obrigatório.

    Aconteceu o mesmo na 3ª frase frase, só que por ser facultativo, ali ele optou por próclise.

  • o advérbio geralmente atrai o pronome e por isso não pode ser discutem-nos, ainda que o verbo termine em M. Precisa ser geralmente os discutem.