SóProvas


ID
207943
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A literatura é necessária à política quando ela dá voz
àquilo que não tem voz, quando dá um nome àquilo que ainda
não tem um nome, e especialmente àquilo que a linguagem política
exclui ou tenta excluir. Refiro-me, pois, aos aspectos, situações,
linguagens tanto do mundo exterior como do mundo
interior; às tendências reprimidas no indivíduo e na sociedade.
A literatura é como um ouvido que pode escutar além daquela
linguagem que a política entende; é como um olho que pode ver
além da escala cromática que a política percebe. Ao escritor,
precisamente por causa do individualismo solitário do seu trabalho,
pode acontecer explorar regiões que ninguém explorou
antes, dentro ou fora de si; fazer descobertas que cedo ou tarde
resultarão em campos essenciais para a consciência coletiva.
Essa ainda é uma utilidade muito indireta, não intencional,
casual. O escritor segue o seu caminho, e o acaso ou as
determinações sociais e psicológicas levam-no a descobrir alguma
coisa que pode se tornar importante também para a ação
política e social.
Mas há também, acredito eu, outro tipo de influência,
não sei se mais direta, mas decerto mais intencional por parte
da literatura, isto é, a capacidade de impor modelos de linguagem,
de visão, de imaginação, de trabalho mental, de correlação
dos fatos, em suma, a criação (e por criação entendo
organização e escolha) daquele gênero de valores modelares
que são a um tempo estéticos e éticos, essenciais em todo
projeto de ação, especialmente na vida política.
Se outrora a literatura era vista como espelho do mundo,
ou como uma expressão direta dos sentimentos, agora nós não
conseguimos mais esquecer que os livros são feitos de palavras,
de signos, de procedimentos de construção; não podemos
esquecer que o que os livros comunicam por vezes permanece
inconsciente para o próprio autor, que em todo livro há uma
parte que é do autor e uma parte que é obra anônima e coletiva.
(Adaptado de Ítalo Calvino, Assunto encerrado)

Está correto o emprego de ambos os elementos sublinhados na frase:

Alternativas
Comentários
  • A - A força da literatura não se manifesta apenas na beleza que ela erige no plano estético, mas também no valor ético em que ela se alça.

               O verbo erigir é transitivo direto, porém não exige preposição, de neste caso, em seu objeto.

    B - A tese pela qual o autor mostra-se convicto é a de que a literatura deve ser reconhecida como linguagem em cuja força está na construção.

                Não existe nenhuma regência que exija essa preposição "em".

    C - Correta.

    D - Não se usa preposição antes do pronome relativo cujo, salvo se por exigência do verbo, assim a preposição estará se referindo ao verbo e não ao pronome relativo, o que não é o caso.    No segundo caso o certo seria ....dúvida, e cuja produção se voltam todas as expectativas.

  • Complementando o comentário do colega David..

    LEtra E está errada.

    e) Sempre haverá divergências quanto ao grau de inconsciência do qual as obras são escritas e quanto às metas onde ela, de fato, consegue chegar.

    CHEGAR A algum lugar, portanto, o correto seria Aonde ela, de fato, consegue chegar.

  • Gabarito : LETRA C

    Eu fiz essa questão, vendo pelas palavras sublinhadas, logo vendo se estavam devidamente correto.
    Eu fiquei em duvida da letra C e A, mas analisei e vi que o termo " de que ", estava errado, pois não precisava empregar o 'de'

    Bons Estudos !!

    • a) A força da literatura não se manifesta apenas na beleza de que ela erige no plano estético, mas também no valor ético em que ela se alça.
    • b) A tese da pela qual o autor mostra-se convicto é a de que a literatura deve ser reconhecida como linguagem em cuja força está na construção.
    • c) Calvino mostra-se um entusiasta da tese segundo a qual caberia às obras literárias a função de falar aquilo sobre o que se costuma calar. (correta)
    • d) O autor é um romancista e crítico italiano de cujo valor não pairam quaisquer dúvidas, e a em cuja produção se voltam todas as expectativas.
    • e) Sempre haverá divergências quanto ao grau de inconsciência com do qual as obras são escritas e quanto às metas aonde ela, de fato, consegue chegar.
  • Explicando por que a alternativa c esta correta (só para complementar os comentários)

    O perigo da questão é esquecer que o pronome relativo qual é sempre antecedido de artigo ( que concorda com o elemento antecedente) e achar que o "a" que o antecede é a preposição exigida pelo verbo após ( caberia). Se assim fosse existiria a sobrando e, portanto a alternativa estaria errada mesmo. Vejamos que não há excessos de "a":


    ... da tese segundo a ( artigo que antecede o pronome relativo qual e concorda com tese) qual caberia às a ( preposição exigida pelo verbo caberia) + as (artigo do substantivo obras) obras literárias

    Falar aquilo sobre o que? Resposta: o que se costuma calar.
    Ficou na ordem direta mesmo

     

  • Não entendo o uso da palavra segundo qual verbo que a exige?
  • quando fiz a questão, pensei que a C estava errada por conta do SOBRE o que. O pronome relativo QUE não pode ser antecedido de preposição. Alguém sabe me explicar porque esse pensamento está errado?
  • questao do capiroto