SóProvas


ID
2222863
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de Santa Maria Madalena - RJ
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Longe dos olhos, longe da consciência


   Alguns anos atrás os jornais noticiaram, com destaque, que a praça da Sé estava voltando a ser um aprazível ponto turístico de São Paulo.

  A providência higienizadora do nosso marco zero consistiu na retirada dos menores que por lá perambulavam. Com a saneadora medida, a praça estava salva, voltava a ser nossa. A sua crônica sujeira não mais incomodava. Os menores estavam fora, pouco importava a permanência dos marreteiros, pregadores da Bíblia, comedores de faca e fogo, ciganos, repentistas e os saudáveis churrasquinhos e pastéis. Até os trombadões permaneceram. Aliás, é compreensível; é bem mais fácil remover as crianças do que deter os trombadões.

  Anteriormente, competente e sensível autoridade levou dezenas de menores para fora das fronteiras de nosso Estado. A operação expurgo foi também bastante noticiada.

  No Rio de Janeiro a providência teve caráter definitivo. As crianças foram mortas na Candelária.

   Em Belo Horizonte, também há algum tempo, uma operação militar foi montada para retirar das ruas cerca de 500 crianças. A imprensa exibiu fotos de crianças de até quatro anos, várias com chupetas na boca, sendo colocadas em camburões pelos amáveis e carinhosos soldados da milícia mineira, que souberam respeitar as crianças, deixando-as com suas chupetas.

  Riscar as crianças dos mapas urbanos já não está mais nos planos dos zelosos defensores das nossas urbes e da nossa incolumidade física. Viram ser essa uma missão inócua. Retiradas daqui ou dali, passam a habitar lá ou acolá. Saem da praça da Sé, vão para a praça Ramos ou para as praças da zona Leste, Oeste, Norte ou Sul. Saem de uma capital e vão para outra, de um extremo ao outro do país.

  Ironias à parte, cuidar dos menores para evitar o abandono, para suprir as suas carências e para protegê-los da violência que os atinge é obrigação humanitária de todos nós. E, para quem não tem a solidariedade como móvel de sua conduta, que aja ao menos impulsionado pelo egoísmo em nome da autopreservação.

  No entanto novamente se assiste ao retumbante coral repressivo, que entoa a surrada, falsa e enganosa solução da cadeia para os que já cometeram infrações e, para os demais, esperar que as cometam, para irem fazer companhia aos outros.

  A verdade é que sempre quisemos distância das nossas crianças carentes. Longe dos olhos, longe da consciência. A sociedade só se preocupa com os menores porque eles estão assaltando. Estivessem quietos, amargando inertes as suas carências, continuariam esquecidos e excluídos.

  Esse problema, reduzido à fórmula simplista de solução - diminuição da idade -, bem mostra como a questão criminal no país é tratada de forma leviana, demagógica e irresponsável. Colocam-se nas penitenciárias ou nas delegacias os maiores de 16 anos e ponto final. Tudo resolvido.

  A indagação pertinente é por que diminuir a responsabilidade penal só para 16 anos. Há crianças com dez ou oito anos assaltando? Vamos encarcerá-las. Melhor, nascituros também poderiam ser isolados. Dependendo das condições em que irão viver, poderão estar fadados a nos agredir futuramente. Não será melhor criá-los longe dos centros urbanos, isolá-los em rincões distantes para que não nos ponham em risco?

  Parece estar na hora - tardia, diga-se de passagem - de encararmos com honestidade e com olhos de ver a questão do crime no país, especialmente do menor infrator e do menor carente. Chega de demagogia e de hipocrisia. Vamos cuidar da criança e do adolescente. Aliás, não só do carente e do abandonado, mas também daqueles poucos bem nascidos, pois também estavam cometendo crimes. Destes esperamos que os pais acordem e imponham regras e limites, deem menos liberdade, facilidades e dinheiro e mais educação, respeito pelo próximo e conhecimento da trágica realidade do país.

  Em relação aos outros, esperamos que a sociedade e o Estado, em vez de os porem na cadeia, eduquem-nos, deem-lhes afeto e os ajudem a adquirir autoestima, única maneira de os proteger do crime de abandono.

OLIVEIRA, Antônio Cláudio Mariz de. Longe dos olhos, longe da consciência. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 ago. 2004. Brasil, Opinião, p. A3.

No caso da frase "NO ENTANTO novamente se assiste ao retumbante coral repressivo.”, a locução em destaque pode ser substituída, sem alteração de sentido, por:

Alternativas
Comentários
  • No entanto é conjunção adversativa!

    Cade? Cade a resposta?

  • Eric,

     

    - todaviaexpressa ideia contrária ao que foi informado na principal

    - mais exemplos desse tipo de conjunção: Embora, conquanto, não obstante, ainda que, mesmo que, se bem que, posto que, por mais que, por pior que, apesar de que, a despeito de, malgrado, em que pese...

     

    Gabarito: A

  • Banca amadora... Next

  • Por eliminação: B,C (conjunções conclusivas) D,E ( Conjunções explicativas )

    Conquanto: Introduz uma oração subordinada, indicando oposição em relação ao expresso na oração subordinante, mas sem a invalidar.

    Inovação esse tipo de questão em, mas poderia fazer por eliminação

     

    GABARITO: A

  • Isso vale produção? Uma adversativa equivaler a uma concessiva? Só sendo mesmo.

  •   Eu me dei ao trabalho de ir ate o site da banca para verificar uma possível anulação dessa questao. Resultado: o gabarito foi mantido.

    Creio que o comentário do Lucas Costa seja o mais acertado.

  • Só pra informar os pós-graduado em português que parece existir aqui concessiva é um contraste também 

  • Gabarito letra A

     

    No entanto é uma conjunção adversativa, assim como mas, porém, contudo, todavia.... e conquanto é uma conjunção concessiva, assim como mesmo que, por mais que, se bem que, embora....

    As conjuções adversativas reescrevem as concessivas e vice - versa, assim como as conclusivas reescrevem as consecutivas em ambos os casos a troca de uma pela outra não altera o sentido nem causa erro gramatical. 

  • Para guardar:

    CONquanto = CONcessiva (relação de oposição)

    Portanto = conclusiva

    Porquanto = causal

  • CONCESSIVA:                   AINDA QUE  

                                                   CONQUANTO

                                                 APESAR DE

                                                   A   DESPEITO

                                                   POSTO QUE

                                                   MESMO QUE

                                                   QUE = EMBORA

     

     

    CONCLUSÃO:                                 POR CONSEGUINTE,         LOGO,        PORTANTO,        ENFIM

                                                                 E  =       POR ISSO.      ENTÃO

                                                                   COMO      =     PORQUE ANTES DA ORAÇÃO PRINCIPAL

     

    CAUSAL/EXPLICATIVA:                                QUE = JÁ QUE, PORQUE

    TRISTE QUE ESTAVA NÃO FOI PASSEAR      

    PORQUANTO,  PORQUE, UMA VEZ QUE, POIS, JÁ QUE

                                   QUE:   se for possível substituir  a oração “porque motivo”