SóProvas


ID
2243815
Banca
IDECAN
Órgão
SEARH - RN
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                   Arte e natureza

      A natureza é uma grande musa. É por ela, e por meio dela, que sentimos a força criadora do entusiasmo – energia maior da inspiração que nos permite registrar, com prazer, a experiência da beleza refletida na harmonia das formas e no delicado equilíbrio das cores naturais. Para os antigos gregos, o entusiasmo (em + theos) nascia do encontro com o daimon, um gênio bondoso que seria o nosso guia pela vida inteira. Essa experiência nos permite também ter uma simpatia especial com o natural. E desperta a nossa criança interior, que estaria ansiosa para continuar brincando.

      Esse é o momento em que o fotógrafo de natureza pega sua câmera, pois escuta a voz interior da inspiração falar: “Vá, exercite suas asas, faça o registro, descubra sua luz e espalhe sua voz pelos quatro cantos do mundo!” O desejo começará a fazer as pazes com o coração para que todos possam aprender, apreciar e amar a natureza. Conjugar o natural com o artístico, fazer da imagem um ornamento, um texto atraente – eis as primeiras condições de uma estética do natural.

      O belo natural é a matriz primeira do belo artístico. Essa é a expressão mimética mais convincente da beleza ideal como tanto defendia Kant. É por isso que a arte ecológica tanto nos seduz, porque estimula o olhar na ampliação desse grande mistério que é ser. O artista é o que intui melhor esse sentimento e busca compulsivamente exprimi‐lo por meio do seu trabalho. O artista ecológico vive dessa temperatura e é por meio da natureza que ele fala, ou melhor, é por ela que ele aprende a falar com sua própria voz. E o momento da criação surge quando, levados por aquela força inspiradora, a intuição e a experiência racional se abraçam numa feliz alquimia. Fiat lux! É o instante em que esse encontro torna‐se obra, registro e documentação.

      Se o artista foi tocado pela musa, desse momento em diante será sempre favorecido por esse impulso. Essa força não é apenas a expressão passageira de uma vontade, mas uma busca pela vida toda na direção de algo ansioso por se tornar imagem. Esse algo é a obra de arte cuja função não vai ser apenas a de agradar, mas a de transmitir a mensagem daquela conivência.

      Quando o homem está inspirado, nada o detém. Se o sofrimento e toda sorte de obstáculos o atingem, ele cria na dor; e esse sacrifício (sacro‐ofício), ao término da obra, se tornaria um exemplo de persistência e de nobreza de espírito. Se está feliz, ele expressa sua felicidade no trabalho. Nesse instante, por exemplo, o fotógrafo da natureza, no sozinho da sua alma, poderá dizer: “Translúcida inspiração, eu a vejo em brilho com seu sorriso pintado em azul. Deixe‐me por um momento desenhar seu vulto na alquimia luminosa da minha lente!”

      Podemos concluir que o brilho de uma obra de arte nunca se apaga, isto é, ela nunca termina de dizer. No sentido de que, enquanto houver espectador para avaliar, apreciar, cuidar, guardar e restaurar, haverá obra e, assim, ela estará sempre acima do tempo. Desse tempo que destrói, desfigura e mata. O quadro “Guernica”, do pintor espanhol Pablo Picasso, por exemplo, devolve ao avaliador uma mensagem tão poderosa que aquela obra provocará surpresa e admiração enquanto existir um olhar que a contemple e avalie.

      E é esse olhar que faz da obra do tempo histórico uma surpreendente permanência, a despeito da perda do efêmero e do fugidio. No final, o artista, o espectador, a obra e o tempo se congratulam. É essa junção de forças que mantém vivo todo trabalho artístico. Ainda bem que a natureza sabe escolher com paciência seus artesãos. Isto é, aqueles que vão dizê‐la com suas próprias vozes, como o fotógrafo, o escultor, o desenhista, o músico e o pintor.

     (Alfeu Trancoso – Ambientalista e professor de Filosofia da PUC/ Minas.)

Nesse instante, por exemplo, o fotógrafo da natureza, no sozinho da sua alma, poderá dizer: ‘Translúcida inspiração, eu a vejo em brilho com seu sorriso pintado em azul.” O excerto possui uma figura de linguagem denominada

Alternativas
Comentários
  • Resposta: Letra B.

    A apóstrofe consiste em interpelação direta a alguém ou a alguma coisa personificada; em geral, apresenta vocativo expressivo. No trecho, identifica-se claramente o uso desse recurso por intermédio do vocativo Translúcida inspiração, referindo-se à inspiração personificada.

    Em relação às demais opções, nenhuma aparece no texto. A catacrese consiste no uso de expressão metafórica para designar algo, devido à inexistência ou ao desconhecimento de termo específico: pé da cadeira, asa da xícara etc. O polissíndeto representa figura de sintaxe caracterizada pela repetição de conjunção coordenativa: E falava e gritava e berrava e chorava... A paranomásia corresponde ao uso de parônimos, de palavras parecidas, em uma mesma oração ou período; é popularmente conhecido como trocadilho ou jogo de palavras: O que mais me preocupa nessa cidade é o tráfego, não o tráfico.

    Espero ter contribuído...

    Abraços!

  • Apóstrofe:   Consiste na "invocação" de alguém ou de alguma coisa personificada, de acordo com o objetivo do discurso que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidência com tal invocação.  Realiza-se por meio do vocativo. Exemplos: Moça, que fazes aí parada?  "Pai Nosso, que estais no céu..."

    "Liberdade, Liberdade, 
    Abre as asas sobre nós, 
     ..." (Osório Duque Estrada)

    http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil7.php
  • Catacrese

    /

    Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro "emprestado". Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original.

    Exemplos:

    "asa da xícara""batata da perna"

    "maçã do rosto""pé da mesa"

    "braço da cadeira""coroa do abacaxi"

    /////////////////////////////////////////////////////////////////////

    Apóstrofe

    /

       Consiste na "invocação" de alguém ou de alguma coisa personificada, de acordo com o objetivo do discurso que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidência com tal invocação.  Realiza-se por meio do vocativo. Exemplos:

    Moça, que fazes aí parada?
    "Pai Nosso, que estais no céu..."

    "Liberdade, Liberdade,
    Abre as asas sobre nós,
    Das lutas, na tempestade,
    Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)

    /////////////////////////////////////////////////////////////////////////

    Polissíndeto

    /

    É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos. Observe o exemplo:

    "Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)

    "Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da natureza.

    ///////////////////////////////////////////////////////////////////

    /

    paronomásia (ou paranomásia) é uma figura de linguagemcaracterizada pela utilização de palavras parônimas, ou seja, palavras com significados diferentes que se escrevem e se pronunciam de forma parecida.

    Exemplos de palavras parônimas:

    acidente e incidente;

    aferir e auferir;

    cumprimento e comprimento;

    descrição e discrição;

    eminente e iminente;

    fluvial e pluvial;

    fragrante e flagrante;

    geminada e germinada;

    precedente e procedente;

    tráfego e tráfico.

    Na paronomásica ocorre a realização de trocadilhos e jogo de palavras, com diversos intuitos: aumentar a expressividade e o caráter lúdico da mensagem, introduzir uma afirmação com duplo sentido, confundir o leitor,… é um recurso muito utilizado na publicidade e em textos humorísticos.

    Exemplos de paronomásia:

    O passarinho pousou e posou, sentindo-se uma águia.

    Se o dirigente fosse diligente, não haveria tanto incumprimento de prazos…

    Comemos fora todos os dias! A gente até dispensa a despensa.

    Você tem que ler muito, sobretudo se quiser escrever sobre tudo.

    Exemplos de paronomásia na literatura:

    “Com tais premissas, ele sem dúvida leva-nos às primícias.” (Padre Antônio Vieira)

    “Exportar é o que importa.” (Delfim Netto)

    “Sagres sagrou então a Descoberta/E partiu encoberto a descobrir.” (Miguel Torga)

  • Muito parecida com o vocativo,essa figura de linguagem chamada Apóstrofe!

  • Apóstrofe, invocação.

    "...´Translucida inspiração, eu a vejo.."

  • b) Apóstrofe.

     

     

    • Apóstrofe: É a interrupção que faz o orador ou escritor para se dirigir a pessoas ou coisas presentes ou ausentes, reais ou fictícias. Exemplo:

     

     

    "Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
    Em que mundo, em que estrela tu te escondes
    embuçado nos céus?" (Castro Alves)

     

     

    FONTE: CEGALLA

  • para lembrar da apóstrofe é só lembrar da missa;

    paranomásia, lembra do trava-língua.

    catacrese é o pé da mesa.

    polissíndeto é "vários síndetos" = e ..., e .... , e ...., ou ... , ou ....., ou ..... etc...

  • Dá vontade de chorar.

  • Realmente Gabriel Lucena, a vontade de chorar é grande e palpável.

  • Não acertei uma até agora, estou aos pratos IDECÃO
  • Apóstrofe (VOCATIVO):

     ‘Translúcida inspiração, eu a vejo em brilho com seu sorriso pintado em azul.”

    GABARITO:B