SóProvas


ID
2293360
Banca
FCC
Órgão
AL-MS
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A nuvem 

   − Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever toda semana sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar ninguém! 
   Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler? 
   Além disso, a verdade não está apenas nos buracos das ruas e outras mazelas. Não é verdade que as amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. Eles se irão como vieram, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as cinzas do meu crepúsculo.
   E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão − e seus tradicionais buracos.

(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana! Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, p. 179/180) 

Atente para as seguintes afirmações:


I. A fala do amigo, na abertura do texto, revela que ele atribui a um cronista profissional a função de se pronunciar o mais criticamente possível diante dos dramas existenciais maiores que afligem a humanidade.

II. O cronista supõe que seus leitores não esperam que ele se dedique a protestar o tempo todo, deduzindo-se daí que ele considera a possibilidade de uma crônica adotar uma tonalidade mais leve.

III. O escritor se vale desta crônica, “A nuvem”, para sustentar a convicção de que a maior parte de seus textos corresponde perfeitamente à expectativa de seu amigo.


Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • Gabarito E.

     

    I. Errada. Não há generalização em relação aos demais cronistas: "Fico admirado como é que você [...]".

     

    II. Correta. "Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler?"

     

    III. Errada. O autor pontua, com certa ironia, que escreveu algo contrário ao entendimento do amigo. Isso faz com que o cronista queira retornar às mazelas: "E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão − e seus tradicionais buracos".

  • I. Ele não atribui nenhuma função ao cronista, por exmeplo, ele não está dizendo como é que um cronista deveria escrever, no caso, criticando os dramas existentes na humanidade, ele apenas faz um comentário.

    II. Acho que não precisa de explicação, basta ler o texto. Está óbvio. Correto.

    III. a afirmativa "I" responde essa. Pelo contrário, se fosse seguir o gosto do amigo, deveria o cronista "metralhar de críticas" geral, em todas as suas obras. 

  • I.  Errado. Na concepção "do amigo", podemos deduzir que só pelo motivo de morar naquela cidade deveria reclamar, etc. "Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever toda semana sem reclamar, sem protestar[...]". E não que todo e qualquer cronista profissional o deveria fazer como afirma a questão.

    II. Certo. Segundo o autor, escrever constatemente reclamações, protestos, e críticas, entediaria os seus leitores: "Mas se eu ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler?"

    III. Errado. O escritor vale-se da crônica para esclarecer com ironia "o amigo", e não para sustentar que seus escritos corresponde a expectativa de seu amigo. 
    Mas qual é expectativa do amigo?  é que, vez ou outra, o escritor escrevesse críticas, reclamações e protestos em seus escritos, por causa que de "morar naquela cidade" e não o contrário escrevendo sobre coisas banais e ordinárias.

  • GABARITO: LETRA E.

     

     
    I. A fala do amigo, na abertura do texto, revela que ele atribui a um cronista profissional a função de se pronunciar o mais criticamente possível diante dos dramas existenciais maiores que afligem a humanidade. - INCORRETA.

     

    Vejamos: "− Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever toda semana sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar ninguém!"

    Esse trecho revela que o amigo atribui a um cronista profissional a função de criticar os problemas da cidade, e não os dramas existenciais da humanidade. Assim, a assertiva está ERRADA.

     

    II. O cronista supõe que seus leitores não esperam que ele se dedique a protestar o tempo todo, deduzindo-se daí que ele considera a possibilidade de uma crônica adotar uma tonalidade mais leve. CORRETA.

     

    Vejamos: "Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler?"

    O cronista supõe que seus leitores não irão gostar de ler apenas críticas e protestos o tempo todo. Assim, ele considera que a crônica pode abordar temas mais leves, como as amendoeiras que haviam dado "um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar". A assertiva está CORRETA.

     

    III. O escritor se vale desta crônica, “A nuvem”, para sustentar a convicção de que a maior parte de seus textos corresponde perfeitamente à expectativa de seu amigo. - INCORRETA.

     

    O amigo do escritor espera que um cronista escreva sobre os problemas da cidade, criticando, protestando. O escritor afirma que até tece algumas críticas, mas prefere abordar temas mais leves. Assim, ele não corresponde às expectativas de seu amigo. A assertiva está errada.

     

    Fonte: Professora Denise Carneiro