SóProvas


ID
2300047
Banca
CONSULPLAN
Órgão
CREA-RJ
Ano
2011
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Os cabeças-sujas e seu mundinho

A pessoa que joga lixo na rua, na calçada ou na praia se revela portadora de uma disfunção mental e social que a inabilita para o sucesso no atual estágio da civilização.

    Que tipo de gente joga lixo na rua, pela janela do carro ou deixa a praia emporcalhada quando sai? Uma das respostas corretas é: um tipo que está se tornando mais raro. Sim. A atual geração de adultos foi criança em um tempo em que jogar papel de bala ou a caixa vazia de biscoitos pela janela do carro quase nunca provocava uma bronca paterna. Foi adolescente quando amassar o maço vazio de cigarros e chutá-lo para longe não despertava na audiência nenhuma reação especial, além de um “vai ser perna de pau assim na China”. Chegou à idade adulta dando como certo que aquelas pessoas de macacão com a sigla do Serviço de Limpeza Urbana estampada nas costas precisam trabalhar e, por isso, vamos contribuir sujando as ruas. Bem, isso mudou. O zeitgeist, o espírito do nosso tempo, pode não impedir, mas, pelo menos, não impele mais ninguém com algum grau de conexão com o atual estágio civilizatório da humanidade a se livrar de detritos em lugares públicos sem que isso tenha um peso, uma consequência. É feio. É um ato que contraria a ideia tão prevalente da sustentabilidade do planeta e da preciosidade que são os mananciais de água limpa, as porções de terra não contaminadas e as golfadas de ar puro.

    E, no entanto, as pessoas ainda sujam, e muito as cidades impunemente.

    Só no mês de janeiro, 3000 toneladas de lixo foram recolhidas das praias cariocas – guimbas de cigarro, palitos de picolé, cocô de cachorro e restos de alimento. Empilhadas, essas evidências de vida pouco inteligente lotariam cinco piscinas olímpicas. Resume o historiador Marco Antônio Villa: “Ao contrário de cidadãos dos países desenvolvidos, o brasileiro só vê como responsabilidade sua a própria casa e não nutre nenhum senso de dever sobre os espaços que compartilha com os outros – um claro sinal de atraso”.

    O flagrante descaso com o bem público tem suas raízes fincadas na história, desde os tempos do Brasil colônia. No período escravocrata, a aristocracia saía a passear sempre com as mãos livres, escoltada por serviçais que não só carregavam seus pertences como limpavam a sujeira que ia atirando às calçadas. Não raro, o rei Dom João VI fazia suas necessidades no meio da rua, hábito também cultivado pelo filho, Pedro I, e ainda hoje presente. Foi com a instauração da República que o Estado assumiu, de forma sistemática, o protagonismo no recolhimento do lixo, mas isso não significou, nem de longe, nenhuma mudança de mentalidade por parte dos brasileiros. Cuidar da sujeira continuou a ser algo visto como aquilo que cabe a terceiros – jamais a si mesmo.

    Existe uma relação direta entre o nível de educação de um povo e a maneira como ele lida com o seu lixo. Não por acaso, o brasileiro está em situação pior que o cidadão do Primeiro Mundo quando se mede a montanha de lixo nas ruas deixada por cada um deles.

    Desde a Antiguidade, as grandes cidades do mundo, que já foram insalubres um dia, só conseguiram deixar essa condição à custa de um intenso processo de urbanização, aliado à mobilização dos cidadãos e a severas punições em forma de multa. “A concepção do bem público como algo valoroso nunca é espontânea, mas, sim, fruto de um forte empenho por parte do Estado e das famílias”, diz o filósofo Roberto Romano.

(Veja 09/03/2011, pág. 72 / com adaptações)

Sobre os aspectos linguísticos, assinale a alternativa correta:

Alternativas
Comentários
  • Pessoal, por que a letra B está errada? 

    Não consegui diferenciar o "que". Algum macete?!

    Obrigada,

  • c)A palavra “que”, no início do texto: “Que tipo de gente joga... quando sai?” e o do trecho “... é: um tipo que está se tornando...” pertencem à mesma classe gramatical.

     

    Errada: O primeiro QUE  é  pronome interrogativo... o segundo QUE é um pronome relativo. 

  • Yula, a B esta errada porque o "lo" se refere ao maço de cigarro vazio, pois quem chuta chuta algo.

    Foi adolescente quando amassar o maço vazio de cigarros e chutá-lo (o maço de cigarro vazio e não adolecete)

  •  

         Ci.vi.li.za..rio  =   PAROXÍTONAS     =       SÍLABAS MAIS FORTE A PENÚLTIMA    

    Indiscutível  – paroxítona terminada em L

    Acreditável

     

       JA-NE-LA

     

     

                                -     es..ri.to     =        PRO   -  PAR     -  OXÍ     -    TONAS        

     

    TODAS SÃO ACENTUADAS     =        

                         SILABAS MAIS FORTE A ANTEPENÚLTIMA   -XI-MO

    Sílaba tônica: ANTEPENÚLTIMA

    As proparoxítonas são TODAS acentuadas graficamente.

    Trá - gico, patético, árvore, ESPÍRITO

     

                  democrática - ética - único =            todas são proparoxítonas

  • Arya Stark, o pronome lo em  “chutá-lo” não refere-se a "adolescente", mas sim a "maço vazio de cigarros".

  • Gabarito: A.

    Questão muito boa.

  • Marquei a letra A por estar mais óbvia, entretanto caberia recurso para a letra C, visto que os dois "que" pertencem à mesma classe gramatical. Ambos são pronomes, independentemente da especificidade do pronome. Considerei a letra A por ser "mais correta" que a letra C.

    "Segundo um estudo morfológico da língua portuguesa, as palavras podem ser analisadas e catalogadas em dez classes de palavras ou classes gramaticais distintas, sendo elas: substantivo, artigo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. "

    Fonte: https://www.normaculta.com.br/classes-gramaticais/

    Abraços.

    Thiago Lemos #foco

  • Carinha do Japonês

    ( __ __) - > Parênteses e travessões (Cabeça e olhos)

    .. -> 2 pontos (nariz)

    ,, -> aspas (bigodinho)

  • embora a letra A seja a correta, a letra C tb está correta pq ambos os QUE são pronomes e pertencem a mesma classe gramatical, independente de ser interrogativo e relativo, continua sendo pertencente a classe gramatical de pronomes, caberia recurso.

  •  A letra B está errada, porque o "lo" de chuta-lo, se refere a maço de cigarro e não a adolescente.