SóProvas


ID
2335786
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Qual o sabor da sua infância?
Os pratos que marcaram nossas vidas podem nos
revelar
FLÁVIA YURI OSHIMA

   Sou louca por sopas. Experimento qualquer sabor que apareça na minha frente. Meu paladar acolhe sopas quentes e frias, cremosas e ralas, salgadas, amargas, apimentadas e doces (no meu critério, canjica é sopa). Se tiver sopa no cardápio, to dentro. Já vi muitos dos meus amigos tremerem de gastura por ver aquele caldo fumegante na minha colher num almoço de verão. Durante muito tempo, quando me importava mais com a opinião dos outros, tentei disfarçar. Mas a atração que sinto por uma tigela cheia de caldo bem temperado sempre foi maior que eu. Tomei consciência da sopa em minha vida quando li A morte do gourmet, da filósofa francesa Muriel Barbery, em 2000. Não faço ideia se ela gosta de sopa. Também não é o tipo de alimento favorito do gourmet. Ocorre que, na história criada por Muriel, Pierre Arthens é um crítico gastronômico à beira da morte, que passa seus últimos dias recordando os sabores de sua vida. Cada um deles é relacionado a um momento ou a alguém. O livro é fino: 124 páginas. Mas toma tempo. É impossível ler A morte.... sem pensar nos sabores da própria vida. Muitas vezes, as lembranças vêm acompanhadas de uma pausa para comer uma coisinha.
   A brincadeira vai longe de acordo com as relações que criamos. Dá para usar os namorados como referências. Qual o sabor que mais me dava prazer quando namorava sicrano? Dá para usar estilos também. Qual o prato de que mais gostava quando era gótica? E quando era metida a bicho grilo de butique? Pode ser divertido, ridículo e emocionante ao mesmo tempo. 
   A ordem cronológica funciona. Tentei lembrar o primeiro sabor que me deu prazer. Cheguei à canja de galinha rala que a sogra da minha madrinha cozinhava todos os dias no jantar. Com uma avó japonesa e outra italiana, ambas exímias cozinheiras, pensar na canja rala da avó de outra pessoa soa como desvio de caráter. Por minhas avós e por vaidade, tentei enganar a memória. Quem sabe me lembraria de algo mais sofisticado ou charmoso, ligado às minhas raízes, como um missoshiro com peixe seco e shiitake, ou um capeletti in brodo recheado. Não rolou. Não consigo me esquecer da tal canja rala, feita com arroz, cenoura, pouco frango, sal e só.
  Resolvi apurar as primeiras memórias de outros. Caldo verde era o gosto da infância do poeta português Fernando Pessoa (fonte: À mesa com Fernando Pessoa, de Luís Machado). A Nena, babá dos meus filhos, se lembra do bife que a avó fritava às seis da manhã para a marmita do tio. Quando sobrava um para ela, a pequena Nena se lambuzava. O quindim feito pelo avô português era o sabor mais saudoso do poeta Vinícius de Moraes (fonte: Pois sou um bom cozinheiro, de Vinícius de Moraes). Guimarães Rosa gostava de biscoito de nata e de biscoito de polvilho (fonte: ensaio sobre o livro Relembramentos, de Vilma Guimarães Rosa).
  Meu marido se lembrou de um prato de feijão com arroz que a mãe fez para ele, igualzinho ao que Zilka Salaberry fez para Tarcísio Meira na novela Irmãos Coragem. Minha filha de seis anos se lembrou do mamão. Meu filho de nove anos, da laranja lima (nenhum dos dois se lembrou das papinhas orgânicas que eu fazia logo cedo antes de ir para o trabalho). 
   Me dei por satisfeita. A canja não é menos nobre que o bife da Nena ou o quindim do Vinícius.
   O escritor francês Marcel Proust também me ajudou a encampar em público, aqui na internet, minha história de amor por uma canja rala. Se um bolinho madeleine foi capaz de inspirar uma obra da envergadura de Em busca do tempo perdido, como afirmou Proust, porque eu não poderia me reconfortar, em paz, com a sopa rala feita por uma avó que nem era minha?
   As comidas têm um efeito real sobre nós. Podem nos relaxar, nos excitar, nos levar a um estado de criatividade. Fazer essa viagem até a mais longínqua infância em busca de um sabor que a represente também é uma forma de nos (re)conhecer. E você, qual o sabor da sua infância?

Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/Flavia-Yuri-Oshima/noticia/2014/06/bqual-o-saborb-da-sua-infancia.html

Em “Meu filho de nove anos, da laranja lima...”, a vírgula foi utilizada para

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: E

     

    Trata-se de zeugma. Ocorre quando é feita a omissão de um termo já mencionado anteriormente. 

     

    Exemplo:

    Ele gosta de geografia; eu, de português.

     

    Observem que há um texto associado à questão.

     

    "Minha filha de seis anos se lembrou do mamão. Meu filho de nove anos, da laranja lima(...)"

  • Zeugma é uma figura de linguagem na língua portuguesa, que consiste na omissão de uma palavra já mencionada numa frase.

    Para evitar a repetição sucessiva de termos repetidos, o zeugma garante a omissão destas palavras, sem prejudicar o entendimento total da oração, graças ao contexto e aos elementos gráficos que fazem parte da frase.

    Exemplo: “Eu gosto de sorvete; Maria, de chocolate” / “Sua casa é enorme, a minha é mais simples”.

  • Ocorreu ZEUGMA

  • no caso Omitiu q palavra? 

  • Zeugma, elipse 

  • Houve a omissão do termo " se lembro da...", por isso que ocorreu a vírgula para representá-lo.

  • instituto aocp gosta muito da fig ZEUGMA.

  • Essa banca é safada, não colocou a linha para referência aí se você não ler o período não tem como acertar essa questão.

    Gabarito letra e)

  • essa é a questão que se não voltar no texto vc erra!

    eu errei pq tentei responder lendo só o enunciado, mas se tivesse voltado, tinha visto a supressão do termo "se lembro da"

    ocorreu zeugma

  • Também chamada de vígula vicária... aquela que pode substituir uma expressão, verbo, etc.

    Minha filha de seis anos se lembrou do mamão.

    Meu filho de nove anos, da laranja lima...

  • 5º parágrafo - "Meu marido se lembrou de um prato de feijão com arroz que a mãe fez para ele, igualzinho ao que Zilka Salaberry fez para Tarcísio Meira na novela Irmãos Coragem. Minha filha de seis anos se lembrou do mamão. Meu filho de nove anos, da laranja lima (nenhum dos dois se lembrou das papinhas orgânicas que eu fazia logo cedo antes de ir para o trabalho)."

  • essa tinha que ler o trecho para marcar.

  • uso da virgula por conta da elipse,

    (...)meu filho de 9 anos "se lembrou" da laranja(...)

    para poder responder essa questão é obrigatório a leitura do texto.

  • No texto: "Minha filha de seis anos se lembrou do mamão. Meu filho de nove anos, da laranja lima"...Ocorreu a supressão do termo: "se lembrou". Figura de linguagem (zeugma).

    Gabarito: E

  • Aqui temos a vírgula vicária, que é uma figura de linguagem chamada zeugma. Ocorre quando a vírgula supre o verbo ou expressão já mencionado anteriormente.

    1- "Minha filha de seis anos se lembrou do mamão. Meu filho de nove anos, da laranja lima"

    2- Se não tivesse a vírgula vicária ficaria: "Minha filha de seis anos lembrou do mamão. Meu filho de nove anos LEMBROU da laranja lima"