SóProvas


ID
2335801
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Qual o sabor da sua infância?
Os pratos que marcaram nossas vidas podem nos
revelar
FLÁVIA YURI OSHIMA

   Sou louca por sopas. Experimento qualquer sabor que apareça na minha frente. Meu paladar acolhe sopas quentes e frias, cremosas e ralas, salgadas, amargas, apimentadas e doces (no meu critério, canjica é sopa). Se tiver sopa no cardápio, to dentro. Já vi muitos dos meus amigos tremerem de gastura por ver aquele caldo fumegante na minha colher num almoço de verão. Durante muito tempo, quando me importava mais com a opinião dos outros, tentei disfarçar. Mas a atração que sinto por uma tigela cheia de caldo bem temperado sempre foi maior que eu. Tomei consciência da sopa em minha vida quando li A morte do gourmet, da filósofa francesa Muriel Barbery, em 2000. Não faço ideia se ela gosta de sopa. Também não é o tipo de alimento favorito do gourmet. Ocorre que, na história criada por Muriel, Pierre Arthens é um crítico gastronômico à beira da morte, que passa seus últimos dias recordando os sabores de sua vida. Cada um deles é relacionado a um momento ou a alguém. O livro é fino: 124 páginas. Mas toma tempo. É impossível ler A morte.... sem pensar nos sabores da própria vida. Muitas vezes, as lembranças vêm acompanhadas de uma pausa para comer uma coisinha.
   A brincadeira vai longe de acordo com as relações que criamos. Dá para usar os namorados como referências. Qual o sabor que mais me dava prazer quando namorava sicrano? Dá para usar estilos também. Qual o prato de que mais gostava quando era gótica? E quando era metida a bicho grilo de butique? Pode ser divertido, ridículo e emocionante ao mesmo tempo. 
   A ordem cronológica funciona. Tentei lembrar o primeiro sabor que me deu prazer. Cheguei à canja de galinha rala que a sogra da minha madrinha cozinhava todos os dias no jantar. Com uma avó japonesa e outra italiana, ambas exímias cozinheiras, pensar na canja rala da avó de outra pessoa soa como desvio de caráter. Por minhas avós e por vaidade, tentei enganar a memória. Quem sabe me lembraria de algo mais sofisticado ou charmoso, ligado às minhas raízes, como um missoshiro com peixe seco e shiitake, ou um capeletti in brodo recheado. Não rolou. Não consigo me esquecer da tal canja rala, feita com arroz, cenoura, pouco frango, sal e só.
  Resolvi apurar as primeiras memórias de outros. Caldo verde era o gosto da infância do poeta português Fernando Pessoa (fonte: À mesa com Fernando Pessoa, de Luís Machado). A Nena, babá dos meus filhos, se lembra do bife que a avó fritava às seis da manhã para a marmita do tio. Quando sobrava um para ela, a pequena Nena se lambuzava. O quindim feito pelo avô português era o sabor mais saudoso do poeta Vinícius de Moraes (fonte: Pois sou um bom cozinheiro, de Vinícius de Moraes). Guimarães Rosa gostava de biscoito de nata e de biscoito de polvilho (fonte: ensaio sobre o livro Relembramentos, de Vilma Guimarães Rosa).
  Meu marido se lembrou de um prato de feijão com arroz que a mãe fez para ele, igualzinho ao que Zilka Salaberry fez para Tarcísio Meira na novela Irmãos Coragem. Minha filha de seis anos se lembrou do mamão. Meu filho de nove anos, da laranja lima (nenhum dos dois se lembrou das papinhas orgânicas que eu fazia logo cedo antes de ir para o trabalho). 
   Me dei por satisfeita. A canja não é menos nobre que o bife da Nena ou o quindim do Vinícius.
   O escritor francês Marcel Proust também me ajudou a encampar em público, aqui na internet, minha história de amor por uma canja rala. Se um bolinho madeleine foi capaz de inspirar uma obra da envergadura de Em busca do tempo perdido, como afirmou Proust, porque eu não poderia me reconfortar, em paz, com a sopa rala feita por uma avó que nem era minha?
   As comidas têm um efeito real sobre nós. Podem nos relaxar, nos excitar, nos levar a um estado de criatividade. Fazer essa viagem até a mais longínqua infância em busca de um sabor que a represente também é uma forma de nos (re)conhecer. E você, qual o sabor da sua infância?

Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/Flavia-Yuri-Oshima/noticia/2014/06/bqual-o-saborb-da-sua-infancia.html

Em “A Nena, babá dos meus filhos, se lembra do bife que a avó fritava às seis da manhã para a marmita do tio.”, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • A Nena ( artigo ),

    babá dos meus filhos, se lembra do bife que a avó fritava ( artigo )

     às seis da manhã ( preposição + artigo )

    para a marmita do tio.” ( artigo )

     

    Gabarito ( C )

     Obs: Quando meus comentários estiverem desatualizados ou errados, mandem-me msgns no privado, por favor, porque irei corrigi-los.

  • Com a crase de às vem a pegadinha de preposição + artigo

  • Não me toquei do a artigo mais a preposição :/
  • A ( artigo) Nena, babá dos meus filhos, se lembra do bife que a ( artigo)  avó fritava às( crase = preposição + artigo)  seis da manhã para a ( artigo)  marmita do tio.”

    4 artigos e 1 preposição! 

  • Que fritava ao meio dia. LO governo há uma preposição mais artigo a a às seis
  • Questão inteligente, cheia de maldade... Gostei!

  • Sagaz! Mesmo no termo "às" precisamos considerar que há tanto uma preposição quanto um artigo definido ("a" e "a", respectivamente).

  • Rapaaaaaaaaz............

  • Caí igual a um patinho. Nao caio mais!

  • PEGADINHA...

  • Caramba, pegadinha master

  • kkkkkkkkkkkkk maldade

  • Que isso Deus dos céus.

  • Que isso Deus dos céus.

  • Será que esse examinador tem vida sexual regular e bondade no coração ? Oremos !

  • Falta de Deus no coração.

  • A melhor forma de não cair nessas pegadinhas é aprender a utilizar o "estudo tentacular". Estude a maioria dos assuntos de português na semana, pois os assuntos estão interligados, morfológica e sintaticamente. O "estudo linear" ou "um assunto por vez" só é útil no começo. Ao finalizar e ter um bom domínio da disciplina, aprenda a estudar a maioria dos assuntos ao longo da semana. Ser-lhe-á demasiadamente útil para se esquivar de pegadinhas. Abraços!

  • A questão não é difícil e nem foi tendenciosa, basta ter atenção ao fato que à = artigo +preposição, não podemos esquecer isso!

  • Questão muito ruim e mal elaborada. Não se pode dizer que todos são artigos. Existe um artigo + prep na 3 ocorrência e no gabarito é afirmado categoricamente que são todos artigos definidos femininos. Experimente dizer que ART + pre é uma coisa. Artigo é outra.
  • Fico feliz de estar entre o 45% q acertou, embora a questão não me parece ser difícil, ao final, ainda q unido à preposição, o artigo ainda está presente.

  • Questão fácil mas que necessita atenção. São 3 artigos A + " ás seis ) Que é a junção da prep+art . Ou seja , sao artigos + 1 artigo da crase + 1 preposição da crase ) Letra B -> 4 artigos e 1 prep,

  • CRASE= preposição + artigo

    ARTIGO: precede substantivos, definindo-os ou não.

    PREPOSIÇÃO: ligam dois termos de um enunciado, de modo que o segundo termo complementa o sentido do primeiro.

  • R: letra C