Texto 5
Planejando seu texto: falado e escrito
Vamos supor que começássemos a escrever usando a
mesma variedade da língua que se usa na fala: chamei
ela, a casa que eu moro, tá bem etc. Isso não significaria,
em absoluto, que os textos escritos ficariam idênticos
ao que vou chamar, por comodidade, de textos falados.
Acontece que há outras diferenças, que acabam
sendo mais importantes do que as diferenças gramaticais,
e que são impossíveis de eliminar, porque não
decorrem de convenção social, mas das limitações e
recursos do meio empregado: a fala ou a escrita.
Para dar um exemplo: um leitor pode diminuir a velocidade
de leitura, e pode reler um trecho se achar que
não entendeu direito. Mas um ouvinte não tem esses
recursos: se não entendeu, precisa pedir ao falante
que repita - e não pode ficar fazendo isso o tempo
todo, para não perturbar a própria situação de comunicação,
e acabarem os dois se confundindo na conversa.
Isso tem consequências para a estruturação do
texto. Um autor pode escrever de maneira muito mais
sintética, sem repetições e construindo suas frases em
um plano amplo, como por exemplo:
O Durval, que toma conta da escola, saiu correndo
atrás dos meninos da terceira série, que tinham ido
para a rua, a fim de vigiá-los.
Essa frase funciona perfeitamente na escrita. Mas se
for falada desse jeito - e principalmente se as outras
frases do texto forem todas estruturadas assim - vai ficar difícil de entender. O ouvinte, que não pode
voltar atrás, pode não se lembrar de quem é que vai
"vigiar'; ou quem são "-los" ou quem é que tinha ido
para a rua. Essa passagem apareceria (e, na verdade,
apareceu) em um texto falado com a seguinte forma:
aí, saiu o Durval saiu correndo atrás dos menino,
né, o que toma conta lá da escola, pra poder, saiu
correndo atrás dos menino, poder tomar conta dos
menino. Os menino tinha ido pra rua, menino da
terceira série.
PERINI, Mário A. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios. São
Paulo: Parábola Editorial, 2004. p. 65-67.
Considere os segmentos extraídos do texto 5.
1. "Isso não significaria, em absoluto' que os
textos escritos ficariam idênticos ao que vou
chamar, por comodidade, de textos falados"
2. "Acontece que há outras diferenças, que acabam
sendo mais importantes do que as diferenças
gramaticais, e que são impossíveis de
eliminar, porque não decorrem de convenção
social, mas das limitações e recursos do meio
empregado: a fala ou a escrita"
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as
falsas ( F ).
( ) Em 1, a expressão "em absoluto" está funcionando
como um modalizador epistêmico
asseverativo, indicando que o autor demonstra
comprometimento em seu argumento.
( ) Em 1, a expressão "por comodidade" está funcionando
como um modalizador avaliativo,
cujo escopo recai sobre todo o enunciado.
( ) Em 2, "porque" é um conector que estabelece
uma relação lógico-semântica de causa e
consequência relativamente ao evento representado
no enunciado anterior.
( ) Em 2, o segmento "que acabam [...]diferenças
gramaticais" é uma oração adjetiva explicativa,
intercalada entre o sujeito e o predicado da
oração principal.
( ) Em 2, o sintagma nominal "o meio empregado"
estabelece uma remissão por referenciação
catafórica.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta,
de cima para baixo.