SóProvas


ID
2405083
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Colégio Pedro II
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                                                                     MICHAEL STIVELMAN


Empresário, 84 anos. É presidente do banco Cédula. Sobrevivente 

do Holocausto, escreveu os livros A marca dos genocídios e A marcha.


      “Eu não só vi o Holocausto: eu o vivi. E sobrevivi para contar. Fui um dos poucos de uma família de 79 pessoas. Foi em julho de 1941 que os soldados alemães chegaram ao nosso povoado: Secureni, que ficava na então Bessarábia (hoje território da Ucrânia). Não demorou a vir pelos altofalantes a ordem para que todos os judeus se reunissem na manhã seguinte, na praça próxima ao cemitério judaico. Devíamos levar nossos pertences e mantimentos. Quem não obedecesse seria fuzilado. Começou ali nossa marcha de 1.500 quilômetros - que fizemos sujos, doentes e famintos. Marchar longas distâncias era uma das formas que os nazistas usavam para exterminar os judeus. Aprendemos a aceitar a morte, de tão corriqueira.

      Como sobrevivi? Graças aos valentes do povo ucraniano, que correram risco para salvar inocentes. Já em outubro daquele ano, na Ucrânia, minha mãe perdeu as forças em decorrência do tifo, uma doença comum durante a guerra. Conseguimos nos esconder numa vala. Com medo de que fôssemos descobertos, ela me pediu para abandoná-la. A decisão era complicada - me salvar, abandonando-a, ou ficar e correr o risco de ser capturado e morto. Eu fiquei. Ao anoitecer, vimos luzes em um povoado. Batemos numa porta, que foi aberta por uma mulher e sua filha, as duas cristãs. Comovidas com nossa história, elas nos acolheram e ficamos escondidos.

      Em setembro de 1941, eu, minha mãe e meu pai passávamos perto de uma floresta. Lembro ainda das trincheiras cavadas e do cheiro de corpos em decomposição. Soldados convocavam homens mais velhos para ajudar na limpeza da estrada. Era mentira. Meu pai foi. Estava magro, com semblante abatido - lembro ainda que conversou alguns minutos com minha mãe. Beijou-me várias vezes e pediu que cuidasse dela. Nunca mais o vi. Foi fuzilado e jogado numa vala comum. Em 1944, depois de o Exército russo libertar os judeus, voltei ao lugar onde ele tinha morrido. Era primavera e tudo florescia na floresta - mas eu só me lembrava do dia cinza de anos atrás. Disse então um kadish, a prece milenar dos órfãos e enlutados judeus, com três anos de atraso. 

      Mas este não é um depoimento só de tristeza. Hitler quis construir um império de 1.000 anos. Não durou nem 15. Eu pude reconstruir minha vida no Brasil, esta terra abençoada. Minha história é prova de que é possível seguir em frente, mesmo que tenha lembranças tão terríveis como a do Holocausto. Como se faz isso? Vivendo um dia de cada vez, apoiando-se no amor que sentimos por nossa família. Não me esqueci do que passei. Ainda tenho pesadelos. Mas isso não encerrou minha vida. Encontrei o amor, tive meus filhos e reencontrei a alegria. Vim para o Brasil com minha mãe, quando eu tinha 20 anos. Parte de minha família já tinha se estabelecido no Recife e no Rio de Janeiro desde 1906. Escolhi o Rio. Quando cheguei, trabalhei como vendedor ambulante, batendo de porta em porta. Ainda me lembro da primeira venda: um cordão de ouro com uma medalha e um relógio. A dívida era registrada num cartão, com a data da cobrança.

      Passei 50 anos sem falar nesse assunto. Hoje, penso que tenho obrigação de divulgar as atrocidades cometidas pelos nazistas contra os judeus, ciganos e outros povos. Histórias como a que vivi são uma bandeira para lutarmos por um mundo que respeite as diferenças.”


Adaptado de http://revistaepoca.globo.com/Vida-util/noticia/2012/01/vivi-depois-do-holocausto.html 

Considerando as normas gramaticais, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  •  a)Em “Vim para o Brasil com minha mãe, quando eu tinha 20 anos.”, o uso da vírgula é obrigatório. (errado - facultativa – o adverbio não está deslocado)

      b) Em “Quando cheguei, trabalhei como vendedor ambulante...”, o uso da vírgula é obrigatório. (correto – adverbio deslocado)

      c) Em “Não me esqueci do que passei.”, a expressão destacada pode ser substituída por “esqueci-me” (errado- o “não” é palavra atrativa o que torna obrigatória a próclise)

      d) Em “... mas eu só me lembrava do dia cinza de anos atrás.”, o termo destacado pode ser substituído por “portanto” sem que haja prejuízo sintático e semântico.(trata-se de conjunções coordenadas com sentidos distintos, respectivamente: adversativa e conclusiva)

    Dica- Conjunções coordenadas

    1) Aditivas: e, nem(= e não), não só ... mas também, não só ... como também,bem como, não só ... mas ainda.

    2) Adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante.

    3) Alternativas: ou, ou ... ou, ora, já ... já, quer ... quer, seja ... seja, talvez ... talvez.

    4) Conclusivas: logo, pois (logo), portanto, por conseguinte, por isso, assim.

    5) Explicativas: que, porque, pois (porque,  porquanto.

     

      e) Em “...apoiando-se no amor que sentimos por nossa família.”, a expressão destacada pode ser substituída por “se apoiando”.              

    Como se faz isso? Vivendo um dia de cada vez, apoiando-se no amor que sentimos por nossa família. Não me esqueci do que passei. Ainda tenho pesadelos. Mas isso não encerrou minha vida. Após virgula é obrigatória a próclise – errada.

     

    LETRA B. 

  • A vírgula  da b estaria ali para representar o sujeito eu por isso seria obrigatória 

    Quando cheguei, (eu) trabalhei....

  •   b) Em “Quando cheguei, trabalhei como vendedor ambulante...”, o uso da vírgula não é obrigatório quando a locução é composta por duas palavras.

  • AOCP cobra a vírgula obrigatória para adjunto adverbial a partir de 2 termos.

    Ex.: No Brasil, as escolas se parecem mais com os bairros.

          Quando cheguei, trabalhei como vendedor ambulante...

  • Joao neto,concordo,mas parece que a aocp não cobra assim.

  • "Quando cheguei, trabalhei como vendedor ambulante.." a vírgula é obrigatória em razão de marcar advérbio de tempo deslocado na oração.

    Gabarito: B

  • Obrigada cesar luiz! Que banca doidaaa

  • GABARITO B

    USO DA VÍRGULA

    Regra nº 1 – A vírgula é usada para separar termos de mesma função.

    ·       Exs.: GabrielHenriqueLorena e Mariana foram pescar.

    _______________________________________________________________________________

    Regra nº 2 – A vírgula separa os predicativos deslocados dos núcleos a que se referem.

    ·       Exs.: A professora, irritada, convocou os alunos para uma conversa.

    _______________________________________________________________________________

    Regra nº 3 – A vírgula é utilizada para separar o adjunto adverbial deslocado do seu lugar normal.

    ·       Exs.: Hojeno Brasil, mais da metade da população feminina trabalha fora de casa.

    _______________________________________________________________________________

    Regra nº 4 – Usa-se vírgula quando se coloca o objeto no início da oração para repeti-lo.

    ·       Exs.: Esse cheque, não voltaremos a tê-lo.

    _______________________________________________________________________________

    Regra nº 5 – Usam-se vírgulas quando se desloca, do início da oração, a conjunção adversativa ou conclusiva.

    ·       Exs.: Já foi aprovado o seu afastamento; não há, portanto, o que reclamar.

    _______________________________________________________________________________

    Regra nº6 – O uso da vírgula é empregado para separar o aposto e o vocativo do resto da oração.

    ·       Exs.: Lúcio, o filho do segundo casamento, decidiu que viveria com a mãe.

    _______________________________________________________________________________

    Regra nº7 – A vírgula é aplicada para substituir um verbo subentendido.

    ·       Exs.: Dizem que as mulheres decidem com o coração; os homens, com o cérebro.

    _______________________________________________________________________________

    Regra nº 8  É usada vírgula para separar expressões ou termos intercalados que servem para exemplificar, resumir, retificar, incluir ou excluir.

    Exs.: Essa situação, por exemplo, deve ser resolvida de forma rápida.

  • A vírgula é obrigatória. [...] "quando cheguei [...] é uma Oração subordinada adverbial temporal.

    "Quando cheguei, trabalhei como vendedor ambulante...

  • Advérbio curto ser obrigatória vírgula??

  • Oração subordinada adverbial temporal anteposta à oração principal.

    GABARITO. B

  • gente olha os comentários... isso é uma oração com valor temporal, não é um advérbio não...
  • AOCP, SUA LINDA!! VOU TE MALTRATAR