SóProvas


ID
2437852
Banca
IBADE
Órgão
PC-AC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

O Dia da Consciência Negra 
[...] 
        O assunto é delicado; em questão de raça, deve-se tocar nela com dedos de veludo. Pode ser que eu esteja errada, mas parece que no tema de raça, racismo, negritude, branquitude, nós caímos em preconceito igual ao dos racistas. O europeu colonizador tem - ou tinha - uma lei: teve uma parte de sangue negro - é negro. Por pequena que seja a gota de sangue negro no indivíduo, polui-se a nobre linfa ariana, e o portador da mistura é "declarado negro”. E os mestiços aceitam a definição e - meiões, quarteirões, octorões - se dizem altivamente “negros", quando isso não é verdade. Ao se afirmar “negro” o mestiço faz bonito, pois assume no total a cor que o branco despreza. Mas ao mesmo tempo está assumindo também o preconceito do branco contra o mestiço. Vira racista, porque, dizendo-se negro, renega a sua condição de mulato, mestiço, half-breed, meia casta, marabá, desprezados pela branquidade. Aliás, é geral no mundo a noção exacerbada de raça, que não afeta só os brancos, mas os amarelos, vermelhos, negros; todos desprezam o meia casta, exemplo vivo da infração à lei tribal.
        Eu acho que um povo mestiço, como nós, deveria assumir tranquilamente essa sua condição de mestiço; em vez de se dizer negro por bravata, por desafio - o que é bonito, sinal de orgulho, mas sinal de preconceito também. Os campeões nossos da negritude, todos eles, se dizem simplesmente negros. Acham feio, quem sabe até humilhante, se declararem mestiços, ou meio brancos, como na verdade o são. “Black is beautiful” eu também acho. Mas mulato é lindo também, seja qual for a dose da sua mistura de raça. Houve um tempo, antes de se desenvolver no mundo a reação antirracista, em que até se fazia aqui no Rio o concurso “rainha das mulatas”. Mas a distinção só valia para a mulata jovem e bela. Preconceito também e dos péssimos, pois a mulata só era valorizada como objeto sexual, capaz de satisfazer a consciência dos homens.
        A gente não pode se deixar cair nessa armadilha dos brancos. A gente tem de assumir a nossa mulataria. Qual brasileiro pode jurar que tem sangue “puro” nas veias, - branco, negro, árabe, japonês?         Vejam a lição de Gilberto Freyre, tão bonita. Nós todos somos mestiços, mulatos, morenos, em dosagens várias. Os casos de branco puro são exceção {como os de índios puros - tais os remanescentes de tribos que certos antropólogos querem manter isolados, geneticamente puros - fósseis vivos - para eles estudarem...). Não vale indagar se a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro, se nasceu em taba de índio ou na casa-grande. Todas elas somos nós, qualquer procedência Tudo é brasileiro. Quando uma amiga minha, doutora, participante ilustre de um congresso médico, me declarou orgulhosa “eu sou negra” - não resisti e perguntei: “Por que você tem vergonha de ser mulata?” Ela quase se zangou. Mas quem tinha razão era eu. Na paixão da luta contra a estupidez dos brancos, os mestiços caem justamente na posição que o branco prega: negro de um lado, branco do outro. Teve uma gota de sangue africano é negro - mas tendo uma gota de sangue branco será declarado branco? Não é.
        Ah, meus irmãos, pensem bem. Mulata, mulato também são bonitos e quanto! E nós todos somos mesmo mestiços, com muita honra, ou morenos, como o queria o grande Freyre. Raça morena, estamos apurando. Daqui a 500 anos será reconhecida como “zootecnicamente pura" tal como se diz de bois e de cavalos. Se é assim que eles gostam!
QUEIROZ, Rachel. O Dia da Consciência Negra. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 23nov. 2002. Brasil, caderno 2, p. D16, 
Vocabulário: 
half-bread:mestiço.
marabá: mameluco.
meião, quarteirão e octorão: pessoas que têm, respectivamente, metade, um quarto e um oitavo de sangue negro.
“Black is beautiful”: “O negro é bonito

Considerando as posições expressas no texto em relação à valorização do mestiço, é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C.

     

    Mas - conjunção adversativa.

  •  a) o elogio ao mulato reside na valorização da negritude e da dose da sua mistura de raça.(ERRADO). A autora faz uma analogia em várias passagens valorizando a raça Mulata, todavia não vislumbrei no texto, especificamente, desvalorização da raça negra em relação à mulata pela autora.

     

    b) o verbo POLUI-se, em “polui-se a nobre linfa ariana” valoriza a negação do preconceito diante dos que são racistas. (ERRADO). A passagem realça o preconceito do Colonizador, o qual a autora preceitua que uma simples mistura de negro com a raça ariana já torna a pessoa negra, não mulata.

     

    c) o articulador MAS em “Mas quem linha razão era eu.” introduz uma ideia que se contrapõe ao que foi dito anteriormente.(CORRETA) como já explicado pelo Guerreiro abaixo, conjunção adversativa, ideia de oposição, contraste.

     

    d) entre os pares NEGRO /MESTlÇO e NEGRA/MULATA estabelece-se, no texto uma relação semântica de igualdade. (ERRADO)  A assertiva quer saber se o cadidato tem conhecimento daquilo que é semântica da palavra, semântico: relativo ao significado ou ao sentido das unidades linguísticas.

     

    Por óbvio que não, um exemplo: 

    Mulato – Filho de mãe branca e pai negro, ou vice-versa. 

    Mestiço de branco, negro ou indígena, de cor parda.

     

    e) o adjetivo PURO no terceiro parágrafo, refere-se à importância da mulataria do povo brasileiro. (ERRADO) na minha opinião, sangue puro, no contexto em que está inserido no período, refere-se ao  branco, negro, árabe, japonês.

     

    Corrijam-me se eu me equivoquei, pois achei uma questão de difícil compreensão.

     

    Jesus, a rocha firme e inabalável.

  • ADIVERSATIVA:indicam essencialmente uma ideia de adversidade,oposição,contraste;também resalva,quebra de expectativa,compensação;ELAS REALÇAM O CONTEUDO DA ORAÇÃO QUE INTODUZEM.

    DISPONIVEL EM: GRAMATICA DO PROF. PESTANA

  •  MAS , ele tem ideia de contraposição. 

     

    Gab; C

  • Essa questão é um crime

  • Alternativa C

    O “mas” é uma conjunção adversativa (estas indicam uma ideia de adversidade, oposição, contraste, ressalva, quebra de expectativa ou compensação).

    SIGAM: @NEXOCONCURSOS

  • a conjunção ''MAS'' se contrapõe ao que foi dito antes.

  • no texto está "Mas quem TINHA razão era eu", no gabarito está "LINHA" por isso marquei como errado.

  • Ok, o "Mas" com certeza dá ideia de contraposição, porém o que foi pedido no enunciado foi:

    Considerando as posições expressas no texto em relação à valorização do mestiço.

    Não entendi então..