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ID
2458576
Banca
IDECAN
Órgão
CBM-DF
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Impotência

Foi na última chuvarada do ano, e a noite era preta. O homem só estava em casa; chegara tarde, exausto e molhado, depois de uma viagem de ônibus mortificante, e comera, sem prazer, uma comida fria. Vestiu o pijama e ligou o rádio, mas o rádio estava ruim, roncando e estalando. “Há dois meses estou querendo mandar consertar esse rádio”, pensou com tédio. E pensou ainda que há muitos meses, há muitos anos, estava com muita coisa para consertar desde os dentes até a torneira da cozinha, desde seu horário no serviço até aquele caso sentimental em Botafogo. E quando começou a dormir e ouviu que batiam na porta, acordou assustado, achando que era o dentista, o homem do rádio, o caixa da firma, o irmão de Honorina ou um vago fiscal geral dos problemas da vida que lhe vinha tomar contas.

A princípio não reconheceu a negra velha Joaquina Maria, miúda, molhada, os braços magros luzindo, a cara aflita. Ela dizia coisas que ele não entendia; mandou que entrasse. Há dois meses a velha lavava sua roupa, e tudo o que sabia a seu respeito é que morava em algum barraco, em um morro perto da Lagoa, e era doente. Sua história foi saindo aos poucos. O temporal derrubara o barraco, e seu netinho, de oito anos, estava sob os escombros. Precisava de ajuda imediata, se lembrara dele.

– O menino está... morto?

Ouviu a resposta afirmativa com o suspiro de alívio. O que ela queria é que ele telefonasse para a polícia, chamasse ambulância ou rabecão, desse um jeito para o menino não passar a noite entre os escombros, na enxurrada, ou arranjasse um automóvel e alguém para retirar o corpinho. Quis telefonar, mas o telefone não dava sinal; enguiçara. E quando meteu uma capa de gabardine e um chapéu e desceu a escada, viu que tudo enguiçara, os bondes, os ônibus, a cidade, todo esse conjunto de ferro, asfalto, fios e pedras que faz uma cidade, tudo estava paralisado, como um grande monstro débil. [...]

(Rubem Braga – 50 crônicas escolhidas. 3. ed. Rio de Janeiro: BestBolso. 2011. Fragmento.)


O homem só estava em casa; chegara tarde, exausto e molhado, depois de uma viagem de ônibus mortificante, e comera, sem prazer, uma comida fria.” (1º§) Considerando que uma mesma palavra analisada sob a ótica morfológica pode assumir diversificadas funções quando analisada de acordo com a sintaxe, assinale a afirmação correta acerca do trecho destacado.

Alternativas
Comentários
  • alguém pode explicar esse gabarito?

  • Vinícius, os dois termos são advérbios. Um indicando circunstância de "lugar" e outro de "tempo".

  • O homem estava ONDE? Em casa (advérbio de lugar)

    O homem chegara QUANDO? A tarde (advérbio de tempo)

  • A resposta do Rafael é muito boa mas... a rigor, a questão não estaria errada, pelo fato de um se tratar de advérbio de lugar e outro de advérbio de tempo?

  • letra a està incorreta , pois é denotador de exclusão .

  • Roderick creio que não se encontra errada, pois a Questão pergunta de modo sintático e não de modo morfológico.

    Considere o português como uma pessoa: de modo morfológico dá nome as coisas e de modo sintático da a sua função dentro da sociedade.

    P.ex. considere a Maria (pessoa qualquer) como a morfologia e as diversas funções sociais dela (mãe, professora, esposa, aluna, pesquisadora) como sintaxe. Em outras palavras a Maria sempre será a Maria (morfologia! Um verbo é verbo, um substantivo é um substântivo), mas essa mesma pessoa dependendo do ambiente que se encontra tem diversas funções sociais (funções sintáticas).

  • d) Eu acho que o "assim" entre virgulas da ideia de causa, por isso a alternativa está errada.