SóProvas


ID
247075
Banca
FCC
Órgão
TRT - 12ª Região (SC)
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O humor e o "politicamente correto"

Tem sido marca de nossa época (não se sabe exatamente
a partir de quando, nem por que começou) adotar extrema
cautela quanto a formas de expressão, ao vocabulário, ao
emprego de certos conceitos. Trata-se de evitar que seja ferida
a susceptibilidade de quem pertence a determinada etnia, ou
professe certa religião, ou se oriente por determinada opção
sexual, ou que surja representando toda uma nacionalidade. Tal
preocupação traria a vantagem de impedir (ou ao menos tentar
impedir) a propagação de qualquer preconceito. Mas, no que diz
respeito à criação e à prática do humor, os efeitos dessa cautela
podem ser desastrosos.

É que o humor vive, exatamente, do desmesuramento,
do excesso, do arbítrio, da caricatura, do estereótipo ... e do
preconceito. Este último é o vilão da história: o preconceito é o
argumento final para quem cultiva o politicamente correto e
abomina quem dê um passo fora desse território bem comportado
e muito bem controlado.

Desde sempre o humor serviu como compensação
simbólica para as tantas desventuras que afligem o homem. É
quando o pobre se ri do rico, o ingênuo do esperto, o fraco do
poderoso; ou então, é quando ser pobre, ingênuo ou fraco já é
razão para um riso que explora o peso do infortúnio e da
desgraça. De fato, o humor não pede a ninguém o direito de
agir: sua liberdade é a sua razão de ser, é o sentido final de
quem ri - ainda que seja para não chorar.

O advento do "politicamente correto" parte da convicção
de que, para sermos todos felizes, temos que ser todos, ao
mesmo tempo e inteiramente, justos e honestos uns com os
outros, respeitando-nos uns aos outros sem qualquer possibilidade
de desvio. Ora, às vezes isso é extremamente chato:
ou porque não conseguimos ser justos e honestos o tempo
todo, ou porque a falta do riso acaba por nos tornar tão
distantes uns em relação ao outros que nos sentimos quase
desumanos... Por alguma razão, o riso é parte de nós. Sem ele,
perderemos a criancice, mataremos todos os palhaços do
mundo, eliminaremos todas as gargalhadas. Ou, como disse
uma vez um humorista, "se o mundo chegar a ser inteiramente
sério, que graça terá?".


(Abelardo Siqueira, inédito)

Está correto o emprego dos termos sublinhados na frase:

Alternativas
Comentários
  • a) ERRADA= Os valores QUE pouca gente põe em prática
    b) ERRADA= O alcance crítico QUE se atribui ao humor
    c) CORRETA= abdica-se DE algo
    d) ERRADA= as formas de riso, AS QUAIS os moralistas temem
    e) ERRADA= costumam se apegar A algo
  • Nesse tipo de questões busca-se a transitividade do verbo, se for TRANSITIVO DIRETO não se exige preposição.

    Quem "Abdica", "abdica" DE algo ou alguma coisa. (VTI)
  • Somando com os colegas:

    Vou colocar aqui o meio que aprendi para chegar ao emprego correto do termo.


    A) Pouca gente põe em prática, o quê? Resposta: os valores edificantes (não vem com o emprego de nenhuma preposição).

    Tem sido marca de nossa época uma extrema preocupação com os valores edificantes de que(QUE), a rigor, pouca gente põe em prática.


    B) O que é atribuído ao humor? Resposta: o alcance crítico (não vem com o emprego de nenhuma preposição).

    O alcance crítico com que (QUE)se atribui ao humor não é desprezível, pois fere fundo e faz pensar.


    C) GABARITO. Não se quer abdicar de quê? Resposta: de uma verdade (vem com o emprego da preposição "de").


    D) Aqui me utilizei do conhecimento de que depois do pronome "cujo" não se admite o emprego de artigo. É errado, portanto, afirmar "cujo o", "cuja a" etc.


     E) Os falsos moralistas costumam se apegar a quê? Resposta: à obstinação (vem com o emprego da preposição "a" mais artigo definido "a").

    Para quem ama o humor, o "politicamente correto" é uma obstinação na qual (À QUAL) os falsos moralistas costumam se apegar.
     

     

     

      

  • bom pessoal,

    o pronome relativo QUAL ele retoma pessoass ou coisas então quando eu digo:

    A caricatura e o exagero são assumidos pelo humorista como intensificações de uma verdade da qual não quer abdicar.
    (quem abdica, abdica de algo ou alguma coisa - nesse caso, não quer abdicar de uma verdade) então, fica assim:

    não quer abdicar de(preposição) + a verdade(substantivo feminino) ficando DA QUAL

    BONS ESTUDOS
  • Marília, obrigado! Correção efetuada!
  • Esse verbo tem regência para todos os gostos...

    "Abdicar"
     significa renunciar (ao poder , a um cargo, título, dignidade), desistir.



     

    Pode ser intransitivo, transitivo direto ou transitivo indireto (preposição de):
     

    • Intransitivo: D. Pedro abdicou em 1831.
    •  
    • Transitivo Direto: A princesa abdicou o seu futuro título de rainha.
    •  
    • Transitivo Indireto: Não quis abdicar de seus direitos.
  • GABARITO: C

    Já fizemos várias questões parecidas com essa; é um constante "déjà vu"! A FCC não mete medo em ninguém. ? Vamos lá!

    “A caricatura e o exagero são assumidos pelo humorista como intensificações de uma verdade da qual não quer abdicar.” Quem não quer abdicar, não quer abdicar algo ou DE algo. Portanto, correto o uso da preposição antes do pronome relativo ‘a qual’, que retoma ‘verdade’.

    Vejamos os erros (já corrigidos) das demais:
    (A) “Tem sido marca de nossa época uma extrema preocupação com os valores edificantes que, a rigor, pouca gente põe em prática.” Quem põe em prática, põe em prática alguma coisa. Sem preposição. Nada a falar sobre o pronome relativo. Perfeito.

    (B) “O alcance crítico que se atribui ao humor não é desprezível, pois fere fundo e faz pensar.” Atribui-se algo (o alcance crítico) ao humor. Sem preposição. Nada a falar sobre o pronome relativo. Perfeito.

    (D) “Todas as formas de riso, de cujas os moralistas tanto temem, vêm sendo praticadas desde o início da civilização.” Nossa!!! Mais uma vez. Nunca, jamais, em tempo algum se usa artigo depois de ‘cujo’. Este é um erro gritante!!! Além disso, o ‘cujo’ precisa concordar em gênero e número com o termo que vem após ele, o que não ocorre. Além disso, não há relação de posse entre ‘moralistas e ‘formas de riso’. Em suma: a frase está mal construída; mal construída é bondade; é um samba do crioulo doido! De veria estar assim: “Todas as formas de riso, as quais os moralistas tanto temem, vêm sendo praticadas desde o início da civilização”. Simples, não?

    (E) “Para quem ama o humor, o “politicamente correto” é uma obstinação À qual os falsos moralistas costumam se apegar.” Os falsos moralistas costumam se apegar A algo. Foi? Quanto ao uso de ‘a qual’, perfeito, pois retoma palavra feminina singular.