SóProvas


ID
2508889
Banca
IF-TO
Órgão
IF-TO
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I

                            O gigolô das palavras


Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com as suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa a revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então, vamos em frente. Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são indispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Certo? O importante é comunicar. (E quando possível, surpreender, iluminar, divertir, comover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática). A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua, mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em português. Mas – isto eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que os outros já fizeram com elas. Se bem que não tenha também o mínimo de escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem um mínimo de respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas? Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda. 


VERÍSSIMO, Luís Fernando. O gigolô das palavras. In: LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995. p. 14-15. 

Em relação aos significados produzidos pela sentença “Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção”, há um exemplo de:

Alternativas
Comentários
  • Gab ---> [E]

     

     

    Paronímia  é a relação entre palavras que apresentam sentido diferente e forma semelhante, o que provoca, com alguma frequência, confusão. Essas palavras apresentam grafia e pronúncia parecida, mas significados diferentes.

     

     

     

    Antonímia   = é a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que apresentam significados diferentes, contrários (antônimos). O importante aqui é saber que significados são opostos, ou seja, excluem-se. É um sinônimo de antônimo.

     

     

     

    redundância = é uma repetição desnecessária de ideias, também chamada de pleonasmo vicioso ou tautologia. 

    As redundâncias são usadas frequentemente em linguagem cotidiana, mas são um vício de linguagem, contribuindo para o empobrecimento do discurso.     Ex --> Subir para cima 

     

     

     

    Metaplasmo = também designado por metaplasma por alguns autores, é o nome que se dá às alterações fonéticas que ocorrem em determinadas palavras ao longo da evolução de uma língua.

     

     

     

    Ambiguidade = Ambiguidade é a qualidade ou estado do que é ambíguo, ou seja, aquilo que pode ter mais do que um sentido ou significado.

    A ambiguidade pode apresentar a sensação de indecisão, hesitação, imprecisão, incerteza e indeterminação.

    Exemplo: “Não sei se gosto do frio ou do calor”. “Não sei se vou ou fico”.

     

     

     

     

     

     

     

    Vamos conseguir!

  • GAB E

    "A palavra seria sua patroa!"

    /

    Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção”

    o sentido ambiguo é de que acabaria com uma impotência sexual, incapaz de uma conjunção carnal.

  •  A redundância consiste em repetir uma ideia que já está explícita no discurso, fazendo com que ele fique cansativo e comprometa a qualidade da mensagem.

    Exemplos:

    “antecipar para antes”;

    “conclusão final”;

    “conviver junto”;

    “elo de ligação”;

    “encarar de frente”;

    “ganhar grátis”;

    “subir pra cima”;

    “descer pra baixo”;

    “há anos atrás” (o verbo haver já indica tempo decorrido);

    “manter o mesmo”

    “metades iguais”;

    “panorama geral”;

    “exportar para fora”;

    “planos para o futuro”

    “protagonista principal”;

    “repetir de novo”;

    “cabeça decapitada”;

    “planejar antecipadamente”

    “surpresa inesperada”.

  • e) ambiguidade

     

    Impotente, incapaz de uma conjunção (carnal)!

  • Que textão! ♥