- ID
- 2521333
- Banca
- FCC
- Órgão
- DPE-RS
- Ano
- 2017
- Provas
-
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Administração
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Arquitetura
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Arquivista
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Assistente Social
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Banco de Dados
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Biblioteconomia
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Comunicação Social
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Contabilidade
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Desenvolvimento de Sistemas
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Economia
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Engenharia Civil
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Engenharia Elétrica
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Farmácia
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Infraestrutura e Redes
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Psicologia
- FCC - 2017 - DPE-RS - Analista - Segurança da Informação
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Sem privacidade
Ainda é possível ter privacidade em meio a celulares, redes sociais e dispositivos outros das mais variadas conexões? Os mais velhos devem se lembrar do tempo em que era feio “ouvir conversa alheia”. Hoje é impossível transitar por qualquer espaço público sem recolher informações pessoais de todo mundo. Viajando de ônibus, por exemplo, acompanham-se em conversas ao celular brigas de casal, reclamações trabalhistas, queixas de pais a filhos e vice-versa, declarações românticas, acordo de negócios, informações técnicas, transmissão de dados e um sem-número de situações de que se é testemunha compulsória. Em clara e alta voz, lances da vida alheia se expõem aos nossos ouvidos, desfazendo-se por completo a fronteira que outrora distinguia entre a intimidade e a mais aberta exposição.
Nas redes sociais, emoções destemperadas convivem com confissões perturbadoras, o humor de mau gosto disputa espaço com falácias políticas – tudo deixando ver que agora o sujeito só pode existir na medida em que proclama para o mundo inteiro seu gosto, sua opinião, seu juízo, sua reação emotiva. É como se todos se obrigassem a deixar bem claro para o resto da humanidade o sentido de sua existência, seu propósito no mundo. A discrição, a fala contida, o recolhimento íntimo parecem fazer parte de uma civilização extinta, de quando fazia sentido proteger os limites da própria individualidade.
Em meio a tais processos da irrestrita divulgação da personalidade, as reticências, a reflexão silenciosa e o olhar contemplativo surgem como sintomas problemáticos de alienação. Impõe-se um tipo de coletivismo no qual todos se obrigam a se falar, na esperança de que sejam ouvidos por todos. Nesse imenso ruído social, a reclamação por privacidade é recebida como o mais condenável egoísmo. Pretender identificar-se como um sujeito singular passou a soar como uma provocação escandalosa, em tempos de celebração do paradigma público da informação.
(Jeremias Tancredo Paz, inédito)