SóProvas


ID
2565406
Banca
FCC
Órgão
TRF - 5ª REGIÃO
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      O filósofo Theodor Adorno (1903-1969) afirma que, no capitalismo tardio, “a tradicional dicotomia entre trabalho e lazer tende a se tornar cada vez mais reduzida e as ‘atividades de lazer’ tomam cada vez mais do tempo livre do indivíduo”. Paradoxalmente, a revolução cibernética de hoje diminuiu ainda mais o tempo livre.

      Nossa época dispõe de uma tecnologia que, além de acelerar a comunicação entre as pessoas e os processos de aquisição, processamento e produção de informação, permite automatizar grande parte das tarefas. Contudo, quase todo mundo se queixa de não ter tempo. O tempo livre parece ter encolhido. Se não temos mais tempo livre, é porque praticamente todo o nosso tempo está preso. Preso a quê? Ao princípio do trabalho, ou melhor, do desempenho, inclusive nos joguinhos eletrônicos, que alguns supõem substituir “velharias”, como a poesia.

      T.S. Eliot, um dos grandes poetas do século XX, afirma que “um poeta deve estudar tanto quanto não prejudique sua necessária receptividade e necessária preguiça”. E Paul Valéry fala sobre uma ausência sem preço durante a qual os elementos mais delicados da vida se renovam e, de algum modo, o ser se lava das obrigações pendentes, das expectativas à espreita… Uma espécie de vacuidade benéfica que devolve ao espírito sua liberdade própria.

      Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia. Sendo produto do trabalho e da preguiça, não há tempo de trabalho normal para a feitura de um poema, como há para a produção de uma mercadoria. Bandeira conta, por exemplo, que demorou anos para terminar o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”.

      Evidentemente, isso não significa que o poeta não faça coisa nenhuma. Mas o trabalho do poeta é muitas vezes invisível para quem o observa de fora. E tanto pode resultar num poema quanto em nada.

      Assim, numa época em que “tempo é dinheiro”, a poesia se compraz em esbanjar o tempo do poeta, que navega ao sabor do poema. Mas o poema em que a poesia esbanjou o tempo do poeta é aquele que também dissipará o tempo do leitor, que se deleita ao flanar por linhas que mereçam uma leitura por um lado vagarosa, por outro, ligeira; por um lado reflexiva, por outro, intuitiva. É por essa temporalidade concreta, que se manifesta como uma preguiça fecunda, que se mede a grandeza de um poema.

(Adaptado de: CÍCERO, Antonio. A poesia e a crítica: Ensaios. Companhia das Letras, 2017, edição digital) 

Considere as afirmações abaixo.

I. A teoria de que o poeta não deve prejudicar sua necessária preguiça, proposta por T.S. Eliot (3° parágrafo), é corroborada pelo autor do texto, por meio de sua própria experiência pessoal.

II. Ainda que certas atividades, como a feitura de um poema, demandem tempo ocioso, o autor do texto censura o cultivo de uma necessária preguiça, a partir da premissa de que o tempo é escasso e valioso na atualidade.

III. Para o autor, a falta de tempo livre de que a maioria se queixa deve-se ao fato de que, mesmo nos momentos destinados a atividades de lazer, estamos submetidos à dinâmica do desempenho.


Está correto o que se afirma APENAS em:

Alternativas
Comentários
  • I - Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia

    II - o autor fala que  um grande poema é feito por uma  leitura por um lado vagarosa, por outro, ligeira; por um lado reflexiva, por outro, intuitiva. É por essa temporalidade concreta, que se manifesta como uma preguiça fecunda, que se mede a grandeza de um poema.

     III - não temos mais tempo livre, é porque praticamente todo o nosso tempo está preso. Preso a quê? Ao princípio do trabalho, ou melhor, do desempenho, inclusive nos joguinhos eletrônicos, que alguns supõem substituir “velharias”, como a poesia.

  • A assertiva I, ao meu ver, demonstra que que a experiência pesssoal dele tem uma ideia oposta a ideia do trabalho dos poetas. 

  • I- Correto. Isso se confirma em:
    T.S. Eliot, um dos grandes poetas do século XX, afirma que “um poeta deve estudar tanto quanto não prejudique sua necessária receptividade e necessária preguiça”. E Paul Valéry fala sobre uma ausência sem preço durante a qual os elementos mais delicados da vida se renovam e, de algum modo, o ser se lava das obrigações pendentes, das expectativas à espreita… Uma espécie de vacuidade benéfica que devolve ao espírito sua liberdade própria.
    Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia.
    II- Incorreto. Não censura, pelo contrário, concorda que o tempo ocioso (“uma necessária preguiça”, nas palavras de TS Elliot) é fundamental para a produção da poesia.
    III- Correto. Até mesmo nos “joguinhos”, estamos presos à “dinâmica do desempenho”. Vejamos:
    Se não temos mais tempo livre, é porque praticamente todo o nosso tempo está preso. Preso a quê? Ao princípio do trabalho, ou melhor, do desempenho, inclusive nos joguinhos eletrônicos
    Gabarito letra D.

    Estratégia -Prof. Felipe Luccas

  • Voto com a divergência da Dra. Renata Porto , pois, segundo o trecho ''Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia'' dá ideia justamente que no caso dele, ao se aplicar, o texto uma hora ficará pronto, já distinguindo da poesia, à qual demanda muito mais tempo, sem conseguir saber exatamente quando ela virá a ser produzida.

  • GAB D

     

    Eu tb achei que tinha ideia de oposição, e que a frase que corrobora T.S. Eliot é "Bandeira conta, por exemplo, que demorou anos para terminar o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”."

     

    Será que alguém entrou com recurso nessa? Vou pedir comentário do prof. do QC, pois o prof. do estratégia se limitou a copiar o parágrafo do texto.

  • FUNDAMENTO:

     

    ( TODAS LITERAIS NO TEXTO .. SÓ LER E COMPARAR A ASSERTIVA COM A PASSAGEM DO TEXO..)

     

     

     

    I) ASSETIVA: A teoria de que o poeta não deve prejudicar sua necessária preguiça, proposta por T.S. Eliot (3°  parágrafo), é corroborada pelo autor do texto, por meio de sua própria experiência pessoal

     

       PASSAGEM: Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia. Sendo produto do trabalho e da preguiça, não há tempo de trabalho normal para a feitura de um poema, como há para a produção de uma mercadoria. (4ª parágrafo)

     

     

     

    II) ASSERTIVA: Ainda que certas atividades, como a feitura de um poema, demandem tempo ocioso, o autor do texto censura o cultivo de uma necessária preguiça, a partir da premissa de que o tempo é escasso e valioso na atualidade

       

        PASSAGEM: Um poeta deve estudar tanto quanto não prejudique sua necessária receptividade e necessária preguiça” (3ª parágrafo)

     

     

     

    III) ASSETIVA: Para o autor, a falta de tempo livre de que a maioria se queixa deve-se ao fato de que, mesmo nos momentos destinados a atividades de lazer, estamos submetidos à dinâmica do desempenho.

     

         PASSAGEMSe não temos mais tempo livre, é porque praticamente todo o nosso tempo está preso. Preso a quê? Ao princípio do trabalho, ou melhor, do desempenho, inclusive nos joguinhos eletrônicos, que alguns supõem substituir “velharias”, como a poesia. (2ª parágrafo)

     

     

    GAB D

  • Discordo do Gabarito  D

     

    O item   I    está claramente   ERRADO.

    I.   A teoria de que o poeta não deve prejudicar sua necessária preguiça, proposta por T.S. Eliot (3°  parágrafo),   é corroborada   pelo autor do texto, por meio de sua própria experiência pessoal.

     

     

    (4º parágrafo)

    Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio,  basta que   me aplique  e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. NÃO É ASSIM COM A POESIA. Sendo produto do trabalho e da preguiça, não há tempo de trabalho normal para a feitura de um poema, como há para a produção de uma mercadoria. Bandeira conta, por exemplo, que demorou anos para terminar o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”.

  • Tenho errado muito essas questões com várias assertivas, I, II, III... alguém tem alguma valiosa dica? Parece que se só de eu ver os algarismos romanos a chance de acerto reduz para 1% :(

  • A experiência pessoal dele é exatamente contrária! Para a conclusão do ensaio basta a sua dedicação (DESEMPENHO).

     

    Diferente da POESIA que tem tempo próprio para ser concluída, independente da dedicação do poeta.

     

    Experiência pessoal é uma coisa e opinião é outra totalmente diferente!

    Se na alternativa o texto escrito fosse: "... a opinião do autor corrobora,,,". Ai sim o gabarito estaria correto...

  • vinicius Aledi,

     

    primeiro que você tem que, de qualquer maneira, deixar de lado esse trauma rsrs. Segundo é que questões de interpretação da FCC são as que as pessoas mais erram (inclusive eu!) - não precisa entrar em desespero, é assim mesmo! Terceiro e finalmente: vá pelo MÉTODO DA ELIMINAÇÃO. Note que, se você eliminar o item II, só restam duas alternativas. Já é um bom começo, não?!

    Não adianta, não tem mágica. Pegue as questões de interpretação da FCC e mande bala. Faça o máximo que puder. E, de novo, deixe de trauma, homi rsrs

     

    Bons estudos!!!

  • Discordo que a assertiva I seja classificada como correta.

    No texto, o autor diz exatamente o contrário, que : "Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia. Sendo produto do trabalho e da preguiça, não há tempo de trabalho normal para a feitura de um poema, como há para a produção de uma mercadoria." 

    O autor faz um paralelismo entre os dois feitos: ele, sendo escritor de ensaio, basta solicitá-lo que ele produz, levando mais ou menos tempo, comparando com uma mercadoria. Já a poesia requer uma produção mais prolongada, deixando ser levada pela ociosidade e preguiça.

    Não houve recurso para essa questão?

  • Desisto da interpretação de texto da FCC.

    Impossível.

     

  • Confesso que fiquei uns 10 min analisando a alternativa I, porque o que acontece com o autor, ao elaborar seus ensaios, é o oposto do que ocorre com a elaboração de poesias. Ao passo que sua experiência profissional corroborou para entendermos a expressão "necessária preguiça", mesmo sendo duas situações opostas.

    Se repararmos bem nessas questões de V ou F, quase sempre existem duas alternativas certas e uma errada. Tem sido frequente na FCC.

  • Gabarito é a letra D, mas para quem acha que o gabarito é a letra A informo que o autor do texto é poeta e isto está identificado na questão ao final:

    (Adaptado de: CÍCERO, Antonio. A poesia e a crítica: Ensaios. Companhia das Letras, 2017, edição digital)

    Ou seja, o autor, sem dúvida, fala a partir de sua experiência pessoal de poeta. Isso faz o item I correto.

    Aqui o autor, como poeta, declama um poema de sua autoria: https://www.youtube.com/watch?v=1B-skA5-Ad0

    Bons estudos!

  • Marquei a A pela lógica do texto, mesmo acreditando ser a D a resposta certa. Putz grila!

  • I) ASSETIVA: A teoria de que o poeta não deve prejudicar sua necessária preguiça, proposta por T.S. Eliot (3° parágrafo), é corroborada pelo autor do texto, por meio de sua própria experiência pessoal

     

      PASSAGEM: Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia. Sendo produto do trabalho e da preguiça, não há tempo de trabalho normal para a feitura de um poema, como há para a produção de uma mercadoria. (4ª parágrafo)

     

     

     

    II) ASSERTIVA: Ainda que certas atividades, como a feitura de um poema, demandem tempo ocioso, o autor do texto censura o cultivo de uma necessária preguiça, a partir da premissa de que o tempo é escasso e valioso na atualidade

      

       PASSAGEM: Um poeta deve estudar tanto quanto não prejudique sua necessária receptividade e necessária preguiça” (3ª parágrafo)

     

     

     

    III) ASSETIVA: Para o autor, a falta de tempo livre de que a maioria se queixa deve-se ao fato de que, mesmo nos momentos destinados a atividades de lazer, estamos submetidos à dinâmica do desempenho.

     

       PASSAGEMSe não temos mais tempo livre, é porque praticamente todo o nosso tempo está presoPreso a quê? Ao princípio do trabalho, ou melhor, do desempenho, inclusive nos joguinhos eletrônicos, que alguns supõem substituir “velharias”, como a poesia. (2ª parágrafo)

     

     

    GAB D