SóProvas


ID
2600635
Banca
IFPI
Órgão
IF-PI
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            SOBRE CAFÉS E LIVROS


O que é que eu fui fazer na livraria? Eu estava procurando um livro. Como era desses códices que a gente tem vontade de rabiscar, anotar, comentar, marcar, resolvi ter o livro, bonito, impresso, original. Não encontrei em lugar nenhum, mas o que importa é o percurso desta minha busca.

Passei por duas livrarias dessas enormes, com escadarias, segundo andar, rede de lojas por toda a cidade. Também passei por duas livrarias médias, dessas que têm tradição e são cercadas de lendas urbanas. As outras quatro eram livrarias cult, dessas que servem café e bolos. Pedi um capuchino e até fiquei um tempo ouvindo a moça que cantava ao vivo num palco. Mas então me lembrei de que tinha uma meta: procurar um livro e fui em busca dele. Mexi e remexi em todas as prateleiras, mapeei a loja, fui nas estantes que ficavam sob a placa da categoria em que eu imaginava encontrar meu livrinho. Observei, me aproximei, espirrei a poeira dos livros guardados, chamei o vendedor, pedi informação à menina do caixa e saí de lá com as mãos abanando.

Em Belo Horizonte, e em vários outros lugares, você pode ir a uma livraria sem ter a menor vontade de comprar ou ver um livro. Impressionante a limpeza do balcão, a voz da cantora, a estante de periódicos, o uniforme dos garçons, a agilidade do caixa, o cheirinho do café. Mas na livraria, o vendedor não sabia me informar sobre livros, e as estantes estavam empoeiradas em completa desorganização. Era impossível inferir, sem ajuda urgentíssima, o critério de disposição daquelas obras todas. No meio dos dicionários de línguas, estava o dicionário de palavrões do Glauco Mattoso. No meio dos livros de botânica, estava o Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque. O livro que eu procurava devia estar em algum lugar daquele universo indistinto. Talvez na prateleira da cozinha, junto com as colheres de pau.

O que eu procuro quando vou a uma livraria? Em geral, procuro por um livro. Também posso chegar à loja procurando por um tema, sem ter a ideia exata de que livro levar. Eu sinto a necessidade de encontrar ajuda numa espécie de consumidor, alguém que saiba sobre o objeto que vende. Não um vendedor treinado para me dizer “bom dia”. Daí que faço as perguntas e ele deve me responder com alguma dose de precisão, além da simpatia. Também pode ser que ele me dê uma sugestão, o que será delicioso. E se a sugestão for bem sucedida, serei fiel à livraria.Mas parece que, nesta cidade, as livrarias já não têm mais a missão de vender livros. Têm tantas outras que essa se confunde com o pó do capuchino industrializado. Estão lá garçons que vendem livros e cantoras que interpretam poetas que não se encontram mais nas prateleiras. A menina do caixa nunca lê as capas das obras que vende. Atrás dela está pendurado um painel com uma cena de Dom Quixote. Ela pensa que é o esboço de um desenho animado Disney. E então eu sei que não encontrarei o livro que eu quero porque ele deve estar perdido na desordem da loja. Não poderei contar com o vendedor porque ele também não sabe do que eu estou falando. E não poderei fazer outra coisa ali que não seja degustar um café e ler sobre vinhos chilenos com nomes interessantes.

Eu não fui com a intenção de conhecer vinhos andinos. Nem cheguei lá pensando em paquerar. Também não queria ouvir música ao vivo, já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico. Não imaginava que seria atendida por um garçom e não queria que o vendedor ficasse constrangido em me dizer que nunca ouvira falar daquele livro antes. Eu queria uma obra que infesta as referências dos meus pares. E onde será que eles a encontram?

Depois de percorrer a cidade em busca do meu livro e não encontrar, entrei na internet e achei. Pedi, paguei frete e o terei em casa sem pedir ao garçom e sem sentir cheiro de café. Não há nada de mal em tomar capuchino na livraria. O que deve estar fora do lugar é a ênfase. Se eu entrasse numa cafeteria e perguntasse por um livro, talvez o garçom se desse conta de que eu é que estava no lugar errado.

RIBEIRO, Ana Elisa. Meus Segredos com Capitu. 2 ed. Natal: Jovens Escribas, 2015. (adaptado) 

No excerto do texto “[...] não queria ouvir música ao vivo, já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico” (6º parágrafo), a conjunção subordinativa expressa:

Alternativas
Comentários
  • JÁ QUE, VISTO QUE, UMA VEZ QUE, PORQUE, COMO, PORQUANTO = Conj. CAUSAL. 

    Também, lendo dessa forma: já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico ( causa )--- então: não queria ouvir música ao vivo ( consequência).

    Caso não lembre das conjunções causais/consecutivas, tente ver o que 'acontece primeiro', o resto é consequência. : não tenho dinheiro ( causa) 2º não quero ouvir música ao vivo. ( consequência).

     

  • Já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico, não queria ouvir música ao vivo.

    GAB. E

  • Invertendo...

     

    já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico não queria ouvir música ao vivo.

     

    CAUSAL X CONSECUTIVA

     

    Ex: Falou tanto / que ficou muito rouco.

     

    ---> A conjunção acompanha a consequência. Portanto, é consecutiva!

     

    Ex.: Já que falou tanto / ficou muito rouco.

     

    ---> A conjunção acompanha a consequência. Portanto, é causal.

     

    Erros me avisem!

  • O FATO DE nao ter dinheiro para pagar o couvert, FEZ COM QUE não queria ouvir música ao vivo.

  • GABARITO: E

  • Causais

    uma vez que, porque, como, porquanto, visto que, sendo que, na medida em que, pois, dado que, JÁ QUE.

    #PartiuPosse!

  • ja que = causa/ explicação
  • Já que é uma conjunção subordinativa causal.

    Decorem as conjunções ;)

  • GAB E

     

    Devido a constantes cobranças sobre conjunções é imperativo a revisão dessa temática..

     

    Dica: Além de ter em mente quais são as conjunções causais e os diversos sentidos diferentes que podem ter, é bom lembrar que geralmente pra saber se é causal, convenciona-se fazer uma pergunta que será a consequência e a resposta será a causa. Nem sempre dá, mas vale.

     

     “[...] não queria ouvir música ao vivo [por que?/pergunta = consequência], já que [porque/resposta = causa] nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico” 

     

    Causais: introduzem uma oração que é causa da ocorrência da oração principal. São elas: porque, que, como (= porque, no início da frase), pois que, visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde que, etc. Por exemplo: Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.

     

    Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração que expressa ideia de conclusão ou consequência. São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, por isso, assim. Por exemplo:

    Marta estava bem preparada para o teste, portanto não ficou nervosa.

     

     

    https://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf86.php

    https://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf85.php

     

  • não queria ouvir música ao vivo, já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert (Não querer ouvir música é ao vivo é o - efeito - e não ter dinheiro - a causa - )

    FORÇA GUERREIROS!!

    PCRJ 2020 !!!