SóProvas


ID
2604562
Banca
FCC
Órgão
DPE-AM
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

              Crônica de gente pouco importante: Manaus, século XIX


      Sei que vocês nunca ouviram falar de Apolinária. Nem poderiam. Ela faz parte de um conjunto de pessoas que jamais usufruíram de notoriedade.

      Era junho de 1855 quando Apolinária, 24 anos, cabinda, africana livre, afinal desembarcou no porto de Manaus. No início do século XIX, quando o tráfico de escravos se tornou ilegal como parte de um conjunto de acordos internacionais, os africanos livres eram os indivíduos que compunham a carga dos navios apreendidos no tráfico ilícito. Pela lei de 1831, se a apreensão ocorresse em águas brasileiras, eles ficavam sob tutela estatal e deviam prestar serviços ao Estado ou a particulares por 14 anos até sua emancipação. Com isso, os africanos livres chegaram aos quatro cantos do Império, inclusive ao Amazonas.

      Apolinária foi designada para trabalhar na recém-instalada Olaria Provincial. Suas crianças foram junto. Ali já estavam outros africanos livres que, além da fabricação de telhas, potes e tijolos, também eram responsáveis pela supervisão do trabalho dos índios que vinham das aldeias para servir nas obras públicas. Eram cerca de 20 pessoas que viviam no mesmo lugar em que trabalhavam e assim foi até 1858, quando a olaria foi fechada para se transformar em uma nova escola: os Educandos Artífices.

      A rotina na Olaria era dura e foi com alegria que Apolinária soube que seria a lavadeira dos Educandos. Diferente dos outros, não ia precisar se mudar para o outro lado do igarapé. Podia continuar ali com os filhos, o marido Gualberto, o cozinheiro Bertoldo e Severa, filha de Domingos Mina. O salário não era grande coisa, mas a amizade antiga com Bertoldo garantia alimento extra à mesa para todos. A tranquilidade durou pouco. O diretor dos Educandos, certamente mal informado pela boataria maledicente, a demitiu do cargo alegando que era ladra e dada a bebedeiras. Menos de 3 meses depois, Apolinária já estava de volta ao trabalho nas obras públicas, com destino incerto.

      Sou incapaz de dizer mais alguma coisa sobre o que aconteceu com Apolinária porque ela desapareceu da documentação, mas os fragmentos de sua vida que pude recuperar são poderosos para iluminar cenas da vida desta cidade que estavam nas sombras. A presença negra no Amazonas é tratada de modo marginal na historiografia local e só muito recentemente vemos mudanças neste cenário. Há ainda muitas zonas de silêncio. A história de Apolinária nos ajuda a colocar problemas novos, entre eles, o fato de que a trajetória dessas pessoas que cruzaram o Atlântico e, depois, o Império permite acessar um mundo bem pouco visível na história do Brasil: a diversidade de experiências que uniram índios, escravos, libertos e africanos livres no mundo do trabalho no século XIX.

Falar dessa gente pouco importante é buscar dialogar com personagens reais e concretos. Suas vidas comuns foram, de fato, extraordinárias, cada uma a seu modo. Seres humanos verdadeiros, que fazem a História acontecer todos os dias.

(Adaptado de: Patrícia Sampaio. Disponível em: http://amazoniareal. com.br. 06.08.2014) 

O comentário que interpreta adequadamente o vocábulo destacado, em seu contexto, está em:

Alternativas
Comentários
  • Gab:D.

    Alternativa "E", pronome relativo adequado seria "AS QUAIS", dessa forma gabarito D.

  • Analisando as alternativas:

    a) Sei que vocês nunca ouviram falar de Apolinária. (1° parágrafo) – refere-se a um número reservado de historiadores, público-alvo do texto, a quem a autora se reporta com formalidade e deferência.  

    Errada. O termo descatado "VOCÊS" refere-se a nós leitores e não historiadores.

     

     

    b) [...] deviam prestar serviços ao Estado ou a particulares por 14 anos até sua emancipação. (2° parágrafo) – refere-se aos senhores de escravos e expressa ideia de posse. 

    Errada. O termo destacada "SUA" refere-se à emancipação(libertação) dos escravos.

     

     

    c) Diferente dos outros, não ia precisar se mudar para o outro lado do igarapé. (4° parágrafo) – refere-se a um sujeito indeterminado, que não se pode deduzir da leitura do texto.  

    Errada. O termo destacado possui um referente.

     

    d) O diretor dos Educandos [...] a demitiu do cargo [...]. (4° parágrafo) – refere-se a Apolinária e indica que ela sofre a ação do verbo demitir

    Correta. O diretor pratica a ação : DEMITIR.

                 Apolinária sobre a ação: DEMITIDA.

     

     

    e) [...] iluminar cenas da vida desta cidade que estavam nas sombras. (5° parágrafo) – refere-se a cidade e poderia ser substituído por a qual.  

    Errada. O QUE faz referência ao termo CENAS. Observe que o verbo está no plural: "estavam".

  • Só complementando os comentários... Em relação ao erro da letra C:

     

    "Apolinária foi designada para trabalhar na recém-instalada Olaria Provincial. Suas crianças foram junto. Ali já estavam outros africanos livres que, além da fabricação de telhas, potes e tijolos, também eram responsáveis pela supervisão do trabalho dos índios que vinham das aldeias para servir nas obras públicas."

     

    Deduz-se do trecho que outros refere-se aos outros africanos que ali (Olaria Provincial) estavam. Talvez esteja se referindo, também, aos índios.

     

    Bons estudos!!!

  • Letra (d)

     

    Acresce:

     

    A questão buscou o conhecimento do candidato(a), sobre recurso anáforico e catafórico. Aquele, para que já foi dito e escrito, e este, para o que ainda vai ser dito e escrito.

  • a) Sei que vocês nunca ouviram falar de Apolinária. (1° parágrafo) – refere-se a um número reservado de historiadores, público-alvo do texto, a quem a autora se reporta com formalidade e deferência.  ERRADA, "vocês" faz referência aos leitores do texto. 

     

     b) [...] deviam prestar serviços ao Estado ou a particulares por 14 anos até sua emancipação. (2° parágrafo) – refere-se aos senhores de escravos e expressa ideia de posse. ERRADA, refere-se aos escravos. 

     

     c) Diferente dos outros, não ia precisar se mudar para o outro lado do igarapé. (4° parágrafo) – refere-se a um sujeito indeterminado, que não se pode deduzir da leitura do texto.  ERRADA, refere-se aos outros escrevos.

     

     d) O diretor dos Educandos [...] demitiu do cargo [...]. (4° parágrafo) – refere-se a Apolinária e indica que ela sofre a ação do verbo demitir. CORRETA

     

     e) [...] iluminar cenas da vida desta cidade que estavam nas sombras. (5° parágrafo) – refere-se a cidade e poderia ser substituído por a qualERRADA, refere-se a cenas.

  • Apenas sintetizando:

     

     

    (a) Faz referência a seu público alvo, aos leitores.

     

    (b) Faz referência a escravos, visto que estes é que serão emancipados

     

    (c) Faz referência aos outros africanos livres que tiveram que se mudar para o outro lado do igarapé

     

    (d) Faz referência a Apolinária, alegando que ela era ladra e dada a bebederiras

     

    (e) Faz referência a cenas, dado o ''que'' tratar de um pronome relativo que retorna o termo anterior

     

     

     

     

    GABARITO LETRA D

     

  • D) O diretor dos Educandos [...] a demitiu do cargo [...]. (4° parágrafo) – refere-se a Apolinária e indica que ela sofre a ação do verbo demitir

                                                    Coesão ____________________________________ ]

     

    a faz coesão com Apolinária.

    Coesão é “sinônimo” de ligação: ligação entre as partes.  Prof Aurenildo Santos

     

     

  •  

     

     

    LETRA E

    luminar cenas da vida desta cidade que estavam nas sombras. (5° parágrafo) – refere-se cenas da vida e poderia ser substituído por as quais.  

  • Relativamente ao Item E, observa-se que o certo seria AS QUAIS, pois está se referindo a cenas, que nem o OLIVER QUEEN disse.

    Abraços.

  • Sou nova nos estudos ainda e queria entender como saber que o pronome relativo QUE está se referindo a cenas e não a cidades? 
    Alguém me explica por favor!?

     

  • Eliane Teixeira, 

    QUE faz referência ao termo CENAS. Observe que o verbo está no plural: "estavam".

     

    Obs.: Dica do Rodrigo Marcelo.

  • Complementando...

     

     

    Termo    /    Referência

     

     

    a) vocês  →   Leitores 

     

    b) sua  →  Escravos

     

    c) outros  →  Africanos livres

     

    d) →  Apolinária   (GABARITO)

     

    e) que  →  Cenas 

     

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  • Letra A – ERRADA – O emprego do pronome de tratamento “vocês” faz menção a um interlocutor indeterminado, genérico. Não se trata de um interlocutor específico, como aponta o item.

    Letra B – ERRADA – A emancipação seria dos africanos livres. É a esse referente que o pronome “sua” está associado.

    Letra C – ERRADA – Os “outros” seriam os demais africanos livres, de quem Apolinária se diferenciava.

    Letra D – CERTA

    Letra E – ERRADA – O pronome relativo “que” refere-se não a “cidade”, mas sim a “cidades”. Isso fica bem claro devido à flexão plural de “estavam”, “amarrando” o termo antecedente ao pronome relativo também nesse número.

    Resposta: D