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ID
2638213
Banca
AOCP
Órgão
PM-TO
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                               Texto I


                                              LIVRO II

 
      1 . Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira, por via de regra, gera-se e cresce graças ao ensino — por isso requer experiência e tempo; enquanto a virtude moral é adquirida em resultado do hábito, donde ter-se formado o seu nome por uma pequena modificação da palavra (hábito). Por tudo isso, evidencia-se também que nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza; com efeito, nada do que existe naturalmente pode formar um hábito contrário à sua natureza. Por exemplo, à pedra, que por natureza se move para baixo, não se pode imprimir o hábito de ir para cima, ainda que tentemos adestrá-la jogando-a dez mil vezes no ar; nem se pode habituar o fogo a dirigir-se para baixo, nem qualquer coisa que por natureza se comporte de certa maneira a comportar-se de outra.

      Não é, pois, por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes se geram em nós. Digase, antes, que somos adaptados por natureza a recebê-las e nos tornamos perfeitos pelo hábito. Por outro lado, de todas as coisas que nos vêm por natureza, primeiro adquirimos a potência e mais tarde exteriorizamos os atos. Isso é evidente no caso dos sentidos, pois não foi por ver ou ouvir frequentemente que adquirimos a visão e a audição, mas, pelo contrário, nós as possuíamos antes de usá-las, e não entramos na posse delas pelo uso. Com as virtudes dá-se exatamente o oposto: adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes. Com efeito, as coisas que temos de aprender antes de poder fazê- las, aprendemo-las fazendo (...); por exemplo, os homens tornam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tangendo esse instrumento. Da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura, etc. Isto é confirmado pelo que acontece nos Estados: os legisladores tornam bons os cidadãos por meio de hábitos que lhes incutem. Esse é o propósito de todo legislador, e quem não logra tal  desiderato falha no desempenho da sua missão. Nisso, precisamente, reside a diferença entre as boas e as más constituições. Ainda mais: é das mesmas causas e pelos mesmos meios que se gera e se destrói toda virtude, assim como toda arte: de tocar a lira surgem os bons e os maus músicos. Isso também vale para os arquitetos e todos os demais; construindo bem, tornam-se bons arquitetos; construindo mal, maus. Se não fosse assim não haveria necessidade de mestres, e todos os homens teriam nascido bons ou maus em seu ofício.

      Isso, pois, é o que também ocorre com as virtudes: pelos atos que praticamos em nossas relações com os homens nos tornamos justos ou injustos; pelo que fazemos em presença do perigo e pelo hábito do medo ou da ousadia, nos tornamos valentes ou covardes. O mesmo se pode dizer dos apetites e da emoção da ira: uns se tornam temperantes e calmos, outros intemperantes e irascíveis, portando-se de um modo ou de outro em igualdade de circunstâncias. Numa palavra: as diferenças de caráter nascem de atividades semelhantes. É preciso, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porquanto da sua diferença se pode aquilatar a diferença de caracteres. E não é coisa de somenos que desde a nossa juventude nos habituemos desta ou daquela maneira. Tem, pelo contrário, imensa importância, ou melhor: tudo depende disso.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco: tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W.D. Ross (Os pensadores). 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991, p.29-30. 

No trecho “Tem [...] imensa importância, ou melhor: tudo depende disso.”, a vírgula e o sinal de dois-pontos são utilizados, respectivamente, para

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: E.

     

    Verifica-se que a vírgula separa um termo retificativo, qual seja: "Ou melhor".

     

    Já os dois pontos enunciam um esclarecimento: "Tudo depende disso".

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    Dica para testar esse tipo de questão é trocar as palavras.

     

     

    Exemplo: 

     

    “Tem [...] imensa importância, ou melhor: tudo depende disso.”

     

     

    "Tem [...] imensa importância, QUER DIZER: tudo depende disso." (Notadamente, temos retificação).

  • Adjetivo: Que retifica; que serve para retificar: ato retificativo.

    “Tem [...] imensa importância, ou melhor: tudo depende disso.

    A expressão '' OU MELHOR'' separa um termo retificativo.

    Exemplos de termos Retificativos: ou seja, isto é, quer dizer, por exemplo, ou ainda, ou melhor…

    Os dois pontos servem para expor um esclarecimento: tudo depende disso.

    Gabarito: E

    Nunca desista dos seus sonhos. Siga em frente !!!

  • A vírgula isola uma expressão de caráter retificador “ou melhor”. São as chamadas expressões interpositivas. Já os dois-pontos introduzem uma explicação do que foi anteriormente dito.

    Resposta: E

  • separar expressão retificativa e para enunciar um esclarecimento.

    retificar = editar

    ratificar = afirmar

    gab E

    a nossa vitória vem de DEUS.