SóProvas


ID
2738947
Banca
FUNRIO
Órgão
AL-RR
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I


Anotações sobre uma pichação


    Faz provavelmente uns dois anos que topei com a frase pela primeira vez, num muro qualquer da cidade. Em pouco tempo, era impossível deixar de vêla. Da noite para o dia, como uma infecção, onde houvesse um tapume, muro, parede, empena ou porta de ferro, ela aparecia: Não fui eu.

    É certo que, pichada num muro de Estocolmo, os sentidos que ganharia seriam outros, e não há dificuldade em imaginar que conteúdos ela traria à tona em Berlim. História e geografia aqui são determinantes. O passado é tudo.

    Minha hipótese é de que, no Brasil, a frase é imediatamente lida como um protesto de inocência. A um brasileiro não ocorrerá interpretá-la como manifestação de modéstia, como recusa de um crédito indevido – Não, essa honra não me cabe, ou Não, o mérito não é meu. Como violência, desigualdade e desordem formam a teia de nossa existência cívica, o que se insinua nas entrelinhas de Não fui eu não é a virtude, mas o delito.

    Delito dos outros, no caso. A transferência de ônus é o que parece dar força ao enunciado, na medida em que fundamenta uma verdade incômoda sobre nossa condição de cidadãos brasileiros. Como tantos de nós, o autor está tirando o corpo fora.

Ignora-se a identidade do autor dessa frase com a qual o carioca convive há anos e que continua a se disseminar pelas superfícies da cidade. Numa reportagem de 2017 da Veja Rio, ele afirma que se manterá no anonimato: “Se a pichação funciona como uma assinatura que reivindica a autoria, meu trabalho é uma assinatura que nega a própria autoria. Comecei a me interessar pela potência poética que surgia disso e pelas diferentes leituras que a frase poderia ter na rua.”

    Fez bem. Não sendo enunciada por ninguém em particular, a frase pertence a qualquer um. A sensação difusa de que ela exprime um éthos*, de que essas três palavras falam de nós, é uma confirmação de que, dado o alheamento geral, o melhor mesmo é jogar a toalha e ir cuidar da vida.

(*Éthos: palavra com origem grega, que significa "caráter moral")


SALLES, João Moreira. Revista PIAUÍ, 2018. (Adaptado)

Sobre a redação do trecho Ignora-se a identidade do autor dessa frase com a qual o carioca convive há anos, é CORRETO afirmar que a(s)

Alternativas
Comentários
  • Caso de ênclise, pronome colocado depois do verbo!
  • Sobre a redação do trecho Ignora-se a identidade do autor dessa frase com a qual o carioca convive há anos, é CORRETO afirmar que a(s)

     a)construção sintática está de acordo com a norma padrão da língua. 

     b)regras de colocação pronominal não foram devidamente seguidas. 

     c)regência verbal empregada está em desacordo com a norma padrão. 

     d)concordância do verbo haver é aceitável somente na linguagem informal.

    Gaba: A

  • Gabarito: A

     

    A)Gabarito

     

    B)ERRADO -  Ignora-se a identidade do autor dessa frase - Verbo no presente e começo de frase, Ênclise OBRIGATÓRIA.

     

    C) ERRADO, ESTÁ TUDO DE ACORDO - Ignora-se a identidade do autor dessa frase com a qual o carioca convive anos -

     

    Ignora-se: está na voz passiva sintética, pois tem o pronome apassivador - a identidade do autor dessa frase é ignoradA (V.I.)

     

    convive: quem convive, convive COM - pronomes relativos atraem a proposição e ficam na frente.


    Há - Verbos Haver e Fazer no sentido de tempo decorrido são impessoais, ou seja, obrigatóriamente no singular.

     

    D) ERRADO - aceitável tanto na linguagem formal quanto na informal.

  • Alguém poderia explicar  a função do SE na frase?

  • O "SE" está como partícula apassivadora.

  • MARINA, A FUNÇÃO DO SE É DE PARTÍCULA APASSIVADORA, POIS TEMOS UM VERBO TRANSITIVO DIRETO E QUE DEVE CONCORDAR COM SEU SUJEITO PACIENTE.

     

    IGNORA-SE A IDENTIDADE..

      VTD       PA     SUJ.PACIENTE


  • QUANDO O SE SE JUNTA A VERBO TRANSITIVO DIRETO ELE  SE TORNA PARTICULA APASSIVADORA SINTÉTICA!!
    DEVE CONCORDAR COM O SUJEITO PACIENTE

  • Ignora-se a identidade do autor dessa frase com a qual o carioca convive há anos


    Não seria "DESTA", por se referir a um termpo posposto "FRASE"?

  • Jefferson, você tem que ler o texto todo para entender que o DESSA se refere lá ao início do texto, da frase "Não fui eu".


    Essa questão do essa/esta precisa ser analisada no contexto geral do texto, não de uma frase isolada.

  • GABARITO: A

  • GABARITO: A.

    Caso de ênclise, pronome colocado depois do verbo!

  • GABARITO: LETRA A

    COMPLEMENTANDO:

    Ênclise tem incidência nos seguintes casos: 

    - Em frase iniciada por verbo, desde que não esteja no futuro:

    Vou dizer-lhe que estou muito feliz.

    Pretendeu-se desvendar todo aquele mistério. 

    - Nas orações reduzidas de infinitivo:

    Convém contar-lhe tudo sobre o acontecido. 

    - Nas orações reduzidas de gerúndio:

    O diretor apareceu avisando-lhe sobre o início das avaliações. 

    - Nas frases imperativas afirmativas:

    Senhor, atenda-me, por favor!

    FONTE: QC