SóProvas


ID
2776837
Banca
FCC
Órgão
TRT - 14ª Região (RO e AC)
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão.

    Permita-me uma pergunta um tanto primária para começar: você defende o silêncio como forma de resistência, mas de onde nasce o ruído? − Boa parte da nossa relação com o ruído procede do desenvolvimento tecnológico, especialmente em seu caráter mais portátil: sempre carregamos sobre nós dispositivos que nos recordam que estamos conectados, que nos avisam quando recebemos uma mensagem, que organizam os nossos horários com base no ruído. Esta circunstância veio incorporar-se às que já haviam tomado forma no século XX como hábitos contrários ao silêncio, especialmente nas grandes cidades, governadas pelo tráfego de veículos e por numerosas variedades de contaminação acústica. Neste contexto, o silêncio implica uma forma de resistência, uma maneira para manter a salvo uma dimensão interior frente às agressões externas. O silêncio permite-nos ser conscientes da conexão que mantemos com esse espaço interior, o silêncio a visibiliza, enquanto o ruído a esconde. Outra maneira de nos conectarmos com o nosso interior é o caminhar, que transcorre no mesmo silêncio. O maior problema, provavelmente, é que a comunicação eliminou os mecanismos próprios da conversação e se tornou altamente utilitarista com base nos dispositivos portáteis.
    O que você responderia a quem sustentasse que o silêncio é uma confissão de ignorância? − O silêncio é a expressão mais verdadeira e efetiva das coisas inomináveis. E a tomada de consciência de que há determinadas experiências para as quais a linguagem não serve, ou que a linguagem não alcança, é um traço decisivo do conhecimento. Nesse sentido, tradições como a cristã, em que o silêncio é muito importante, tornam-se reveladoras: a sabedoria dirige-se a compreender o que não se pode dizer, o que transcende a linguagem. Nessa mesma tradição, o silêncio é uma via de aproximação de Deus, o que também se pode interpretar como um conhecimento. Podemos utilizar o silêncio para nos conhecermos melhor, para nos distanciarmos do ruído. E este é um valor a reivindicar no presente.
    É por essa qualidade de resistência que se tacha de louco quem caminha sem rumo? Sim, é o que acontece. E por isso o caminhar, como o silêncio, é uma forma de resistência política. No momento de sair de casa, de movimentar-se, você de imediato se vê diante da interferência de critérios utilitaristas que evidenciam perfeitamente para onde você deve ir, por qual caminho e por qual meio. Caminhar porque sim, eliminando da prática qualquer tipo de apreciação útil, com uma intenção decidida de contemplação, implica uma resistência contra esse utilitarismo e, ocasionalmente, também contra o racionalismo, que é o seu principal benfeitor. A marcha permite advertir como é bonita a Catedral, como é brincalhão o gato que se esconde por ali, as cores do pôr do sol, sem qualquer finalidade, porque toda sua finalidade é esta: a contemplação do mundo. Frente a um utilitarismo que concebe o mundo como um meio para a produção, o caminhante assimila o mundo que as cidades contêm como um fim em si mesmo. E isso, claro, é contrário à lógica imperante. Daí a vinculação com a loucura.

(Entrevista de Pablo B. Málaga com David le Breton. Trad. de Sílvio Diogo. Disponível em: https://www.pensarcontemporaneo.com

As frases abaixo dizem respeito à pontuação do texto.

I. Em ...nas grandes cidades, governadas pelo tráfego de veículos... (1o parágrafo), a supressão da vírgula acarretaria sentido explicativo ao segmento subsequente.
II. Feitas as devidas alterações na frase, o ponto final, em ...para nos distanciarmos do ruído. E este é um valor... (2o parágrafo), pode ser substituído por vírgula.
III. Em ...dirige-se a compreender o que não se pode dizer, o que transcende a linguagem (2o parágrafo), a supressão da vírgula, embora ocasione alteração de sentido, não prejudica a correção gramatical.

Está correto o que consta APENAS de

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: A

    I. Em ...nas grandes cidades, governadas pelo tráfego de veículos... (1º parágrafo), a supressão da vírgula acarretaria sentido explicativo ao segmento subsequente.

    Com vírgula: explicativo; Oração subordinada adjetiva explicativa – identifica que a afirmação refere-se à totalidade dos elementos do grupo designado pelo pronome relativo. Em regra, na língua portuguesa, todos os termos explicativos são separados por vírgula.

    Sem vírgula: restritivo. Oração subordinada adjetiva restritiva – identifica que a afirmação diz respeito a apenas parte dos elementos do grupo designado pelo pronome relativo. Nesse caso, a oração subordinada não é separada por vírgula.

     

    II. Feitas as devidas alterações na frase, o ponto final, em ...para nos distanciarmos do ruído. E este é um valor... (2o parágrafo), pode ser substituído por vírgula.

    Certo! Vejamos: ...para nos distanciarmos do ruído, e este é um valor a reivindicar no presente...QUANDO USAR VÍRGULA ANTES DO E? Quando o conecta duas orações com sujeitos diferentes.

     

    III. Em ...dirige-se a compreender o que não se pode dizer, o que transcende a linguagem (2o parágrafo), a supressão da vírgula, embora ocasione alteração de sentido, não prejudica a correção gramatical.

    ...dirige-se a compreender o que não se pode dizer, o que transcende a linguagem. A vírgula separa itens enumerados ou elementos repetidos.

  • LETRA A

    NÃO SEI SE ESTOU CORRETO, MAS:

    I - achei bem complicada essa, mas eu acho que traz uma oração com a conjunção escondida:

     

    .nas grandes cidades, governadas pelo tráfego de veículos..

    .nas grandes cidades, que são governadas pelo tráfego de veículos..

     

    eis que entra o caso das adjetivas: COM virgula explica e SEM vírgula restringe

     

    III

     

    eu vejo o erro no sentindo de complementos verbais exigirem a virgula quando em sequência

  • I- ERRADA, RETIRANDO A VIRGULA TEMOS UMA ORACAO RESTRITIVA.

    II - CORRETA. 

    III- ERRADA, ITENS ENUMERADOS, VIRGULA OBRIGATORIA. NAO MUDA SO O SENTIDO DA FRASE, OCORRE ERRO GRAMATICAL TB.

  • Gabarito - A

     

    I. Em ...nas grandes cidades, governadas pelo tráfego de veículos..., a supressão da vírgula acarretaria sentido explicativo ao segmento subsequente.

     

    → Errado, com a supressão da vírgula a oração ficaria com sentido restritivo, não explicativo.

     

    Lembrando que:

     

    Com vírgula - ExpliCa

    Sem vírgula - ReStringe

     

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    II. Feitas as devidas alterações na frase, o ponto final, em ...para nos distanciarmos do ruído. E este é um valor..., pode ser substituído por vírgula.

     

    → Correto, o uso do ponto final, no texto, possui cunho estilístico, logo, pode ser trocado pela vírgula sem problemas, pois há 2 orações com sujeitos distintos.

     

    Casos em que se pode usar a vírgula antes do "e":

     

    1) Relação adversativa. Ex.: Sergio estava com calor, e (mas) estava de casaco.

     

    2) Orações coordenadas formadas por sujeitos distintos. Ex.: Sergio gosta de vinho, e Isabela prefere chocolate.

     

    3) Fenômeno do polissíndeto (repetição da conjunção em vários momentos): Ex.: Sergio sai, e corre, e pensa, e escuta, e age.

     

     

    Fonte - https://exame.abril.com.br/carreira/quando-eu-posso-usar-virgula-antes-do-e/

     

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    III. Em ...dirige-se a compreender o que não se pode dizer, o que transcende a linguagem, a supressão da vírgula, embora ocasione alteração de sentido, não prejudica a correção gramatical.

     

    → Errado, não cabe a supressão da vírgula, pois ela está marcando uma enumeração de termos repetitivos.

     

    "...dirige-se a compreender o que não se pode dizer, o que transcende a linguagem"

     

     

     

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    Confira o meu material gratuito --> https://drive.google.com/drive/folders/1sSk7DGBaen4Bgo-p8cwh_hhINxeKL_UV?usp=sharing

  • Achei essa complicada kkkk

  • Complementando...

    Quanto ao item II) Lembrar que é facultativo o uso da vírgula para separar orações aditivas com sujeitos diferentes. Porém, é recomendável usá-la. (Esse uso cai muito!!!)

    Ex.: Eu trabalhava (,) e meu filho gastava o dinheiro.

    Como no item supramencionado o examinador apenas aventou a possibilidade, tal modificação não incorreria em erro gramatical.

    Bons estudos a todos!

  • As justificativas, sobre a assertiva nº III, encontram-se erradas, porquanto a vírgula serve para marcar a elipse do verbo ''compreender'', e não para separar termos de uma enumeração.