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ID
2978386
Banca
FCC
Órgão
SEMEF Manaus - AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            O brasileiro gosta de pensar que o Brasil é uma nação acolhedora, que recebe imigrantes de braços abertos. Em termos de dados históricos e estatísticos, não é bem assim. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos. Na década de 1860, a questão da imigração de chineses atingiu proporções de grande controvérsia e chegou a ser debatida no parlamento. O consenso era de que devia ser impedida para evitar o suposto risco de degeneração racial. Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país. Em 1890, já sob a República, a entrada de asiáticos foi efetivamente barrada por decreto. [...]

            O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais. Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”. [...]. A preferência por imigrantes católicos seguia a premissa de que seriam de assimilação fácil e não ameaçariam a composição cultural da jovem nação. Aqueles no poder queriam que o brasileiro continuasse do jeitinho que era, só que mais branco. Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente. Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.

            Os doutores daquela época não conseguiram o que almejavam, por três motivos. O primeiro, concreto, é que as doutrinas científicas em que acreditavam eram falsas. Não existe raça pura, em termos biológicos, muito menos a superioridade de uma sobre outra. O segundo, circunstancial, é que a fonte de imigrantes na Europa foi secando antes que a demanda por trabalhadores no Brasil se esgotasse. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista. A imigração em massa de japoneses para o Brasil, ao longo do século 20, não somente descarrilou o projeto de branqueamento como também quebrou o paradigma de que não católicos eram inassimiláveis. Os japoneses ficaram e se fixaram. Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós.

            O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião. [...] o mito do bom imigrante católico ignorava estrategicamente a presença de judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.

(CARDOSO, Rafael. O Brasil é dos brasileiros. Revista Serrote, no 27, pp. 45 e 47, 2018) 

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Alternativas
Comentários
  • Complicado afirmar que SOMENTE a expressão "LONGE DA VISTA" pode ter o valor CAUSAL.

    Eis o trecho: "Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós."

    1) Conseguiram essa proeza, de início = CONSEQUÊNCIA

    2) porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós. = CAUSA

    A EXPRESSÃO INTEIRA, sim, tem valor causal, mas a questão é clara quando se trata do "SEGMENTO SUBLINHADO" : "LONGE DA VISTA". Essa expressão tem mais valor de "LUGAR" do que de causa. Complicado...

    Se alguém tiver uma explicação dessa questão para esclarecer, ou então se ela foi anulada.

  • “Mantiveram-se”= mantiveram a si mesmos…

    Em “Longe da vista”, pode-se subentender valor causal: Porque ficaram longe, porque se esconderam…

    Gabarito letra E.

    (A) (parágrafo 1) A frase Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país exemplifica enunciado em que as formas verbais denotam que as ações ocorrem em simultaneidade.

    Incorreto. A locução “haviam ingressado” está no pretérito mais-que-perfeito e indica uma ação passada anterior a outra também passada, não há simultaneidade.

    (B) (parágrafo 2) À oração inicial do período Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente, deve ser atribuído o sentido temporal, sem outra possibilidade de valor.

    Incorreto. É possível, por exemplo, atribuir valor de causa: Porque seguiam-se…

    (C) (parágrafo 2) Em Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente, a forma grifada é semanticamente equivalente a “para eliminar”.

    Incorreto. A forma “para eliminar” indica finalidade, o sentido original é de consequência.

    (D) (parágrafo 2) A transposição da frase Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia para a voz ativa gerará a forma “tinha documentado”.

    Incorreto. Geraria a forma “documentaram”; como o agente da passiva não aparece, na voz ativa não saberemos quem é o sujeito, então ficará em forma de sujeito indeterminado: “documentaram”. 

    PROFESSOR FELIPE LUCAS

  • Resolvi essa questão eliminando as alternativas absurdas pra mim (B, C e D), entre a A e E (não lembrava que o haviam ingressado era pretérito mais que perfeito), usei o bizu do "O FATO DE (CAUSA) FAZ COM QUE (CONSEQUENCIA).

    Na E: O FATO DE se mantiverem longe da vista (CAUSA), FEZ COM QUE conseguissem essa proeza. (CONSEQUENCIA)

    Não é o método mais adequado de se resolver uma questão, mas na hora do desespero, vale tudo, e o bizu é bom, funciona em quase todas as questões de Causa e Consequência.

  • Só eu achei essa prova difícil? Uma questão mais complicada que a outra

  • Para mim, o segmento da E tem valor de modo... Achei bem complexa a questão...

  • Manter-se é reflexivo? Achei que fosse PIV...

  • Tá amarrado.

    Gabarito "E" mas sem entender!

  • A questão deveria ser anulada, pois o segmento sublinhado não tem valor causal. A alternativa pediu o segmento sublinhado e não o sentido da frase inteira.

  • Na minha opinião, se voltarmos ao texto e lermos o trecho por inteiro, fica mais fácil compreender o gabarito e a explicação do colega Rodrigo Branco.

    Vejamos:

    "Os japoneses ficaram e se fixaram. Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós."

    Na minha percepção, o trecho "Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós" está intimamente ligado ao "porque" apresentado anteriormente. Seria como se fosse dito: conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país e porque se mantiveram longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós."

  • Sobre a letra A

    TINHA ou HAVIA + particípio = RA (= pretérito mais que perfeito do indicativo).

    Fonte: dicas da Flávia Rita.

  • Correto o comentário do José Junior de 2 de junho. Naquele ponto, o professor Felipe Lucas chupou bala! Pesquisei no Estratégia concursos.

  • porque se mantiveram isolados ... eles conseguiram essa proeza

    Já que se mantiveram isolados..

    visto que se mantiveram isolados...

    Uma vez que se mantiveram isolados...

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • fiquei entre a letra B e E e errei, porque acreditava que longe das vistas era adjunto adverbial de lugar. Baita pegada.

  • Consequência: conseguiram essa proeza (ficaram e se fixaram...tornaram-se brasileiros)

    causa: porque se mantiveram isolados...longe da vista

  • E quando a gente pensa que todas estão corretas?? Rsrs.... aí é grave! (Eu) ......... :(

  • Acertei por eliminação. Esse valor causal de "Longe da Vista" é muito forçado. "Se" denotar reflexão está correto de cara.

  • Verdade, Boitatá. Fui na E, mas meio desconfiado com esse valor causal de "longe da vista"...

  • O examinador que fez essa prova tava descornado... só pode

  • Essa questão foi braba...

  • Ô maravilha!

  • Professora Fabiana muito bem nas explicações...

    Parabéns pelo excelente trabalho.