SóProvas


ID
3050584
Banca
CETAP
Órgão
Prefeitura de Tailândia - PA
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                          A Grande Heresia do Simples


      Em seu livro Tristes Trópicos, Lévi-Strauss descreve os seus colegas brasileiros: “Qualquer que fosse o campo do saber, só a teoria mais recente merecia ser considerada. (...) Nunca liam as obras originais e mostravam um entusiasmo permanente pelos novos pratos. (...) Partilhar uma teoria conhecida era o mesmo que usar um vestido pela segunda vez, corria-se o risco de um vexame”.

      Cultivamos essa paixão pelas navegações intergalácticas e pelo modismo. Assim, acaba tudo muito complicado, inclusive na educação. Ouso arrostar a cultura nacional. Cometo a Grande Heresia do Simples: tento demonstrar que a educação brasileira precisa de um “feijão com arroz” benfeito, nada mirabolante, nada nos espaços siderais. Vejamos a receita que deu certo alhures.

      A escola precisa de metas. E que sejam poucas, claras, estáveis e compartilhadas. Se cada um rema para o seu lado, o barco fica à deriva.

      A escola tem a cara do diretor, o principal responsável pela criação de um ambiente estimulante e produtivo. Daí o extremo cuidado na sua escolha. Eleição por professores não será pior que indicação política? E, uma vez escolhido, o diretor precisa de autonomia, de par com cobrança firme do que for combinado.

      Boa gestão é essencial. Nem empresas, nem paróquias, nem escolas se administram sem dominar os princípios e técnicas apropriados. Ademais, as secretarias não devem atrapalhar, criando burocracias infinitas.

      O professor tem de dominar o assunto que vai ensinar e saber como dar aula. Infelizmente, as faculdades de educação acham isso irrelevante.

      Prêmios e penalidades. De alguma forma, o bom desempenho do professor deve ser recompensado. E, se falhar, que venham os puxões de orelha. Por que a atividade mais crítica para o futuro do país é uma das poucas em que prevalece a impunidade.

      Ensinou a teoria ou o princípio? Então, que sejam aplicados em problemas práticos e realistas. Diz a ciência cognitiva que sem aplicar não se aprende.

      Nova idéia? Então mostre sua conexão com alguma coisa que o aluno já sabe. Isso se chama “contextualizar”. Pelo menos, que não se ensine nada sem mostrar para que serve. Se o professor não sabe, como pode suceder na matemática, é melhor não ensinar. É preciso ensinar menos, para os alunos aprenderem mais. O tsunami curricular impede que se aprenda o que quer que seja. Ouve-se falar de tudo, mas não se domina nada. E como só gostamos do que entendemos, no ritmo vertiginoso em que disparam os assuntos, não é possível gostar e, portanto, aprender o que quer que seja.

      Valores e cidadania se aprendem na escola, tanto quanto a matéria ensinada. Só que não no currículo ou em sermões, mas na forma pela qual a escola funciona. Escola tolerante e justa ensina essas virtudes. Aprende-se pelo exemplo da própria escola e dos professores. Tão simples quanto isso. Com bagunça na aula não se aprende. Foi o que disseram os próprios alunos, em uma pesquisa do Instituto Positivo (confirmada por outros estudos). A escola precisa enfrentar com firmeza a assombração da indisciplina.

      Sem avaliação, a escola faz voo cego. Nossos sistemas de avaliação são excelentes. Mas ainda são pouco usados, seja pelos professores, pela escola ou pelas secretarias. É pena.

      A tecnologia pode ajudar, não há boas razões para desdenhá-la. Mostra o Pisa: na mão dos alunos, produz bons resultados. Mas não é uma ferramenta para alavancar mudanças. Escola travada não vai mudar com computadores, tablets ou smartphones. Pior, dentro da escola, escoam-se décadas e ela continua um elefante branco, incapaz de promover avanços na qualidade. E aos pais cabe vigiar. Conforme o caso, apoiando ou cobrando.

      O currículo é ler com fluência, entender o lido, escrever corretamente, usar regra de três, calcular áreas, volumes e um juro simples, ler gráficos e tabelas... Só depois de dominado isso podemos ir para as guerras púnicas, derivadas e integrais, reis da França, afluentes do Amazonas e a infinidade de bichinhos do livro de biologia.

      Onde está a complicação? Fazer bem o “feijão com arroz” seria uma revolução no nosso ensino. Mas, para muitos, o simples é a Grande Heresia.

(Fonte: CASTRO, Claudio de Moura. Veja-21 de outubro 2015)

Em: “(...) não há boas razões para desdenhá-la (...)”, analise as alternativas e assinale a incorreta quanto à estrutura:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    → A tecnologia pode ajudar, não boas razões para desdenhá-la.

    A) O verbo haver, no fragmento, é impessoal. → correto, configurando um sujeito inexistente, verbo "haver" com sentido de "ocorrer, ter, existir" será impessoal.

    B) O pronome oblíquo “Ia” refere-se à tecnologia. → correto, desdenhar alguma coisa (a tecnologia → lá).

    C) Sempre que o pronome oblíquo estiver depois de verbos terminados em r, s, z, usa-se Io, Ia, los, Ias. → correto, terminação em R, S, Z (essas letras saem e o pronome usado é: lo(s), la(s)).

    D) Boas razões é o sujeito da ação verbal. → incorreto, há alguma coisa (boas razões → objeto direto do verbo "haver", que é um verbo transitivo direto).

    E) A preposição “para” tem sentido de finalidade. → correto, conjunção subordinativa final, expressando finalidade, fim.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! RUMO À APROVAÇÃO!

  • Letra D nos remete ao uso do verbo HAVER, que quando no sentido de tempo transcorrido ou de existir é impessoal, ficando conjugado na 3ª Pessoa do Singular.

    Por certo, boas razões NÃO é o sujeito da ação verbal.

  • GABA LETRA D,

    O verbo haver, neste caso, está no sentido de existir ou ocorrer. Portanto, este será indicado como verbo impessoal, ou seja, não há sujeito. Contudo, o verbo haver no sentido de existir ou ocorrer terá objeto direto; do mesmo modo, o verbo existir, caso façamos a troca na frase, conterá sim sujeito.

    Abraço e bons estudos!

  • "boas razões" é o OBJETO DIRETO do verbo haver.

    Quando o verbo haver é impessoal (empregado com sentido de existir) ele não aceita sujeito, logo, o que poderiiiiiia ser o sujeito será o objeto direto do verbo (:

  • GABARITO LETRA D

    Verbo impessoal não possui sujeito

  • Justificativas

    A) Correta. Verbo haver com sentido de existir é impessoal, não possuindo sujeito e, portanto, incapaz de ser flexionado

    B) Correta.

    C) Correta. Regra gramatical literal do uso de pronomes juntamente a verbos terminados em r, s ou z

    D) O verbo haver é impessoal. Como tal, não possui sujeito mas somente complemento. Este é o gabarito

    E) Correto. Essa conjunção poderia ser substituída por qualquer outra com sentido de finalidade, objetivo.