SóProvas


ID
3114106
Banca
FCC
Órgão
SANASA Campinas
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      De cedo, aprendi a subir ladeira e a pegar bonde andando. Posso dizer, com humildade orgulhosa, que tive morros e bondes no meu tempo de menino.

      Nossa pobreza não era envergonhada. Ainda não fora substituída pela miséria nos morros pobres, como o da Geada. Que tinha esse nome a propósito: lá pelos altos do Jaguaré, quando fazia muito frio, no morro costumava gear. Tínhamos um par de sapatos para o domingo. Só. A semana tocada de tamancos ou de pés no chão.

      Não há lembrança que me chegue sem os gostos. Será difícil esquecer, lá no morro, o gosto de fel de chá para os rins, chá de carqueja empurrado goela abaixo pelas mãos de minha bisavó Júlia. Havia pobreza, marcada. Mas se o chá de carqueja me descia brabo pela goela, como me é difícil esquecer o gosto bom do leite quente na caneca esmaltada estirada, amorosamente, também no morro da Geada, pelas mãos de minha avó Nair.

      A miséria não substituíra a pobreza. E lá no morro da Geada, além do futebol e do jogo de malha, a gente criava de um tudo. Havia galinha, cabrito, porco, marreco, passarinho, e a natureza criava rolinha, corruíra, papa-capim, andorinha, quanto. Tudo ali nos Jaguarés, no morro da Geada, sem água encanada, com luz só recente, sem televisão, sem aparelho de som e sem inflação.

      Nenhum de nós sabia dizer a palavra solidariedade. Mas, na casa do tio Otacílio, criavam-se até filhos dos outros, e estou certo que o nosso coração era simples, espichado e melhor. Não desandávamos a reclamar da vida, não nos hostilizávamos feito possessos, tocávamos a pé pra baixo e pra cima e, quando um se encontrava com o outro, a gente não dizia: “Oi!”. A gente se saudava, largo e profundo: − Ô, batuta*!

*batuta: amigo, camarada.

(Texto adaptado. João Antônio. Meus tempos de menino. In: WERNEK, Humberto (org.). Boa companhia: crônicas. São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 141-143) 

Está escrito em conformidade com as regras de concordância este livre comentário:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    A) Água encanada, televisão, aparelho de som, nada disso eram acessíveis aos moradores. ? temos o aposto resumitivo "nada", o verbo deve concordar com esse aposto: nada...era.

    B) O hábito de subir ladeiras e pegar bondes andando foram adquiridologo cedo. ? temos um sujeito simples com o núcleo no singular "hábito", o correto é: foi adquirido.

    C) Posso dizer que fez parte do meu tempo de menino os morros e os bondes do Jaguaré. ? temos um sujeito posposto ao verbo sendo composto (dois núcleos), logo na ordem direta e com correção: Os morros e os bondes de Jaguaré fizeram parte....

    D) Quando eu tinha dores nos rins, as mãos de minha bisavó Júlia me serviam chá de carqueja. ? correto.

    E) Quando se encontrava na rua, as pessoas tinham o costume de se saudar dizendo ?Ô, batuta!?. ? as pessoas... se encontravam; se saudarem;

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  • a) Nada era

    b) O hábito foi

    c) Fizeram parte os morros e os bondes

    d) Correta

    e) As pessoas se encontravam

  • Assertiva D

    Quando eu tinha dores nos rins, as mãos de minha bisavó Júlia me serviam chá de carqueja.