SóProvas


ID
3185962
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Sabará - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Todo filho é pai da morte de seu pai

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete. E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai. Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.

(Autor desconhecido. Disponível em: http://www.contioutra.com/todo-filho-e-pai-da-morte-de-seu-pai/. Acesso em: 27/12/2016.)

É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.” (3º§) Quanto ao trecho sublinhado é correto afirmar que se trata de um aposto 

Alternativas
Comentários
  • Aposto explicativo servindo para explicar ou esclarecer o substantivo referido que no caso é pai.

    GABARITO. A

  • GABARITO: LETRA A

    ? ?É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.?

    ? Temos um aposto explicativo, explica algo acerca do termo a que se refere (=substantivo "pai").

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Lembrando que o aposto explicativo sempre vem separado por pontuação: vírgula, dois-pontos, travessão ou parênteses.

  • GABARITO -A

    Tipos de Aposto:

    Explicativo=

    Oferece uma explicação sobre o termo anterior:

    A geografia, estudo da terra, é uma disciplina fundamental do currículo escolar.

    Júlia, dos Recursos Humanos, pediu para você preencher essas fichas.

    Distributivo=

    Retoma as explicações sobre os termos, contudo, de maneira separada na oração:

    Vitória e Luís foram os vencedores, aquela na corrida e este no atletismo.

    Enumerativo =

    Enumera as explicações sobre o termo, sendo separado por vírgulas:

    Na bolsa levava o que precisava: roupasbiquínis toalhas.

    O programa de hoje é: praia, pizza e cinema.

    Comparativo=

    Compara o termo da oração:

    A garota, que parecia desacordada, foi levada para o hospital.

    Resumidor =

    Resume os termos anteriores do enunciado:

    Saúde, educação e acesso à cultura, tudo isso são prioridades para a melhoria de um país.

    Paz e sossego, esses são os meus desejos para as férias.

    Especificativo=

    Especifica um termo da oração:

    A aluna Joana continua se nos surpreender.

  • acrescentando:

    outra denominação: Aposto resumidor ou recapitulativo

    aposto oracional:

    Apresenta pontuação, geralmente os dois pontos. Há um verbo dentro do aposto. Por essa razão, é chamado de .

    Em regra, é introduzido pela conjunção integrante “que”, mas também pode aparecer sem o conectivo.

    Ex1: Tenho uma meta: que minhas dificuldades com a língua portuguesa acabem de vez.

    Ex2: Juca não tinha feito suas tarefas escolares, fato que aborreceu bastante sua mãe