- ID
- 3219412
- Banca
- VUNESP
- Órgão
- Prefeitura de Rio Claro - SP
- Ano
- 2016
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia o texto Acabar em pizza, de João Pereira Coutinho, para
responder à questão.
Tenho um amigo de infância que ainda vive na casa dos
pais. Estranho? Talvez, se tivermos em conta que ele tem
40 anos.
E, antes que o leitor imagine o personagem como uma
triste figura – um rapaz que só vive para os estudos e sem
atrativos físicos, por favor, não se iluda.
O rapaz está em excelente forma. A vida sentimental
sempre foi como a cabeça de Carmen Miranda – colorida e
suculenta. E, economicamente falando, o desgraçado é mais
rico do que eu.
Mas o pior não são estas evidências. É escutá-lo sobre
a situação doméstica, que ele relata com uma serenidade
oriental. A questão é bastante simples – e razoável. Os
pais sempre insistiram para que ele “voasse para fora do
ninho”. Mas ele, mais inteligente que os pais, começou a
fazer contas. E ficou no ninho.
Um apartamento custa dinheiro. Uma empregada para
tratar da roupa e da limpeza da casa também não é grátis.
Os cozinhados da mãe suplantam qualquer produto congelado. E, quando existem encontros românticos, nada se
compara a um bom hotel com um bom room service. Além
disso, as poupanças de viver com os pais permitem-lhe
trabalhar a meio-termo.
“E se um dia surgir uma mulher permanente?”, pergunto
eu, desesperado. A resposta é lógica: “A casa é suficientemente grande para todos”.
Escuto tudo com uma mistura de pasmo e inveja.
E depois penso: a sorte dele é não viver na Itália.
Alguns números: na pátria do “dolce far niente”, 65% dos
italianos entre os 18 e os 34 anos ainda vivem na casa dos
pais (uma enormidade em termos europeus). São os chamados “mammone” – uma palavra que expressa a ligação umbilical dos filhos adultos às respectivas mães.
E esses meninos da mamãe se parecem com meu amigo.
Mas com uma diferença: no caso dos italianos, a trilogia cama-mesa-roupa lavada não basta. É preciso acrescentar também
uma mesada.
Felizmente, os pais italianos começam a reagir contra
os abusos da descendência. E todos os anos há milhares
– repito: milhares – de processos em tribunal com os pais a
implorar ao juiz para que o filho seja expulso de casa.
Nem sempre conseguem. Relata o Daily Telegraph
que, em Modena (uma simpática cidade da região italiana
de Emília-Romanha), um pai foi judicialmente obrigado pelo
filho a continuar a sustentar os seus “estudos”. O filho tem
28 anos. E só em Modena há 8000 processos anuais de
filhos contra pais por motivos de mesadas.
(Folha de S. Paulo, 03.05.2016. Adaptado)
O trecho reescrito com base nas ideias do quarto parágrafo mantém o sentido original em: