SóProvas


ID
3263458
Banca
Ápice Consultoria
Órgão
Prefeitura de Riacho dos Cavalos - PB
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A MENTIROSA LIBERDADE
Lya Luft
      Comecei a escrever um novo livro, sobre os mitos e mentiras que nossa cultura expõe em pratel
eiras enfeitadas, para que a gente enfie esse material na cabeça e, pior, na alma – como se fosse algodão-doce colorido. Com ele chegam os medos que tudo isso nos inspira: medo de não estar bem enquadrados, medo de não ser valorizados pela turma, medo de não ser suficientemente ricos, magros, musculosos, de não participar da melhor balada, do clube mais chique, de não ter feito a viagem certa nem possuir a tecnologia de ponta no celular. Medo de não ser livres.
      Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades. Nunca se falou tanto em liberdade, e poucas vezes fomos tão pressionados por exigências absurdas, que constituem o que chamo a síndrome do “ter de”. Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não conseguimos escolher com calma. Medicados como somos (a pressão, a gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão e a euforia, a solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes, porque nossa libido, quimicamente cerceada, falha, e a alegria, de tanta tensão, nos escapa.
       Preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho: alguém por aí é mais eficiente, moderno, valorizado e belo que eu? Alguém mora num condomínio melhor que o meu? Em fileira ao longo das paredes temos de parecer todos iguais nessa dança de enganos. Sobretudo, sempre jovens. Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão boa qualidade, mas no atual endeusamento da juventude, como se só jovens merecessem amor, vitórias e sucesso, carregamos mais um ônus pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15 anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade. A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a quereria para sempre: talvez nela sejamos mais bonitos, quem sabe mais cheios de planos e possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos optar com a mínima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir – ou nos falta o que vem depois: maturidade?
         Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo cobrados: O que você vai ser? O que vai estudar? Como? Fracassou em mais um vestibular? Já transou? Nunca transou? Treze anos e ainda não ficou? E ainda não bebeu? Nem experimentou uma maconhazinha sequer? E um Viagra para melhorar ainda mais? Ainda aguenta os chatos dos pais? Saiba que eles o controlam sob o pretexto de que o amam. Sai dessa! Já precisa trabalhar? Que chatice! E depois: Quarenta anos ganhando tão pouco e trabalhando tanto? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele resort?             Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar. Nadar contra toda essa louca correnteza. Ter opiniões próprias, amadurecer, ajuda. Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo desinteressantes, como roupas ridículas e viagens sem graça, isso ajuda. Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma linda mulher nem um homem poderoso. É possível estar contente e ter projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, físico perfeito e grande fortuna. Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada, em crise. Liberdade não vem de correr atrás de “deveres” impostos de fora, mas de construir a nossa existência, para a qual, com todo esse esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo. Não temos de correr angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras,
ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.modelos que nada têm a ver conosco, máscaras, ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.

Disponível em: <https://www.contioutra.com/a-mentirosa
liberdade-lya-luft/>. Acesso: 22 de outubro de 2019.

No trecho “Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, (...)” da crônica em questão, percebe-se que o termo destacado introduz uma oração:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? ?Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, (...)?

    ? Faltou destacar o termo, inclusive no arquivo da prova também não está destacado, conseguimos acertar devido à lógica, mas é motivo de anulação de questão.

    ? Conjunção coordenativa adversativa "mas" dando início a uma oração coordenada adversativa.

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  • Gabarito B

     “Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, (...)”

    ⇢ Temos uma coordenada sindética adversativa "mas" introduzindo uma oposição.

  • Assertiva B

    coordenada sindética adversativa;

    Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, (...)

  • GAB: B.

    "mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, (...)”

    Temos o "mas" que inicia a oração coordenada, portanto é SINDÉTICA e introduz uma OPOSIÇÃO.

  • Achei que precisaria, ao menos, do sujeito, verbo e complemento para ser coordenada.

  • Tio Patinhas,

    " ... mas somos conduzidos pela propaganda ... "

    sujeito oculto (nós);

    verbo (locução verbal indicativa da voz passiva);

    complemento (agente da passiva);

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

    Gabarito: B

  • 2- Adversativa: ideia de contraste, oposição. Principais conjunções usadas: mas, contudo, entretanto, porém...

    Ex.: O professor elaborou um exercício simples, mas a prova foi bastante complexa.

  • coordenada (porque não precisa de auxílio de outra pra fazer sentido) sindética (porque tem conjunção) adversativa (conjunção "mas")

  • Qual é o termo destacado?

  • O termo destacado deveria ser o "mas".

    Ao trocarmos por "no entanto" podemos confirmar o sentido adversativo da oração. É coordenada pois ela produz sentido independente da outra oração e, por fim, é sindética porque está sendo introduzida por uma conjunção ("mas").

    Gabarito: Letra B