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ID
3333244
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Conquista - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                 Paciência de Jó

                     Nesses tempos modernos, andamos muito impacientes.


      Durante os anos que passei fora do Brasil, comunicava-me por cartas. Toda noite, sentava na minha escrivaninha e colocava a correspondência em dia. Ia até altas horas respondendo uma a uma, aquelas cartas que chegavam em envelopes verde-amarelos.

      Depois de colocada no correio, uma carta levava de sete a dez dias pra chegar ao Brasil. Se a pessoa respondesse na hora, eram mais sete a dez dias pra chegar até Paris. E eu esperava, pacientemente.

      Todo dia, acordava de madrugada para ir trabalhar. Meu trabalho era preparar o café da manhã para um batalhão de estudantes num restaurante universitário. Quando voltava pra casa, a primeira coisa que fazia era bater os olhos na caixa de cartas que ficava na portaria do meu prédio. Ela tinha quatro furos na parte inferior e, de longe, já dava pra enxergar se haviam chegado envelopes verde-amarelos.

      Era um tempo em que não havia internet, não havia Skype, não havia WhatsApp, e-mail e um telefonema DDD custava os olhos da cara.

      Lembro-me bem que quando o meu primeiro filho nasceu, poucas horas depois dei a primeira clicada no seu rostinho com uma Pentax Trip 33. Levei o filme pra revelar numa loja que ficava na Rue Soufflot e esperei cinco dias úteis para que as fotos ficassem prontas.

      Fotografias na mão, coloquei dentro de um envelope pardo e despachei, pelo correio, pros meus pais, em Belo Horizonte. Quando eles abriram e viram o Julião pela primeira vez, o menino já tinha mais de vinte dias. Eles esperaram pacientemente a hora de ver a carinha do neto francês, uma grande novidade na família.

      O meu pai vivia dizendo que, para levar a vida, era preciso ter uma paciência de Jó. Um dia, fui lá na Bíblia da minha mãe saber quem era o tal Jó.

      Fiquei sabendo que, além de ser o mais paciente da turma, Jó tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de boi e quinhentas jumentas. Imagine que só pra contar essa bicharada, é preciso mesmo ter uma paciência de Jó.

      Ninguém tem mais paciência pra nada nesses tempos modernos. Se nos anos 70 eu esperava vinte dias a resposta de uma carta, hoje, se alguém não me responde um e-mail em segundos, já começo a perder a paciência.

      Aqui em casa, a nossa empregada coloca qualquer coisa 30 segundos no micro-ondas, e fica lá com a mão na porta, impaciente, contando nos dedos a hora de apitar.

      No elevador do meu prédio, os moradores apertam o botão, a luzinha acende mas, mesmo assim, eles voltam lá umas três vezes e apertam de novo, impacientes.

      Sem contar o carro de trás que sempre buzina assim que o sinal fica verde, o motorista que começa a acelerar quando percebe que já passaram os minutos e que o sinal já vai sair do vermelho e aquele que passa na sua frente e enfia o carro na vaga do shopping porque não tem paciência de ficar procurando um lugar pra estacionar.

      Isso, sem contar que, no restaurante, quando alguém pede uma coca ao garçom e ele demora mais de um minuto, a gente sempre ouve um... “acho que ele esqueceu!”

      Sinto que muitas pessoas não têm mais paciência pra ler um texto com mais de cinco linhas. Se você chegou até aqui, considero uma vitória!

      Já percebeu que ninguém tem mais paciência de sentar-se na poltrona para ouvir música, pra procurar as três Marias no céu, pra plantar um grão de feijão no algodão e esperar ele crescer. Ninguém tem saco nem mesmo pra jogar paciência.

      Já se foi o tempo em que tínhamos paciência até para decorar latim. Quem não se lembra do famoso Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia mostra? Que, em bom português, quer dizer Até quando abusarás, Catilina, da nossa paciência?

                                                              (Alberto Villas. Carta Capital, 24 de abril de 2016.) 

O vocábulo “que” pode apresentar classificações e funções diversas na construção de frases. Dentre as ocorrências do “que”, assinale aquela cuja função sintática pode ser identificada como sujeito da oração.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? ?[...] aquelas cartas que chegavam em envelopes verde-amarelos.? (1º§)

    ? O quê chegavam? Aquelas cartas (=o pronome relativo "que" retoma o termo "aquelas cartas" e exerce a função sintática de sujeito).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • a) O verbo fazer está conjugado na 1ª pessoa do singular, portanto o sujeito é oculto - EU.

    b) Verbo haver no sentido de existir, nesse caso o sujeito é inexistente.

    c) O que retoma a expressão "aquelas cartas" e funciona como sujeito da oração. Quem chegavam? -> aquelas cartas, portanto alternativa correta.

    d) O que retoma a expressão "durante os anos" a qual é uma locução adverbial, e possui função sintática de adjunto adverbial de tempo.

  • Assertiva c

    [...] aquelas cartas que chegavam em envelopes verde-amarelos.” (1º§)

  • A[...] a primeira coisa /que fazia era bater os olhos na caixa [...]” (3º§)

    Pronome relativo, retoma "a primeira coisa". Ele fazia a primeira coisa (OBJETO DIRETO)

    BEra um tempo /em que não havia internet, não havia Skype [...]” (4º§)

    PR, retoma "um tempo". (Adjunto Adverbial)

    GABARITO: C[...] aquelas cartas /que chegavam em envelopes verde-amarelos.” (1º§)

    PR, retoma "aquelas cartas". O que/quem chegavam? Aquelas cartas (SUJEITO)

    DDurante os anos /que passei fora do Brasil, comunicava-me por cartas.” (1º§)

    PR, retoma "os anos". Passei anos fora do Brasil (OBJETO DIRETO)

    Resolução: Prof. Claiton Natal - GC

  • Viu-se uma flor que encerrava sua vida. 

    Viu-se o que? Uma flor = sujeito.

    Quem encerrava sua vida? Uma flor, mas o sujeito sintático dessa segunda oração é o pronome relativo "que" que ao mesmo tempo exerce função semântica de retornar o sentido da expressão anterior que nesse caso é "uma flor"