- ID
- 3339538
- Banca
- IDECAN
- Órgão
- Câmara de Coronel Fabriciano - MG
- Ano
- 2017
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
A Terra e o homem unidos pelo bem e pelo mal, pela saúde e pela doença
De uma ou de outra forma, todos nos sentimos doentes física, psíquica e espiritualmente. O sofrimento, o
desamparo, a tristeza e a decepção afetam grande parte da humanidade. Já o dissemos: da recessão econômica passamos
à depressão psicológica. A causa principal deriva da intrínseca relação existente entre o ser humano e a Terra viva. Entre
ambos vigora um envolvimento recíproco.
Nossa presença na Terra é agressiva, movemos uma guerra total a Gaia, atacando-a em todas as frentes. A
consequência é que a Terra fica doente. Ela o mostra pela febre do aquecimento global, que não é uma doença, mas
aponta para uma doença: a incapacidade de continuar a nos oferecer tudo que precisamos. No dia 2 de setembro de
2017, ocorreu a sobrecarga da Terra; vale dizer, as reservas do planeta chegaram ao fundo do poço. Entramos no
vermelho. Para termos o necessário e, pior, para mantermos o consumo suntuário e o desperdício dos países ricos,
devemos arrancar à força os bens naturais. Até quando a Terra aguenta? Teremos menos água, menos nutrientes, menos
safras e demais itens indispensáveis à vida.
Nós que, consoante à nova cosmologia, formamos uma grande unidade, uma entidade única com a Terra,
participamos da doença dela. Pela agressão aos ecossistemas e pelo consumismo, pela falta de cuidado com a vida e com
a biodiversidade, adoecemos a Terra.
Isaac Asimov escreveu um artigo, em 1982, por ocasião da celebração dos 25 anos do lançamento do Sputnik, que
inaugurou a era espacial. O primeiro legado, disse ele, é a percepção de que, na perspectiva das naves espaciais, a Terra
e a humanidade formam uma única entidade, vale dizer, um único ser, complexo, diverso, contraditório e dinâmico,
chamado pelo cientista James Lovelock de “Gaia”. Somos aquela porção da Terra que sente, pensa, ama e cuida.
O segundo legado é a irrupção da consciência planetária: Terra e humanidade possuem um destino comum. O que
se passa num se passa também no outro. Adoece a Terra, adoece o ser humano; adoece o ser humano, adoece também
a Terra. Estamos unidos pelo bem e pelo mal.
Segundo Ilya Prigogine, prêmio Nobel de Química, a Terra viva desenvolveu estruturas que dissipam a entropia
(perda de energia). Elas metabolizam a desordem e o caos do meio ambiente, de sorte que surgem novas ordens e
estruturas, produzindo sintropia (acumulação de energia).
O que é desordem para um serve de ordem para outro. É por meio de um equilíbrio precário entre ordem e desordem
que a vida se mantém. A desordem obriga a criar novas formas de ordem, mais altas e complexas, com menos dissipação
de energia. A partir dessa lógica, o universo caminha para formas cada vez mais complexas de vida e, assim, para uma
redução da entropia (desgaste de energia).
Em nível humano e espiritual, se originam formas de relação e de vida nas quais predomina a sintropia (economia de
energia) sobre a entropia (desgaste de energia). A solidariedade, o amor, o pensamento e a comunicação são energias
fortíssimas, com escasso nível de entropia e alto nível de sintropia. Nessa perspectiva, temos pela frente não a morte
térmica, mas a transfiguração do processo cosmogênico se revelando em ordens supremamente ordenadas, criativas e
vitais.
Quanto mais nossas relações para com a natureza forem amigáveis e cooperativas, mais a Terra se vitaliza. A Terra
saudável nos faz também saudáveis.
(BOFF, Leonardo. http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/leonardo-boff/a-terra-e-o-homem-unidos-pelo-bem-e-pelo-mal-pela-sa%C3%
BAde-e-pela-doen%C3%A7a-1.1538421. Acesso em: 06/11/2017.)
Quanto à função que o trecho sublinhado exerce no período, assinale a alternativa correta.