SóProvas


ID
3344827
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Leopoldina - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Paciência de Jó

Nesses tempos modernos, andamos muito impacientes.

    Durante os anos que passei fora do Brasil, comunicava-me por cartas. Toda noite, sentava na minha escrivaninha e colocava a correspondência em dia. Ia até altas horas respondendo uma a uma, aquelas cartas que chegavam em envelopes verde-amarelos.

     Depois de colocada no correio, uma carta levava de sete a dez dias pra chegar ao Brasil. Se a pessoa respondesse na hora, eram mais sete a dez dias pra chegar até Paris. E eu esperava, pacientemente.

     Todo dia, acordava de madrugada para ir trabalhar. Meu trabalho era preparar o café da manhã para um batalhão de estudantes num restaurante universitário. Quando voltava pra casa, a primeira coisa que fazia era bater os olhos na caixa de cartas que ficava na portaria do meu prédio. Ela tinha quatro furos na parte inferior e, de longe, já dava pra enxergar se haviam chegado envelopes verde-amarelos.

      Era um tempo em que não havia internet, não havia Skype, não havia WhatsApp, e-mail e um telefonema DDD custava os olhos da cara.

       Lembro-me bem que quando o meu primeiro filho nasceu, poucas horas depois dei a primeira clicada no seu rostinho com uma Pentax Trip 33. Levei o filme pra revelar numa loja que ficava na Rue Soufflot e esperei cinco dias úteis para que as fotos ficassem prontas.

      Fotografias na mão, coloquei dentro de um envelope pardo e despachei, pelo correio, pros meus pais, em Belo Horizonte. Quando eles abriram e viram o Julião pela primeira vez, o menino já tinha mais de vinte dias. Eles esperaram pacientemente a hora de ver a carinha do neto francês, uma grande novidade na família.

       O meu pai vivia dizendo que, para levar a vida, era preciso ter uma paciência de Jó. Um dia, fui lá na Bíblia da minha mãe saber quem era o tal Jó.

       Fiquei sabendo que, além de ser o mais paciente da turma, Jó tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de boi e quinhentas jumentas. Imagine que só pra contar essa bicharada, é preciso mesmo ter uma paciência de Jó.

       Ninguém tem mais paciência pra nada nesses tempos modernos. Se nos anos 70 eu esperava vinte dias a resposta de uma carta, hoje, se alguém não me responde um e-mail em segundos, já começo a perder a paciência.

       Aqui em casa, a nossa empregada coloca qualquer coisa 30 segundos no micro-ondas, e fica lá com a mão na porta, impaciente, contando nos dedos a hora de apitar. No elevador do meu prédio, os moradores apertam o botão, a luzinha acende mas, mesmo assim, eles voltam lá umas três vezes e apertam de novo, impacientes.

      Sem contar o carro de trás que sempre buzina assim que o sinal fica verde, o motorista que começa a acelerar quando percebe que já passaram os minutos e que o sinal já vai sair do vermelho e aquele que passa na sua frente e enfia o carro na vaga do shopping porque não tem paciência de ficar procurando um lugar pra estacionar.

        Isso, sem contar que, no restaurante, quando alguém pede uma coca ao garçom e ele demora mais de um minuto, a gente sempre ouve um... “acho que ele esqueceu!”

       Sinto que muitas pessoas não têm mais paciência pra ler um texto com mais de cinco linhas. Se você chegou até aqui, considero uma vitória!

        Já percebeu que ninguém tem mais paciência de sentar-se na poltrona para ouvir música, pra procurar as três Marias no céu, pra plantar um grão de feijão no algodão e esperar ele crescer. Ninguém tem saco nem mesmo pra jogar paciência.

       Já se foi o tempo em que tínhamos paciência até para decorar latim. Quem não se lembra do famoso Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia mostra? Que, em bom português, quer dizer Até quando abusarás, Catilina, da nossa paciência?

(Alberto Villas. Carta Capital, 24 de abril de 2016.)

Considerando o predomínio do uso da norma padrão da língua no texto, considere os comentários referentes ao 1º§ do texto “Durante os anos que passei fora do Brasil, comunicava-me por cartas. Toda noite, sentava na minha escrivaninha e colocava a correspondência em dia. Ia até altas horas respondendo uma a uma, aquelas cartas que chegavam em envelopes verde-amarelos.” e assinale o verdadeiro.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? O adjetivo composto ?verde-amarelo? faz o plural com a mesma variação vista em ?castanho-escuro? e ?amarelo-esverdeado?.

     o primeiro adjetivo mantém-se invariável. Só o segundo varia em gênero e número:

    calção verde-amarelo/castanho-escuro/amarelo-esverdeado;

    calções verde-amarelos/castanho-escuros/amarelo-esverdeados;

    blusa verde-amarela/castanho-escura/amarelo-esverdeada;

    ? blusas verde-amarelas/castanho-escuras/amarelo-esverdeadas.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • analisando as outras , rapaz!

    "Durante os anos que passei fora do Brasil, comunicava-me por cartas. Toda noite, sentava na minha escrivaninha e colocava a correspondência em dia. Ia até altas horas respondendo uma a uma, aquelas cartas que chegavam em envelopes verde-amarelos.” e assinale o verdadeiro."

    A)

    Perceba o seguinte...

    ☛o que chegavam? aquelas cartas..

    o "que" retoma = aquelas cartas ...o nosso "que" está exercendo a função de sujeito...retomando aquelas cartas, logo fica incorreta a substituição pela forma verbal "chegava" Não esqueça que o "que" quando pronome relativo sempre retorna a um termo anterior e também é analisado do ponto de vista sintatico.

    C) O que retoma = Durante os anos .. perceba que este termo exerce função sintática de adjunto adverbial , logo o"que" exerce a função de "adjunto adverbial".

    Na lógica pergunte ao verbo:

    -Quem passou?

    (eu) passei

    D)Na verdade, aqui acontece aquilo que chamamos de presente histórico ou narrativo leia-se; dá vivacidade a fatos ocorridos no passado..ele é mais identificado em fábulas, narrativas..

    ex: em 1881, Machado de Assis escreve .... Não há incorreção gramatical!

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • Regra dos Compostos

    A regra geral é: varia-se apenas o ultimo elemento do adjetivo composto, concordando com o termo de valor substantivo ao qual se refere, em gênero e número

    Exemplo: As intervenções medico-cirúrgicas foram um sucesso!

    Se algum elemento do adjetivo composto for um substantivo, todo adjetivo composto fica invariável

    Exemplo: Eram blusas verde-garrafa que ele queria

    Fonte: Gramatica para concursos públicos Fernando Pestana, 3 ed

  • Analisemos letra a letra:

    Letra A - ERRADA - É necessário o emprego da forma plural para que haja concordância com o antecedente "aquelas cartas", que é retomado pelo relativo QUE.

    Letra B - CERTA - Exato! Trata-se de adjetivos compostos formados por dois adjetivos. Nesse caso, flexiona-se apenas o segundo adjetivo: "verde-amarelos", "castanho-escuros" e "amarelo-esverdeados".

    Letra C - ERRADA - O sujeito de "passei" está oculto. Trata-se da 1a pessoa do singular EU.

    Letra D - ERRADA - A forma "passei", flexionada no pretérito perfeito, faz menção a um evento concluído no passado. Não gera, assim, incoerência à construção textual.