“Viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por
uma saia, surgir de ombros e braços nus, para
dançar. A Lua destoldara-se nesse momento,
envolvendo-a na sua coma de prata, a cujo refulgir os
meneios da mestiça melhor se acentuavam, cheios
de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda
de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e
muito de mulher.
Ela saltou em meio da roda, com os braços na
cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a
cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como
numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado
luxurioso que a punha ofegante; já correndo de
barriga empinada; já recuando de braços estendidos,
a tremer toda, como se se fosse afundando num
prazer grosso que nem azeite, em que se não toma
pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se
voltasse à vida, soltava um gemido prolongado,
estalando os dedos no ar e vergando as pernas,
descendo, subindo, sem nunca parar com os quadris,
e em seguida sapateava, miúdo e cerrado,
freneticamente, erguendo e abaixando os braços,
que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca,
enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra,
tirilando.”
O cortiço, Aluísio de Azevedo.
Observe o trecho abaixo.
“Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já correndo de barriga empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo.”
Observa-se que esse primeiro período, pertencente ao segundo parágrafo do fragmento exposto, é bastante extenso.Qual é o efeito de sentido obtido pelo uso majoritário de vírgulas e pontos-e-vírgula?