SóProvas


ID
3399241
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Câmara de Cabo de Santo Agostinho - PE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                        Não o suficiente

                                                                                                               Carla Dias


      Sentado à mesa, cercado por tantos. Entende bem o que acontece ali, mas é experiente em enganar os próprios sentidos, mesmo não gostando dessa qualidade da qual não consegue se livrar. Vale-se dela sempre que a oportunidade se apresenta. É um talento. Um incômodo talento.

      Permanece ali, os braços cruzados, a cabeça levemente inclinada, como se observasse o cenário que se estende além.

      Já conhece as manifestações que se alardeiam, durante esses encontros sociais. Na verdade, compôs uma canção, certa vez, com uma inquietante letra gerada de combinações de algumas delas: não cabe aqui, não serve para isso, não orna com aquilo, não é sua culpa, mas não vai dar certo.

      É bom, só que não o suficiente.

      Não ser o suficiente é meio que o slogan da vida dele, alguém considerado nada suficiente, até mesmo quando transborda. Acostumou-se a ser visto dessa forma.

      A tal canção tomou conta dele. É capaz de cantá-la de trás para frente, formar novos versos, bagunçar as palavras e, ainda assim, elas continuam ridiculamente cruéis. A melodia, não... Nela ele se recusa a mexer. Ela é a única beleza que reina plena nesse baile da saudade que acontece em seu dentro. Há ternura nessa afiada melodia, ela que é a única cria da qual ele não sente vergonha de ter trazido ao mundo.

      Apegou-se a uma frase que escutou um alguém verbalizar, enquanto passava por ele, depois de um dia de inutilidades profissionais. “Equilibrar-se é saber se desequilibrar com elegância.” Achou aquilo de uma sabedoria profunda e profana. De uma dualidade revigorante, porque se considera equilibrado com a boca cheia de palavras engolidas, de mágoas salientes, de lamentos reverberantes. Daqueles que bufa, do nada, assustando a pessoa que dorme sentada ao lado, em alguma sala de espera da vida.

      A elegância do desequilíbrio é o que mantém à mesa. Ninguém ali se importa de fato com ele, ou deseja escutar o que ele tem a dizer. Sabem seu nome, porque saber o nome oferece pompa, na hora de chamar o insignificante para o campo, e que ele batalhe pelos que significam. É como se chamassem um animal de estimação. Ele atende, rasteja-se, servil, até eles. Atende aos desejos desses sujeitos que acham que a própria dignidade mora na indignidade do outro.

      Os nada suficientes.

      Estranhamente, essas pessoas significam para ele. Há algo de aprendizado nessa labuta de dissonantes inseguranças travestidas de hierarquia. Estranhamente, ele se alimenta da espera pelo dia em que, rebelde como jamais antes, ele se levantará e partirá dali, deles. Sumirá das vistas, das teias, das inseguranças desses significantes que não sabem significar sem desidentificar o outro.

      Equilibrar-se ao desequilibrar-se com elegância, para ele, é combater, na singeleza do insignificante, uma diplomacia mimada, das que atendem a todos os clichês abrandadores de mal-estar. Então, quando dão a vez a ele, permitem ao insuficiente se manifestar, ele sorri e se cala, enquanto rumina a ciência de que, sim, ele sabe que não é o suficiente, ao menos não para atender ao catálogo dos desejos impróprios. Porque acha de uma impropriedade sibilante ter de atender aos desejos alheios, enquanto sufoca os próprios. 

      Ele sorri a certeza de que acontecerá o dia em que ele os reconhecerá, os desejos que vem diluindo em vulgares ironias, recebidas assim, embrulhadas em pequenas doses de falseada gentileza. O dia em que os libertará de uma polidez adquirida como proteção e os soltará no mundo, rebeldes e eletrizantes. Livres. 

      E isso será o suficiente. Ele será o suficientemente corajoso para se despedir de seus apaixonantes flagelos. Desequilibradamente equilibrado, dará a vez a si.

Disponível em:<http://www.cronicadodia.com.br/2019/08/nao-o-suficiente-carla-dias.html> . Acesso em: 16 nov. 2019.

Sobre as funções morfológicas das palavras, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • artur como chegou nesse nivel velho ?

  • Assertiva D

    Em “Desequilibradamente equilibrado, dará a vez a si.”, o termo destacado é um advérbio que indica modo.

    advérbio

  • Bizu:

    Na maioria dos casos, para concurso, palavras com terminações "-mente" são advérbios aplicáveis às circunstâncias em que expressam modo. Fiquem ligados!!

    Bons estudos!

  • O Arthur comenta quase todas as questões de português da AOCP, o cara é muito bom! Parabéns!

  • arthur é professor galera!!

  • Parabéns Arthur!!!

  • Ivan. Não é uma questão de confiar ou não. Também já vi outros erros em análises do Arthur, o que é normal, todos estamos aqui para aprender. Não sou advogado do Arthur, mas reconheço a boa vontade dele e o esforço que faz para aprender assim como todos nós. Além disso posso dizer que os erros são a exceção nos comentários dele e não devem ser condenados, pois não são propositais, devem ser apontados e nada mais. E outra coisa, não há nenhum problema em tentar CONQUISTAR um status, qualquer que seja ele. Se ele presta um serviço, pois analisar alternativa por alternativa demanda tempo, com o objetivo de ganhar respeito, isso não deveria incomodar, uma vez que não diz respeito a você ou a ninguém somente a ele. Eu queria que tivesse um Arthur em todas matérias. É ótimo encontrar uma análise das alternativas em todas as questões. Serve para comparar com a nossa própria. Serve pra gerar debates saudáveis. Serve para ter um norte quando estamos totalmente perdidos. O que nos diz respeito é saber se o amigo fez a análise com erro de modo que prejudique um terceiro desavisado. Então parabéns ao Ivan por ter corrigido a análise da alternativa A. E peço ao Arthur que continue, pois já me ajudou algumas vezes aqui. Peço também que se retrate quando for corrigido, se entender que de fato errou em sua análise. Comentem mesmo galera. Não tenham medo. Isso ajudará no seu próprio aprendizado. É uma maneira de ao mesmo tempo ajudar a si e aos outros. Seja humilde quando errar, ninguém é o dono da verdade.

  • David Wisenteiner, Discordo da sua análise referente ao Arthur. Digo por experiência própria, certa vez questionei uma resposta dele aqui e recebi um BLOCK de resposta (por conta da seguinte questão, na qual ele justificou o gabarito afirmando categoricamente que U é uma vogal aberta: https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/83b7662e-5e). Ele não conversa com ninguém aqui e não analisa os problemas, só justifica os gabaritos dados pelas bancas, caçando likes. É claro que ele acerta às vezes, até porque dá palpite em tudo: seria impossível não acertar nenhum. Além disso, haver um "Arthur" em todas as matérias só os exporia ao ridículo total (imagine ele comentando as questões difíceis de matemática do mesmo jeito que comenta as de gramática, sem provar nada).

    É ótimo encontrar análises nas questões sim, mas não no modo Arthur. Veja as do ivan lucas, ele se justifica à medida que o problema exige (às vezes errado, mas mesmo assim com razões).

  • cadê a palavra destacada? várias questões sem a palavra destacada
  • To com Arthur!

  • Realmente, não concordo que meio seja advérbio de modo. Mais venho percebendo um certo incômodo de alguns com o Arthur, gente façam a análise de vocês de acordo com o conhecimento de vocês, não precisa ficar apontando o dedo pra ninguém, creio que aqui todos querem ser parceiros e não concorrentes.

  • Arthur você ajuda demais, eu já procuro logo seu comentário em todas questões...rsrsrsrsrs. Continue assim!!!

  • Isso mesmo o comentário do colega Ivan Lucas está CORRETO e do ARTHUR ESTÁ ERRADO

    Advérbios de Intensidade: assaz, bastante, demais, mais, MEIO, todo, menos, nada, muito, tão, tanto, quanto, quase, quão, quase, algo, pouco, sobremodo, sobremaneira, que, como....

    Fonte: A gramatica para concursos públicos, Fernando Pestana, 3 edição, pag 471

  • Na alternativa c o "para" é preposição?

  • depende da banca que cobra, se fosse outra banca poderia cobrar de outro jeito, para mim o arthur está certo com suas palavras...

  • Galera na minha humilde opinião, analisando o contexto “Não ser o suficiente é meio que o slogan da vida dele [...]” junto ao texto, concordo com o Arthur quando afirma que meio é um advérbio de modo, porque não ser suficiente é o modo de vida dele, por isso, virou um slogan da vida dele, por não ser suficiente, não se achar suficiente é o modo de vida que ele leva, é o seu modo de vida.

  • Ivan Lucas tem toda Razão

  • A resposta mais esclarecedora a qual já li!

  • (D) modo algum....kkkkkkk

  • EU AMO TODOS QUE COMENTAM! S2

    RUMO À NOMEAÇÃO!

  • Discordo do Ivan Lucas, se fosse realmente um advérbio de intensidade seria possível substituí-lo outro advérbio de intensidade (muito, bastante, etc.), se tentarem, infelizmente, irão perceber que não faz sentido. Portanto, percebe-se que é um advérbio de modo pelo contexto, de como é a vida dele, o seu modo de vida por assim dizer. Enquanto que dá completamente para substituí-lo por um advérbio de modo: assim, certamente, provavelmente).

  • Entendo que o erro da A é que meio está associado ao verbo SER ( " ...É MEIO QUE SLOGAN ...) . SENDO ASSIM, É UMA CARACTERISTICA , pois SER é verbo de ligação, portanto , é um adjetivo.

  • Entendo que o erro da A é que meio está associado ao verbo SER ( " ...É MEIO QUE SLOGAN ...) . SENDO ASSIM, É UMA CARACTERISTICA , pois SER é verbo de ligação, portanto , é um adjetivo.

  • Meio tá mais para palavra denotativa que para advérbio Ivan.kkkkkk

    Ele está modificando quem? O "que'?? kkk

  • Complicado, temos um adverbio de intensidade (meio), mas temos em outra (mente). escolha "mente" e esqueça o recurso.

  • R: LETRA D.

  • Só vim pelos comentários e espero que continuem assim ♥

  • GAB. D

    Sobre a A

    A meu ver a palavra 'meio' do texto não é nem advérbio de intensidade e muito menos numeral.

    Acredito que está usada no sentido figurado, conativo, gíria...

    Vejamos:

    “Não ser o suficiente é meio que o slogan da vida dele...

    “Não ser o suficiente é TIPO o slogan da vida dele...

  • De uma coisa eu tenho certeza dominar só uma máteria não se passa em concurso!

  • SAUDADES DO PROFESSOR = ALEXANDRE SOARES COM SUAS VÍDEO AULAS, SIMPLES E OBJETIVA. PÃO, PÃO, QUEIJO, QUEIJO...

  • Excelente análise GRAMATICAL, Ivan. Mas reveja quanto ao seu discurso, parece-me totalmente arrogante as suas referências ao nosso colega Arthur. Caso tenha se incomodado, faça melhor que ele, ou seja, comente tanto quanto e acerte tanto quanto ele. Abraços.

  • Esse artur só quer likes

  • Apenas o advérbio "meio" foi grifado pela banca, não a expressa toda "meio que".

    Penso que "meio" poderia ser substituído por "quase". Conseguem enxergar a gradação de intensidade desses advérbios?

    "Não ser o suficiente é quase que o slogan da vida dele".

    "Não ser o suficiente é meio que o slogan da vida dele"

    Também acho que a expressão "meio que" poderia ser substituída por "praticamente", outro advérbio.

    "Não ser o suficiente é praticamente o slogan da vida dele".

    Perdoem se eu estiver errada kkkk

  • GABARITO: D

    A) Em “Não ser o suficiente é meio que o slogan da vida dele [...]”, o termo em destaque é um advérbio que indica intensidade.

    "meio que" é da linguagem coloquial = tipo (ideia de comparação).

    B) Em “Apegou-se a uma frase que escutou um alguém verbalizar [...]”, o termo destacado é um preposição que indica gênero feminino.

    C) Em “É capaz de cantá-la de trás para frente [...]”, o termo em destaque é uma preposição, pois une as orações.

    D) Em “Desequilibradamente equilibrado, dará a vez a si.”, o termo destacado é um advérbio que indica modo.

  • NA DÚVIDA, SEMPRE marca a mais correta (a letra D não deixa dúvidas de que desequilibradamente é advérbio de modo).

    Mas pra quem ficou com dúvida na letra A:

    A palavra MEIO pode ser substantivo, numeral fracionário e advérbio.

    Exemplos:

    Não encontramos um meio eficaz de combater a criminalidade.

    (A palavra “meio” está determinada por artigo “um” e por adjetivo “eficaz”. Trata-se de SUBSTANTIVO.)

    Tomei meio (meia) copo (xícara) da bebida.

    (A palavra “meio” expressa a ideia de fração, correspondendo à metade. Trata-se de NUMERAL FRACIONÁRIO.)

    Estamos meio decepcionados(as) com você.

    (A palavra “meio” está modificando o adjetivo “decepcionado(as)”. Trata-se de ADVÉRBIO)

    CIRCUNSTÂNCIAS ADVERBIAIS (aqui está a resposta da questão - MEIO = advérbio de intensidade, aproveita e revisa as outras pois cai bastante)

    - Afirmação: sim, certamente, deveras, decerto, indubitavelmente, seguramente, com efeito, etc.

    - Negação: não, tampouco, sequer, nem, de modo algum, absolutamente, etc.

    - Dúvida: talvez, quiçá, porventura, possivelmente, por acaso, etc.

    - Intensidade: muito, pouco, demais, bastante, assaz, quão, sobremodo, demasiadamente, MEIO, tão, etc.

    - Modo: assim, bem, mal, tal, depressa, devagar, adrede (intencionalmente), debalde (em v.o), etc.

    -Tempo: hoje, amanhã, agora, amiúde (frequentemente), antes, depois, outrora (em tempo passado),

    entrementes (enquanto isso), doravante (de agora em diante), etc.

    - Lugar: aqui, lá, acolá, aí, abaixo, acima, afora, algures (e algum lugar), alhures (em outro lugar), nenhures

    (em nenhum lugar), defronte, longe, perto, etc.

    - Causa: Devido à chuva escassa, muitas plantas morreram.

    - Finalidade: Convidei meus amigos para um passeio.

    - Meio: Viajarei de ônibus.

    - Companhia: Fui ao museu com meus amigos.

    - Instrumento: Redações devem ser escritas a lápis.

    - Assunto: Falarei com ele sobre o ocorrido.

    - Concessão: Ele tira notas boas, apesar da preguiça.

    FONTE: Aulas de Português, Prof José Maria, Direção Concursos.

  • que bobagem isso tudo, o qc ta virando um fecebook.

  • GERALMENTE AS PALAVRAS TERMINADAS EM 'MENTES' SÃO ADVÉRBIOS QUE INDICA MODOS.

  • Para responder a esta questão, exige-se conhecimento em conectores. O candidato deve indicar a assertiva que classifica corretamente os conectivos destacados. Vejamos:

    a) Incorreta.

    Em “Não ser o suficiente é meio que o slogan da vida dele [...]”

    Não ser o suficiente é "mais ou menos que" o slogan...", de fato, o valor é de intensidade, pois foi possível trocar por "mais ou menos" , no entanto, o erro foi que não é um advérbio, mas sim uma locução adverbial de intensidade "meio que". A assertiva apenas grifou o "meio", quando deveria grifar o "meio que".

    b) Incorreta.

    Em “Apegou-se a uma frase que escutou um alguém verbalizar [...]”

    A vogal "a" é uma preposição exigida pelo verbo "apegar". Além disso, não pode ser artigo como afirma a alternativa, pois não há um artigo antes de outro artigo "uma".

    c) Incorreta.

    Em “É capaz de cantá-la de trás para frente [...]”

    Não há orações sendo ligadas, mas sim duas palavras, dessa forma, a funcionalidade do "para" é de preposição.

    d) Correta.

    Em “Desequilibradamente equilibrado, dará a vez a si.”

    Normalmente as palavras terminadas em "mente" são advérbios de modo. O advérbio em destaque está dando circunstância ao modo como estava equilibrado.

    Gabarito: D

  • pq a letra A está errada?

     A palavra meio, quando significa “mais ou menos”, é advérbio de intensidade. Os advérbios são palavras invariáveis (=não se flexionam em gênero e número): “A aluna ficou meio nervosa”; “Os clientes saíram meio satisfeitos”; “A atleta está meio cansada”; “Ela é meio poderosa”...

  • Mas adverbios que indicam modo nao precisam estar ao lado de verbos? Alguem me explica?