SóProvas


ID
3501751
Banca
FUMARC
Órgão
CRP - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

QUE TEMPOS, ESTES!

Lya Luft


      Em todas as épocas houve quem desse esta exclamação: que tempos!

      “A gente não entende mais nada” é outra. Mas as pessoas sempre querem saber tudo, entender tudo, com preguiça de usar a sua própria maravilhosa imaginação. Corremos com o tempo, ou contra ele, para outra vida, para novos horizontes, em círculo nos lugares e pessoas que amamos, finalmente para o nada ou para “um lugar melhor”, como se diz.

      Não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar o brilho dos afetos, o calor dos abraços.

      “De repente, eu tenho oitenta anos”, comentou com ar de surpresa minha mãe, antes que a enfermidade lhe roubasse a consciência de si e de nós. De repente, quem sabe, então, vão-se resolver nossas aflições civis de hoje, e as econômicas, e o sentimento de desamparo e confusão. E voltaremos a ser um país simpático, um pouco malandro, quem sabe, mas não criminoso, não corrupto, não destruidor do cotidiano digno ou possível de seus filhos.

      “Vivemos tempos estranhos” é frase repetida em todos os níveis. Tempos confusos, surpreendentes, cada dia uma chateação maior, uma confusão mais elaborada, uma perplexidade mais pungente. (Ainda bem que nos salvamos com novidades boas: os bebês que nascem, as crianças que começam a trotar naquele encantador jeito só delas, os amigos que recuperam a saúde, a família que se encontra, os amados distantes que se comunicam mais, o flamboyant delirando em vermelhos surreais na rua.) 

      Nós, os incautos pagadores de contas, contadores de trocados e trocadores de emprego (ou simplesmente sem ele), não sabemos bem o que fazer. “Tá tudo muito esquisito”, comentamos uns com os outros, alguns querendo ir embora, outros querendo aguentar até que tudo melhore, porque é a terra da gente, e muitos são, como esta que escreve, reis em sua zona de conforto.

      Todos imaginamos, procuramos, uma solução, que parece impossível ou distante.

      Mas que está ruim está, todas as providências hoje nos deixam duvidosos, e as festas andam sem o brilho de outros tempos, essa é a verdade. Onde estão as ruas iluminadas numa competição de beleza em tantos bairros da cidade no Natal, por exemplo? A gente pegava o carro para ver, de noite, toda aquela cintilação.

      Hoje mal saímos de casa na noite escura.

      Mas não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar outro brilho, nos tempos tormentosos: o brilho dos afetos, o calor dos abraços, a sinceridade na tolerância e o respeito pelas manias, esquisitices, aflições alheias – porque é tempo de aflições. Dá algum trabalho manter a ciranda emocional lubrificada e funcionando com certa mansidão, mas também traz um enorme conforto, apesar da unhada eventual da mágoa, da saudade ou da preocupação – que, diga-se de passagem, é a inefugível marca das mães.

      Complicado: se de um lado corre, de outro lado o rio parece se arrastar. Depende do ângulo pelo qual olhamos, do quanto sobra no bolso antes do fim do mês, depende do emprego seguro, da capacidade de alegria, depende de pessoas decentes, depende de recursos, para que a grande engrenagem enferrujada volte a funcionar, e o tempo seja de mais alegria e mais aconchego de uns com os outros.

O articulador sintático pode ser substituído ADEQUADAMENTE pela palavra ou expressão indicada entre parênteses em:

Alternativas
Comentários
  • ✅ Gabarito: D

    A) “Depende do ângulo pelo qual olhamos, do quanto sobra no bolso antes do fim do mês, depende do emprego seguro, da capacidade de alegria, depende de pessoas decentes, depende de recursos, para que a grande engrenagem enferrujada volte a funcionar [...]”. (ainda que) → INCORRETO. Temos uma locução conjuntiva subordinativa final. A proposta é que se substitua por uma conjunção subordinativa concessiva (=incorreto).

    B) “E voltaremos a ser um país simpático, um pouco malandro, quem sabe, mas não criminoso, não corrupto, não destruidor do cotidiano digno ou possível de seus filhos”. (Então) → INCORRETO. Temos uma conjunção coordenativa aditiva. A proposta é que se substitua por uma conjunção coordenativa conclusiva (=incorreto).

    C) “Mas as pessoas sempre querem saber tudo, entender tudo, com preguiça de usar a sua própria maravilhosa imaginação”. (Portanto) → INCORRETO. Temos uma conjunção coordenativa adversativa. A proposta é que se substitua por uma conjunção coordenativa conclusiva (=incorreto).

    D) “O jeito é multiplicar outro brilho, nos tempos tormentosos: o brilho dos afetos, o calor dos abraços, a sinceridade na tolerância e o respeito pelas manias, esquisitices, aflições alheias – porque é tempo de aflições”. (visto que) → CORRETO. Ambas são conjunções subordinativas causais. O FATO DE (CAUSA) ser tempo de aflições FAZ COM QUE (CONSEQUÊNCIA/EFEITO) o jeito seja multiplicar outro brilho...

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Acertei, mas ao meu ver trocar o E por ENTÃO dá para aceitar sim a troca, percebam que tem o mesmo sentido. Inclusive, na oração anterior há outro "então". Nem sempre em português pode-se pensar engessadamente.

  • Analisemos letra a letra.

    Letra A - ERRADA - No texto original, o conector "para que" tem valor semântico de finalidade. Já o conector "ainda que" expressa a ideia de concessão.

    Letra B - ERRADA - No texto original, o conector "e" tem valor semântico de adição. Já "então" expressa conclusão.

    Letra C - ERRADA - No texto original, o conector "mas" é adversativo. Já "portanto" é conclusivo.

    Letra D - CERTA - Por fim, na letra D, tanto "porque" como "visto que" expressam a ideia de causa.

  • de acordo com o topíssimo professor Fernando Pestana, nessa questão "a banca vaciolou". Sim, estou falando da alternativa "B". Isso porque, na prática, A AUTORA QUIS usar o " e " com sentido de CONCLUSÃO.

    Dentro do que a autora se propôs a dizer, como uma conjunção conclusiva que se encaixa perfeitamente à intenção da autora pôde ser tida como incorreta?? Repito a conclusão do professor: "a banca vacilou"

  • A) "para que"=conjunção subordinativa final | "ainda que"=conjunção subordinativa concessiva

    B) "e"=conjunção coordenativa aditiva | "então"=conjunção coordenativa conclusiva

    C)"mas"=conjunção coordenativa adversativa | "portanto"=conjunção coordenativa conclusiva

    D)"porque"(no contexto dessa questão)=conjunção coordenativa causal) | "visto que"=conjunção coordenativa causal

    a conjunção "porque" pode ter 3 sentidos:

    explicativo: ele está mentindo, porque não para de gaguejar!

    causal: fui ao mercado porque não tinha nada em casa! (é o caso da questão letra D)

    final: oro porque não haja uma catástrofe!

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  • Para responder esta questão, exige-se do candidato conhecimento na semântica dos conectivos. O candidato deve informar qual conector pode ser trocado corretamente pelo indicado entre parênteses. Vejamos:

    a) Incorreta.

    A oração  mudaria de subordinativa final para subordinativa de concessão.

    Para que⇾ locução conjuntiva de finalidade.

    Ainda que⇾ locução conjuntiva de concessão.

    b) Incorreta.

    A oração mudaria de coordenada aditiva para coordenada conclusiva.

    E⇾ conjunção de adição.

    Então⇾ conjunção de conclusão.

    c) Incorreta.

    A oração mudaria de coordenada adversativa para coordenada conclusiva.

    Mas⇾ conjunção de adversidade.

    Então⇾ conjunção de conclusão.

    d) Correta.

    A oração permaneceria causal, pois ambas as conjunções apresentadas são de causa.

    Visto que⇾ locução conjuntiva de causa.

    Porque⇾ conjunção de causa.

    Gabarito do monitor: D

  • A) "para que"=conjunção subordinativa final (Expressa finalidade)

    "ainda que"=conjunção subordinativa concessiva (Expressa concessão)

    B) "e"=conjunção coordenativa aditiva (Expressa soma)

    "então"=conjunção coordenativa conclusiva (Expressa conclusão)

    C)"mas"=conjunção coordenativa adversativa (Expressa oposição)

    "portanto"=conjunção coordenativa conclusiva (Expressa conclusão)

    D)"porque"=conjunção subordinativa causal (Expressa causa)

    "visto que"=conjunção subordinativa causal (Expressa causa)