SóProvas


ID
3718840
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Prefeitura de Betim - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Conto: uma morada

O sonho de uma velha senhora

Juremir Machado da Silva


Contava-se que ela havia passado a vida lutando contra homens, doenças e intempéries. Dizia-se que criara sozinha onze filhos e enfrentara oito tormentas de derrubar casas e deixar muita gente desesperada. Durante muito tempo, teve um apelido: a flagelada. Era alta, magérrima e de olhos muito negros, duas bolas escuras que pareciam cintilar à beira do abismo. Era uma mulher de fala forte, voz rouca, agravada pelo cigarro, não menos de trinta por dia, do palheiro ao sem filtro, o que viesse, qualquer coisa que lhe permitisse sair do ar.

– Meu silêncio diz tudo – era o máximo que concedia a algum vizinho.

Apesar do seu jeito esquisito, era amada por quase todos. Gostava-se da sua coragem, da sua franqueza, alguns até falavam de uma ternura escondida por trás dos gestos de fera indomável. Muitos nem sabiam mais o nome dela. Era chamada simplesmente de “a velha”. Contava-se que prometera a si mesma viver cem anos para debochar das agruras da vida. Servira durante décadas de parteira, de benzedeira e até de responsável pela ordem nas redondezas. Impunha respeito, resolvia litígios, dava bons conselhos, sentia pena das jovens apaixonadas. Com o passar do tempo, ficou mais impaciente e menos propensa a ouvir longas e repetitivas histórias.

      (...)

Destino – Não se contava, porém, quando havia perdido tudo. Ficara sem casa. Vivia na cidade num quarto emprestado por um velho conhecido. Quando se imaginava que estava esgotada, que só esperava o fim para se livrar dos tormentos, ela se revelou mais firme do que nunca. Queria viver. Mais do que isso, deu para dizer a quem quisesse ouvir que tinha um sonho.

– Um sonho?

– Sim, a Velha tem um sonho.

A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável. Com o que podia sonhar a velha? Contava-se que homens faziam apostas enquanto jogavam cartas ou discutiam futebol, mulheres especulavam sobre esse sonho, crianças se interessavam pelo assunto, todos queriam entender como podia aquela mulher árida ter um sonho, algo que a maioria, mais nova, já não tinha. Por alguns meses, pois ela fazia do seu novo silêncio um trunfo, foi cercada de atenção na busca obsessiva por uma resposta. Teriam até lhe oferecido dinheiro para revelar o seu sonho num programa de rádio.

Conta-se que numa tarde mormacenta de janeiro, com um temporal prestes a desabar, ela disse com a sua voz grave um pouco mais vibrante para quem pudesse ouvir (nunca se soube quem foi o primeiro saber):

– Quero voltar para casa.

Que casa era essa? A velha queria retornar ao lugar onde havia nascido, um lugar perdido na campanha onde vicejava solitário um cinamomo. Sonhava em ter uma casinha ali para viver os seus últimos anos. Desse ponto de observação, podia-se enxergar um enorme vazio. A comunidade, sempre tão dispersa, mobilizou-se como se, de repente, tudo fizesse sentido. O dono da terra aceitou que lhe erguessem um rancho no meio do nada para que ela fincasse suas raízes por alguns anos. Um mutirão foi organizado para erguer a morada. Até políticos contribuíram para a compra do modesto material – tábuas, pregos, latas – necessário à construção da residência. Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.

Um rancho de duas peças: quarto e cozinha. Uma latrina a dez passos do cinamomo. Caía a noite quando tudo ficou pronto. Os homens embarcaram na carroceria de um velho caminhão e partiram. Ela ficou só no lugar que escolhera para viver depois de tantas lutas encarniçadas com o destino. Sentia-se vitoriosa. A lua cheia banhou os campos naquela noite. Ela passeou até onde as velhas pernas lhe permitiram. Deitou-se no catre com colchão novo. Fez questão de manter a sua cama. Morreu ao amanhecer com o sol faiscando na cobertura de lata reluzindo de tão nova e duradoura.

Adaptado de:<https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/conto-uma-morada-1.392657>. Acesso em 26 jan. 2020.

Analise a colocação do pronome “se”, destacado no trecho “A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável.”, e assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: A

    ✓ “A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável.”

    ➥ Temos um sujeito explícito sem qualquer palavra atrativa do pronome oblíquo átono presente. Colocação pronominal facultativa. Pode ocorrer a próclise (=antes do verbo >>> a notícia se espalhou) OU a ênclise (=após o verbo >>> a notícia espalhou-se).

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • EM SE TRATANDO DE SUJEITO EXPLÍCITO, TEMOS UM CASO DE EUFONIA, ISTO É, O SOM MAIS AGRADÁVEL. ASSIM, PODE SER ÊNCLISE OU PRÓCLISE.

    TEMPO FUTURO - MESÓCLISE.

  • Não temos palavra atrativa e o verbo está no infinitivo, podendo ocorrer a próclise ou ênclise, sem prejuízo.

  • A posição do pronome oblíquo átono (me, te, se, lhe, vos, o[s], a[s], etc.) pode ser distintamente três: próclise (antes do verbo. p.ex. não se realiza trabalho voluntário), mesóclise (entre o radical e a desinência verbal, p.ex. realizar-se-á trabalho voluntário) e ênclise (após o verbo, p.ex. realiza-se trabalho voluntário). Vejamos o fragmento:

    “A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável.”

    O pronome em destaque acha-se em ênclise.

    a) O pronome “se” poderia ser utilizado em posição proclítica, “A notícia se espalhou como um acontecimento improvável”, e a frase ainda estaria correta.

    Correto. Não há impedimento algum para a posição proclítica;

    b) Se o verbo “espalhou” estivesse no futuro, “espalhará”, o pronome “se” deveria ser utilizado antes do verbo.

    Incorreto. O erro dessa alternativa se aloja na insinuação de que a próclise é a única opção. Em verdade, poderia haver mesóclise, visto que o verbo se acharia no futuro do presente (espalhará). Destarte, ambas estas frases respeitam o padrão normativo do idioma: "A notícia se espalhará" ou "A notícia espalhar-se-á";

    c) A utilização do pronome “se” após o verbo “espalhou” torna a frase informal.

    Incorreto. Foi disposto à frente do verbo por mera predileção pessoal de quem redigiu o texto. Isso não denota informalidade alguma;

    d) Caso o pronome “se” fosse utilizado antes do verbo “espalhou”, a frase não atenderia às normas gramaticais.

    Incorreto. Atenderia, sim, conforme expresso na alternativa A;

    e) O uso do pronome “se” após o verbo “espalhou” aproxima-se da fala comum do dia a dia, o que torna a frase inadequada.

    Incorreto. A bem da verdade, no Brasil, a ênclise é menos corrente do que a próclise.

    Letra A

  • uma dúvida: esse "se" seria uma particula integrante do verbo?

  • CASOS OBRIGATÓRIOS DE PRÓCLISE

    1. Partícula atrativa na frente do verbo.

    a) Pronome demonstrativo: Isto, isso, aquilo...

    b) Pronome indefinido: Tudo, nada, alguém...

    c) Pronome relativo: O qual, cujo, onde, que...

    d) Palavra negativa: não, nunca, jamais...

    e) Conjunção Subordinativa: que, se, quando...

    f) Advérbio ou locução adverbial: ali, hoje...

    2. EM+GERÚNDIO(-NDO):

    Verbo no gerúndio antecedido da preposição em.

    Ex.: Em se tratando de diversão, prefiro o Vôlei.

    3. Nas frases INTERROGATIVAS / EXCLAMATIVAS / OPTATIVAS.

    A senhora me chamou?

    A terra se abalou!

    Deus te ajude.

    Fonte: Apostila de Língua Portuguesa - Loja do concurseiro - Prof. Iara.

  • Assertiva A

    O pronome “se” poderia ser utilizado em posição proclítica, “A notícia se espalhou como um acontecimento improvável”, e a frase ainda estaria correta.

  • Cara, não curto enrolação para explicar a língua..

    I) quando não tivermos fator atrativo de próclise ( palavras negativas ....) O pronome pode vir proclítico ou enclítico .

    Maria se desesperou

    Maria desesperou-se

    Em relação ao item b) sendo verbo no futuro do presente ou pretérito = mesóclise.

    Deveria -se ter citado o caso . (Errado)

    Dever-se-ia ter citado o caso

    Bons estudos

  • Letra A

    Casos Facultativos (Assumir 02 posições): Próclise ou ênclise.

    Quando tem sujeito explícito. Aqui é o caso da questão.

    Verbos no infinitivo.

    Fonte: Professor Elias Santana, Gran Cursos. RESISTA!!

  • SIM, ROMANO.

    ( PARTÍCULA INTEGRANTE DO VERBO)

    ELA SE ESPALHOU.

    ELA QUEM? A NOTÍCIA.

    NÓS NOS ESPALHAMOS

    ELES SE ESPALHARAM

    ETC.

  • Desafio os senhores estudantes de concurso a achar, na Gramática do Bechara ou do Celso Cunha, a possibilidade de colocação pronominal facultativa em casos de sujeito explícito.

  • gabarito c

    A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável.

    Na verdade, não é que seja uma regra ela ser facultativa após sujeito, ocorre que não existe obrigatoriedade de por em mesóclise.

    E sempre que não ha necessidade de mesóclise, a próclise é preferida!

  • LETRA A - O pronome “se” poderia ser utilizado em posição proclítica, “A notícia se espalhou como um acontecimento improvável”, e a frase ainda estaria correta.

    LETRA B - Se o verbo “espalhou” estivesse no futuro, “espalhará”, o pronome “se” deveria ser utilizado antes do verbo.

    [Seria o caso de mesóclise ~> Espalhar-se-á]

    LETRA C - A utilização do pronome “se” após o verbo “espalhou” torna a frase informal.

    LETRA D - Caso o pronome “se” fosse utilizado antes do verbo “espalhou”, a frase não atenderia às normas gramaticais.

    LETRA E - O uso do pronome “se” após o verbo “espalhou” aproxima-se da fala comum do dia a dia, o que torna a frase inadequada.

  • CASO FACULTATIVO DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL!

  • Sem palavras negativas e sem pronomes para atrair a partícula "Se," pode se usar o "Se" tanto como ênclise ou como próclise. Obs: pós pontuação não se usa a partícula "Se", quando a partícula "Se" estiver no começo da oração, essa será condicional!

    Algum equívoco me corrigem aí...

  • “A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável.”

    O pronome em destaque acha-se em ênclise.

    a) O pronome “se” poderia ser utilizado em posição proclítica, “A notícia se espalhou como um acontecimento improvável”, e a frase ainda estaria correta.

    Correto. Não há impedimento algum para a posição proclítica;

    b) Se o verbo “espalhou” estivesse no futuro, “espalhará”, o pronome “se” deveria ser utilizado antes do verbo.

    Incorreto. O erro dessa alternativa se aloja na insinuação de que a próclise é a única opção. Em verdade, poderia haver mesóclise, visto que o verbo se acharia no futuro do presente (espalhará). Destarte, ambas estas frases respeitam o padrão normativo do idioma: "A notícia se espalhará" ou "A notícia espalhar-se-á";

    c) A utilização do pronome “se” após o verbo “espalhou” torna a frase informal.

    Incorreto. Foi disposto à frente do verbo por mera predileção pessoal de quem redigiu o texto. Isso não denota informalidade alguma;

    d) Caso o pronome “se” fosse utilizado antes do verbo “espalhou”, a frase não atenderia às normas gramaticais.

    Incorreto. Atenderia, sim, conforme expresso na alternativa A;

    e) O uso do pronome “se” após o verbo “espalhou” aproxima-se da fala comum do dia a dia, o que torna a frase inadequada.

    Incorreto. A bem da verdade, no Brasil, a ênclise é menos corrente do que a próclise.

    Letra A

    Monitor do Qconcursos - Sr. Shelking

  • Sujeito + Verbo ( sem a presença de palavras atrativas )

    ana ME emprestou este livro

    ana emprestou-me este livro

    #facultativo

  • GABARITO: A

    Casos Facultativos de Colocação Pronominal

    Há casos na colocação pronominal em que os pronomes oblíquos átonos (se, te, me, lhe, nos, vos, o, a) podem assumir tanto a posição de próclise quanto a posição de ênclise; isso ocorrerá em:

    1. Presença de Pronomes Retos: Os pronomes oblíquos poderão ficar antes do verbo ou posterior ao verbo.

    Eu o ajudei na festa.

    Eu ajudei-o na festa.

    2. Sujeito Claro na Frase: Sempre que o sujeito vier visível, aceita-se a posição de próclise ou de ênclise.

    Os alunos me falaram tudo.

    Os alunos falaram-me tudo.

    3. Presença dos Pronomes "lo, la": Quando na frase houver a preposição "para" mesmo seguida com o advérbio negativo, haverá duas posições.

    Fiz isso para o ajudar.

    Fiz isso para ajudá-lo.

    4. Conjunções Coordenadas

    Ela falou e me ajudou com tudo.

    Ela falou e ajudou-me com tudo.

    5. Locução Verbal com Atratividade: Mesmo que haja palavras atrativas, o pronome oblíquo poderá assumir duas posições: antes do primeiro verbo ou após o segundo verbo.

    Não vou falar-lhe nada.

    Não lhe vou falar nada.

    Fonte: https://www.portuguesplay.com.br/blog/casos-facultativos-de-colocacao-pronominal

  • Por acaso "espalhou" não está no passado? O que tornaria a ênclise proibida?

  • Sujeitos explícitos com núcleo substantivo, pronominal, numeral, ou oracional antes do verbo e sem palavra atrativa, a colocação pronominal torna-se facultativo.

  • Não tendo palavra atrativa, torna-se facultativo

    José me emprestou o lápis.

    José emprestou-me o lápis.

    #semmuitafrescura

  • O erro da letra B

    "Se o verbo “espalhou” estivesse no futuro, “espalhará”, o pronome “se” deveria ser utilizado antes do verbo."

    Não deveria, mas poderia ser utilizado antes do verbo, tendo em vista que poderia ser utilizado também no meio do verbo.

    Esse foi o erro que consegui encontrar,

  • Resposta mais rápida do dia. Se fosse na prova, já podia passar para a próxima sem precisar analisar as demais alternativas.

  • "como" não é palavra atrativa? Se for, não pode ser próclise pq ela atrai para ênclise

  • A REGRA AI ESTA POR CAUSA DO SUJEITO EXPLÍCITO NOTÍCIA, OU SEJA, ACEITA TANTO PRÓCLISE COMO ENCLISE.

  • O que não é proibido está certo.

  • No infinitivo com sujeito expresso tanto faz a próclise ou a enclise