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ID
3742057
Banca
FCC
Órgão
Prefeitura de São José do Rio Preto - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder à questão, considere a crônica abaixo. 


        Quando lhe disse que um vago conhecido nosso tinha morrido, vítima de tumor no cérebro, levou as mãos à cabeça:

        − Minha Santa Efigênia!

        Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência, mas logo ele fez sentir a causa de sua perturbação:

        − É o que eu tenho, não há dúvida nenhuma: esta dor de cabeça que não passa! Estou para morrer.

        Conheço-o desde menino, e sempre esteve para morrer. Não há doença que passe perto dele e não se detenha, para convencê-lo em iniludíveis sintomas de que está com os dias contados. Empresta dimensões de síndromes terríveis à mais ligeira manifestação de azia ou acidez estomacal:

        − Até parece que andei comendo fogo. Estou com pirofagia crônica. Esta cólica é que é o diabo, se eu fosse mulher ainda estava explicado. Histeria gástrica. Úlcera péptica, no duro.

        Certa ocasião, durante um mês seguido, tomou injeções diárias de penicilina, por sua conta e risco. A chamada dose cavalar.

        − Não adiantou nada − queixa-se ele. − Para mim o médico que me operou esqueceu alguma coisa dentro de minha barriga.

        Foi operado de apendicite quando ainda criança e até hoje se vangloria:

        − Menino, você precisava de ver o meu apêndice: parecia uma salsicha alemã.

        No que dependesse dele, já teria passado por todas as operações jamais registradas nos anais da cirurgia: “Só mesmo entrando na faca para ver o que há comigo”. Os médicos lhe asseguram que não há nada, ele sai maldizendo a medicina: “Não descobrem o que eu tenho, são uns charlatães, quem entende de mim sou eu”. O radiologista, seu amigo particular, já lhe proibiu a entrada no consultório: tirou-lhe radiografia até dos dedos do pé. E ele sempre se apalpando e fazendo caretas: “Meu fígado hoje está que nem uma esponja, encharcada de bílis. Minha vesícula está dura como um lápis, põe só a mão aqui”.

        − É lápis mesmo, aí no seu bolso.

        − Do lado de cá, sua besta. Não adianta, ninguém me leva a sério.

        [...]

     Ultimamente os amigos deram para conspirar, sentenciosos: o que ele precisa é casar. Arranjar uma mulherzinha dedicada, que cuidasse dele. “Casar, eu?” − e se abre numa gargalhada: “Vocês querem acabar de liquidar comigo?” Mas sua aversão ao casamento não pode ser tão forte assim, pois consta que de uns dias para cá está de namoro sério com uma jovem, recém-diplomada na Escola de Enfermagem Ana Néri.


(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012, p. 71-72) 

Expressão expletiva ou de realce: é uma expressão que não exerce função sintática.

(Adaptado de: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa, 2009) 

Constitui uma expressão expletiva a expressão sublinhada em: 

Alternativas
Comentários
  • GAB : C

    Esta cólica é que é o diabo, se eu fosse mulher ainda estava explicado (6º parágrafo), temos o é que como particula expletiva, podemos tira-lá do texto é o sentido continua o mesmo.

    Partícula expletiva: Uma partícula/expressão expletiva (ou de realce) tem o papel de realçar ou enfatizar um vocábulo ou um segmento da frase. Ela nunca exerce função sintática. Pode ser retirada da frase sem prejuízo sintático ou semântico.

    Exemplos:

    – O que QUE ela faz aqui? (O que ela faz aqui?)

    – Nós NOS ríamos ERA de nervoso. (Nós ríamos de nervoso.)

  • As expressões expletivas ou de realce não são classificadas como classe gramatical, são chamadas de palavras denotativas (ou denotadores ou focalizadores). Tais palavras ou expressões expletivas ou de realce servem para enfatizar, realçar a frase, elas podem ser eliminadas da frase sem prejuízo de sentido.

    Palavras denotativas são palavras de natureza essencialmente discursiva que introduzem no processo comunicativo certas noções à frase, tais como: inclusão, exclusão, restrição, designação, explicação, retificação, situação e realce. Não exercem função sintática.

    Alternativa (A) incorreta - A locução destacada “desde menino" exerce uma função sintática de adjunto adverbial de tempo, modificando a forma verbal “conheço".

    Alternativa (B) incorreta - Na locução destacada “tão distante", temos um adjetivo que exerce sintaticamente a função de adjunto adnominal por estar acompanhando e caracterizando o pronome substantivo indefinido “alguém" (alguém está distante), e esse adjetivo está sendo intensificado pelo adjunto adverbial “tão".

    Alternativa (C) correta - Trata-se de uma locução/expressão expletiva ou de realce, não tem ligação com nenhum termo na frase; por isso, não exerce função sintática, está apenas realçando uma informação, logo pode ser retirada da frase sem prejuízo textual.

    Alternativa (D) incorreta - A locução destacada “até hoje" exerce a função sintática de adjunto adverbial de tempo em relação ao verbo “vangloriar-se".

    Alternativa (E) incorreta - A locução destacada “de uns dias para cá" exerce a função sintática de adjunto adverbial de tempo, modificando a oração inteira.

    Gabarito da professora: Letra C.