- ID
- 3768337
- Banca
- INSTITUTO AOCP
- Órgão
- Prefeitura de Novo Hamburgo - RS
- Ano
- 2020
- Provas
-
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Advogado do CREAS/SUAS
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Analista de Desenvolvimento de Sistemas
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Arquiteto
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Audiodescritor Para Eventos Culturais
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Bibliotecário
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Contador
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Educador Social
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Engenheiro Agrônomo
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Engenheiro Civil
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Engenheiro Químico
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Odontólogo - Especialista em PNE
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Psicólogo
- INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura d
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Para Maria da Graça
Paulo Mendes Campos
Agora, que chegaste à idade avançada de 15
anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice
no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele
está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na
loucura, acabarás louca. Aprende, pois, logo de
saída para a grande vida, a ler este livro como um
simples manual do sentido evidente de todas as
coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu
modo, pois te dou apenas umas poucas chaves
entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode
responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz
à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um
morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer
irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece
muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?"
Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada
história de gente. Quantas vezes mais decifrares
essa charada, tão entranhada em ti mesma como
os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual
seja a resposta; o importante é dar ou inventar
uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei
agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice
falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de
estar aqui sozinha!" O importante é que ela
conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do
poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os
grandes macacos e os cães amestrados)
conseguem abrir uma porta bem fechada ou viceversa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma
ação trivial, e temos a presunção petulante de
esperar dela grandes consequências. Quando
Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho,
ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o
que acontece, geralmente, às pessoas que
comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem
toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o
jeito é pedir desculpas sete vezes por dia, pois
viver é falar de corda em casa de enforcado. Por
isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se
gostas de gato, experimenta o ponto de vista do
rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias
de gato se fosses eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos
escritórios, nos negócios, na política, nacional e
internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na
literatura, até amigos, até irmãos, até marido e
mulher, até namorados, todos vivem apostando
corrida. São competições tão confusas, tão cheias
de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que
não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos
tão escondidos, que, quando os atletas chegam
exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A
corrida terminou! Mas quem ganhou?" É bobice,
Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente
não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a
algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante
de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre
onde quiseres, ganhaste. [...]
Adaptado de: https://contobrasileiro.com.br/tag/cronica-de-paulomendes-campos/ Acesso em: 04/02/2020.
Sobre a formação e a função da palavra
em destaque no trecho “A sozinhez
(esquece essa palavra que inventei agora
sem querer) é inevitável.”, informe se é
verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma
a seguir e assinale a alternativa com a
sequência correta.
( ) O sufixo -ez permite que seja nomeada
uma qualidade, a partir do adjetivo
“sozinho”, assim como ocorre em
“polidez”.
( ) A criação do vocábulo é inadequada,
visto que já existe o adjetivo “solidão”
para caracterizar pessoas solitárias.
( ) O sufixo -ez indica origem, significando
aquele que vem de um local solitário, tal
como ocorre em “francês”.