O texto a seguir é referência para a questão.
O sucesso de atletas de elite depende de muitos fatores. Estamos acostumados a acompanhar relatos diversos que descrevem
protocolos rígidos, geralmente, envolvendo treinamento árduo, alimentação controlada, descanso e, em alguns casos, a dopagem –
prática proibida que consiste na injeção de compostos, como a testosterona (hormônio anabolizante), para aumentar a massa muscular
dos atletas. Jamais imaginaríamos que um dos segredos do sucesso poderia ter origem no intestino dos atletas, mais especificamente,
num gênero de bactérias com o curioso nome de Veillonela atypica.
Pesquisadores norte-americanos descobriram que, durante – e logo após – o exercício vigoroso, ocorre o crescimento agudo de
populações de bactérias V. atypica nos intestinos de alguns maratonistas. A pergunta seguinte foi: qual é a relação desses
microrganismos com o desempenho dos atletas de elite? Essa pergunta foi respondida recentemente e se encontra no artigo do biólogo
molecular Jonathan Scheiman e colaboradores publicado na revista Nature Medicine em junho último.
Para explicar esse fenômeno, é preciso antes descrever rapidamente um pouco o que acontece no metabolismo. Um exercício
como a maratona implica a contração muscular repetitiva durante um período relativamente longo. Para que a contração ocorra, o
músculo usa a glicose como combustível. O metabolismo rápido da glicose se faz por intermédio de um processo chamado de glicólise
anaeróbica, que compreende uma série de reações químicas que acontecem na ausência de oxigênio. Essas reações geram adenosina
trifosfato (ATP), composto importante para a contração muscular.
Acontece que, juntamente com o ATP, a glicólise também produz o lactato ou ácido láctico. Quem já fez exercícios repetitivos sabe
que, ao final de certo tempo, o músculo sofre fadiga, o que produz uma sensação bem conhecida de queimação ou dor, e, nesse
momento, a pessoa deve parar o exercício. Quando isso acontece, o desconforto cessa e, após algum tempo, os músculos estão prontos
para continuar a contrair.
Quem provoca essa sensação é o lactato, que nada mais é do que um ácido. Ao se acumular, esse ácido acaba produzindo uma
acidez local, responsável por essa sensação de fadiga. Durante o descanso, o lactato sai do músculo e entra na corrente sanguínea e,
também, nos intestinos, de onde acaba sendo excretado ou, então, utilizado em outras vias metabólicas.
Para que haja recuperação da contração muscular, é importante que o lactato acumulado no músculo tenha sua concentração
diminuída. Mas, qual a relação do lactato com a V. atypica? Bem, os cientistas descobriram que essas bactérias consomem o lactato,
isto é, usam o lactato como nutriente. Assim, as bactérias contribuem para reduzir mais rapidamente a concentração do lactato nos
músculos e, dessa forma, apressar a recuperação muscular. Isso é, decididamente, uma vantagem para os atletas que têm a V. atypica
em seu intestino.
Os pesquisadores realizaram experimentos com camundongos para demonstrar esse efeito. Transplantaram as bactérias para os
roedores e os testaram em uma esteira adaptada para eles. Os animais que receberam as bactérias corriam durante bem mais tempo
que aqueles controles, que não as receberam.
Descobriu-se também que a V. Atypica, além de consumir o lactato, produz propionato – composto que é produto do metabolismo
do lactato. Já se mostrou em camundongos que o propionato aumenta os batimentos cardíacos e, também, o consumo máximo de
oxigênio (que é importante para gerar energia na fase aeróbica do exercício). Assim, estar contaminado com V. atypica é tudo de bom
– se você for um atleta, é claro.
(Disponível em: http://cienciahoje.org.br/artigo/de-onde-menos-se-espera/)
Na frase “Para que haja recuperação da contração muscular, é importante que o lactato acumulado no músculo tenha sua
concentração diminuída”, estabelece-se uma relação de: