Despedida
Rubem Braga
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se
despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez
fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma
separação como às vezes acontece em um baile de
carnaval – uma pessoa se perde da outra, procura-a
por um instante e depois adere a qualquer cordão. É
melhor para os amantes pensar que a última vez que
se encontraram se amaram muito – depois apenas
aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se
despediram, a vida é que os despediu, cada um para
seu lado – sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e
também uma lembrança boa; que não será proibido
confessar que às vezes se tem saudades; nem será
odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos
traz um inexplicável sentimento de alívio, e de
sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito
despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas
não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a
lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão;
mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa
que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no
fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros
verões; se eles vierem, nós os receberemos
obedientes como as cigarras e as paineiras – com
flores e cantos. O inverno – te lembras – nos
maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos
sacudidos de um lado para outro como dois bonecos
na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um
telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível
que não adiantasse nada. Para que explicações?
Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o
silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas
as coisas douradas e digamos apenas a pequena
palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de
cigarra perdido numa tarde de domingo.
Extraído de: BRAGA, Rubem. A Traição das Elegantes.
Editora Sabiá: Rio de Janeiro, 1967, p. 83.
Em português, os períodos compostos se dividem em
coordenados e subordinados. Esses dois tipos, por
sua vez, subdividem-se em diversos subtipos. Com
base nisso, relacione as orações grifadas abaixo à sua
classificação:
I. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais
triste.
II. Creio que será permitido guardar uma leve
tristeza.
III. E que houve grandes momentos perfeitos que
passaram.
IV. Lembremos apenas as coisas douradas e
digamos apenas a pequena palavra: adeus.
V. A pequena palavra que se alonga como um
canto de cigarra perdido numa tarde de
domingo.
a. Oração subordinada relativa.
b. Oração coordenada aditiva.
c. Oração subordinada substantiva objetiva
direta.
d. Oração subordinada condicional.