SóProvas


ID
3902560
Banca
FEPESE
Órgão
PLASSM
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto.

Pechada

O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de “Gaúcho”. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
— Aí, Gaúcho!
— Fala, Gaúcho!
Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?
— Mas o Gaúcho fala “tu”! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
— E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos. Os dois são português.
O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
Um dia, o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
— O pai atravessou a sinaleira e pechou.
— O quê?
— O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.
—– O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
— Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
— E o que é isso?
— Gaúcho… Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
—Nós vinha…
—Nós vínhamos.
—Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
“Sinaleira”, obviamente, era sinal, semáforo. “Auto” era automóvel, carro. Mas “pechar” o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que “pechar” vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido. Pechada.
— Aí, Pechada!
— Fala, Pechada!

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Pechada. Revista Nova Escola. São Paulo, maio 2001

Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ).

( ) As vírgulas em: “Fala, Gaúcho” e “Fala, Pechada” foram usadas pelo mesmo motivo: separar vocativo.
( ) Em “pechar se refere à bater” o uso da crase está correto.
( ) No texto, Jorge era o único a implicar com Rodrigo.
( ) Na frase “O pai atravessou a sinaleira”, a expressão sublinhada pode ser trocada por “colidiu com a sinaleira”.
( ) Está correto o uso da crase em: “Ela se referiu àquele garoto e parecia alheia às outras questões”.

Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.

Alternativas
Comentários
  •  Gabarito: C

    (V) As vírgulas em: “Fala, Gaúcho” e “Fala, Pechada” foram usadas pelo mesmo motivo: separar vocativo → CORRETO. Ambos termos são vocativos (servem de chamamento).
    (F) Em “pechar se refere à bater” o uso da crase está correto → INCORRETO. Não há crase antes de verbo.
    (F) No texto, Jorge era o único a implicar com Rodrigo → INCORRETO. Não foi o único, outras pessoas também implicavam com ele.
    (F) Na frase “O pai atravessou a sinaleira”, a expressão sublinhada pode ser trocada por “colidiu com a sinaleira” → INCORRETO. Atravessar e colidir não possuem significados semelhantes.
    (V) Está correto o uso da crase em: “Ela se referiu àquele garoto e parecia alheia às outras questões” → CORRETO. Referiu-se a alguém (preposição "a" regida pelo verbo) + pronome demonstrativo "aquele"= crase= àquele. Alheia a alguma coisa (preposição "a" regida pelo adjetivo) + artigo definido "as" que está acompanhando o pronome indefinido "outras"= crase= às outras), usamos termos masculinos para ter certeza: alheia aos filhos.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • antes de pronomes indefinidos a crase não é proibida?